Luiz Carlos dos Reis Príncipe Júnior e Clébia Conserva Barros Gondim são presos durante Operação Blood MoneyMARCOS PORTO/AGÊNCIA O DIA
Polícia prende 15 em operação contra a milícia; bando lavava dinheiro até com criptomoedas
Ação cumpriu mandados de prisão temporária contra grupo que usava empresas do ramo de construção para lavar dinheiro dos milicianos locais. Em 2019, prédios da milícia desabaram na Muzema e 24 pessoas morreram
Rio - Empresas de construção civil e até a compra de criptomoedas (moedas digitais) eram utilizados para lavar o dinheiro da milícia que atua na Muzema e em Rio das Pedras. Esta é a conclusão das investigações da 18ª DP (Praça da Bandeira), que deflagrou nesta quinta-feira (23) a operação Blood Money. Ao todo, 15 pessoas foram presas dos 23 mandados expedidos. Parte do grupo já estava na prisão desde a Operação Intocáveis, em 2019.
Dos 23 alvos, seis já foram denunciados na Operação Intocáveis I, que mirou, em 2019, a milícia liderada pelo ex-PM Adriano da Nóbrega, o Capitão Adriano, morto na Bahia em 2020. Com alguns dos alvos, agentes encontraram contratos de compra de criptomoedas. O investimento em bitcoins, segundo a Polícia Civil, é uma das novas técnicas usadas pelos milicianos para lavar o dinheiro ilícito.
O ramo imobiliário também recebia dinheiro ilícito. Dois nomes, Luiz Carlos dos Reis Príncipe Júnior e Clébia Conserva Barros Gondim, são sócios de uma empresa de construção civil que tinha apartamentos no condomínio da milícia onde prédios desabaram em abril de 2019, deixando 24 mortos.
"São sócios da empresa que atua no ramo das construções na região da Muzema e Rio das Pedras. Elas não construíram propriamente no imóvel que caiu, mas construíram apartamentos no mesmo condomínio", explicou o delegado Moysés Santana, titular da 18ª DP (Praça da Bandeira).
"Todas as empresas que atuavam na compra, venda, desmatamento estavam transacionando, movimentando altos valores financeiros sem possuir lastro para isso, claramente realizando atos para lavar esses capitais, como mescla do capital ilícito com lícito, compra de criptomoedas. Apreendemos vários contratos de transferências de aquisição de criptomoedas", completou o delegado.
Dois dos principais alvos são Laerte Silva de Lima e Francisco das Chagas de Brito Castro. Segundo as investigações, Laerte e Francisco, juntos, movimentaram cerca de R$ 8,5 milhões em pouco mais de um ano. As transações eram realizadas com outros integrantes da milícia local, e os valores não são compatíveis com o trabalho formal de cada um. Francisco, que movimentou cerca de R$ 7,5 milhões, relatou trabalhar como encarregado de obras, com salário de R$ 4 mil. Laerte afirmou ter diferentes ocupações, "nenhuma delas capaz de justificar a movimentação de quase R$ 900 mil", aponta a 18ª DP.
Laerte, apontado como miliciano da região e que já estava preso desde na Operação Intocáveis, e sua ex-esposa, Erileide Barbosa, presa na operação Intocáveis II, se filiaram ao PSOL em 2017, um ano antes da morte da ex-vereadora Marielle Franco, ainda investigada pela Polícia Civil.
A Polícia Civil pediu o bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras que chegam ao valor de R$ 8,3 milhões.
Os mandados foram expedidos para Luiz Carlos dos Reis Príncipe Júnior, Clébia Conserva Barros Gondim, Leôncio Teixeira Miranda, Anderson de Assumpção Varela, Patrick Muniz Pereira, Maykel Muniz Pereira, Gerardo Alves Mascarenhas, Antônia Cardoso Almeida, Manoel de Brito Batista, Maria José de Souza, Júlior César Veloso Serra, Wanderson Ferreira Serra, Daniel Alves de Souza, Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, Bruno Pupe Cancella, Isamar Moura, Adginaldo dos Santos, Cíntia Bernardo da Silva, Rafael Gomes da Costa, José Bezerra de Lira, Juscelino Sales da Silva, Francisco Chagas da Silva e Laerte Silva de Lima.
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