Sandro Faria Gimenes, superintendente da Seap, preso na sede da Polícia Federal em operação realizada na terça-feiraReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Na conversa com “FB”, o então secretário Raphael Montenegro afirma não se importar se presos de alta periculosidade como Abelha, Xará, Marcinho do Turano, entre outros, empreendem ações criminosas fora da cadeia. Segundo as investigações, o objetivo era negociar a transferência dos presos para o Rio, com a contrapartida de que eles não inflassem a criminalidade nas regiões onde atuam no Rio. As investigações apontam que as negociações eram uma forma de o secretário garantir influência junto aos criminosos a fim de negociar como, onde e de que forma o crime seria cometido no estado. Ainda não se sabe se também havia contrapartida financeira.
Na conversa, o secretário frisa que o que importa a ele é que os criminosos não trouxessem conflitos para dentro do sistema penitenciário, caso fossem transferidos ao Rio: “Então qual minha preocupação... Eu levar o FABIANO de volta pro Rio e o FABIANO quebrasse essa, essa disciplina, quebrar essa forma de trabalhar”. Mais adiante, Sandro Faria Gimenes ou Wellington Nunes da Silva intervêm, segundo o documento do desembargador. Porém, não há certeza sobre qual dos dois pronunciou as frases.
“SANDRO FARIA ou WELLINGTON - ‘Lembrando sempre que o que sai da nossa boca não volta mais correto?’
SANDRO FARIA ou WELLINGTON - ‘Por isso que nós estamos aqui, porque os três aqui tem palavra.’”.
“Nota-se que a grande preocupação de Raphael, Sandro e Wellington é com a repercussão que o retorno do preso irá causar. A apreensão, não se sabe exatamente por qual motivo, é que não haja incremento da atividade criminosa nas áreas em que os detentos sempre atuaram, para que não chame a atenção das autoridades de segurança pública”, destaca o desembargador no documento. O diálogo com “Tineném” não está transcrito na decisão do TRF-2.
“Ademais, não soa minimamente crível que SANDRO e WELLINGTON, pessoas de confiança de RAPHAEL, tenham ido pessoalmente à Penitenciária Federal de Catanduvas sem que não tivessem conhecimento do que seria abordado pelo Secretário e quais eram as intenções deste ao entrevistar os presos de altíssima periculosidade”, argumenta ainda.
Outros indícios apontam que o subsecretário e o superintendente tinham participação nas irregularidades. Em sua decisão, o desembargador federal Paulo Cesar Morais Espírito Santo frisa que, em julho deste ano, o então secretário Raphael Montenegro e seus subordinados, Sandro Faria e Wellington Nunes, realizaram visitas de cortesia ao preso Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como “Abelha”. E “autorizaram a entrada de itens proibidos (bolo, refrigerante, salgados) no dia 24/07 para a comemoração do aniversário do detento”. Abelha foi o bandido que saiu pela porta da frente do Complexo de Gericinó, em Bangu, no dia 27 de julho, mesmo com mandado de prisão ativo, conforme O DIA noticiou com exclusividade antes da exoneração e prisão do secretário.
O desembargador afirma ainda que, além de Raphael, Sandro e Wellington também teriam cometido supostamente o crime de associação ao tráfico internacional de drogas, “uma vez que há nítido ajuste entre o secretário de Estado, seus assessores e os presos, com o objetivo de que a traficância, há muito perpetrada pelos detentos, continue a todo vapor, inclusive com criação por parte dos agentes públicos de mecanismos facilitadores para o fomento das atividades ilícitas, como a permissão para a entrada de celulares nas penitenciárias”.
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