Decisão do prefeito de Caxias em desobrigar o uso de máscaras em locais abertos e fechados divide opiniões de moradoresReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Um dia após a publicação do decreto municipal que desobriga o uso de máscaras tanto em ambientes fechados quanto abertos, moradores de Duque de Caxias ficaram com as opiniões divididas nas ruas. Especialistas, ouvidos pelo O DIA, disseram que ainda não é o momento para flexibilizar o uso do item de proteção e preveem consequências para a população.
Uma equipe do DIA esteve no Centro de Caxias na manhã desta quarta-feira e observou que muitas pessoas já passaram a aderir o novo decreto, enquanto outras seguem utilizando a máscara. Além daqueles que usam o acessório de maneira errada: no queixo. Em entrevista à Rádio Tupi, o prefeito Washington Reis comentou a decisão e disse que "quem quiser, que use a máscara".
Segundo Washington Reis, a liberação veio com o alto número de pessoas vacinadas contra a covid-19. No entanto, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que apenas 40,88% da população do município está com o esquema vacinal completo.
A promotora de dentista, Fernanda Gabriela, de 28 anos, disse que apesar do item causar incômodo, a máscara ainda deve fazer parte da rotina da população. "A doença ainda não acabou e ninguém sabe quem pode estar contaminado. É chato, mas tem que usar".
Já Augusto Rangel, de 24 anos, classifica o uso do item de proteção como ruim, mas necessário. "Eu não concordo muito com a máscara até porque ninguém gosta de usá-la. Além dela sufocar, ela faz você inalar seu próprio ar. Se você tiver contaminado, você vai inalar seu próprio ar, dificultando fazer a passagem de ar. Mas também penso que devemos usar a máscara até pelo menos janeiro que aí a maioria da população já vai estar vacinada com a segunda dose".
Segundo o decreto, não é mais obrigatório usar a máscara em local aberto ou fechado. No entanto, Rafaela Medeiros, de 19 anos acredita que o item deveria continuar sendo usado dentro das lojas, mas em ambientes abertos, de acordo com ela, é desnecessário.
Por outro lado, há quem concorde com o novo decreto. É o caso do aposentado Marcos Francisco, de 54 anos. "O prefeito não foi um ditador. Pelo o que você observa aqui no município, as pessoas estão usando a máscara, que é uma coisa pessoal de cada um. Eu estou usando a máscara, mas se fosse uma coisa ditadora eu creio que ninguém iria cumprir. A responsabilidade é de cada um. Se a pessoa não está usando, ela é responsável pelos atos dela. Na minha opinião, o prefeito não impôs nada, não coagiu ninguém".
Joel Soares, de 56 anos, disse que não vai ser a máscara que vai impedir alguém de ser contaminado com qualquer tipo de doença. "Eu concordo completamente com o prefeito, não há necessidade nenhuma. Todo mundo que eu conheço está trabalhando normalmente. A doença veio e não escolhe terreno. Não tem esse negócio de máscara, sem máscara, quem tem que pegar, pegou, quem tiver que pegar, vai pegar".
A proteção será exigida quando uma pessoa estiver infectada pelo novo coronavírus ou suspeitar que possa ter sido contaminada pela doença.
Em nota, Caxias informou que já aplicou mais de 900 mil doses das vacinas contra o novo coronavírus. De acordo com dados da prefeitura, o número de aplicações de primeira dose já ultrapassou a marca de 70% do público alvo. Já em relação a segunda dose, o município disse que, até o momento, 46,8% da população está totalmente imunizada. 
Desde o início da pandemia, o município vem sendo palco de algumas polêmicas. Uma delas aconteceu em abril deste ano, quando um vídeo mostrou Washington Reis aplicando a vacina contra a covid-19 em um homem. Na época, a prefeitura disse, por meio de uma nota, que o ato foi uma "encenação". A campanha de imunização em Caxias foi marcada por desorganização, filas e muita aglomeração.
O que dizem os especialistas
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, essa medida não tem nenhuma evidência científica que suporte tal decisão. "É uma taxa de cobertura vacinal muito baixa para se justificar qualquer medida desse tipo, principalmente sobre a retirada da obrigação do uso de máscara em locais fechados".
A presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia-Rio, Tania Vergara, diz que ainda não é o momento para flexibilizar o uso da máscara e prevê consequências danosas. "Eu vejo como tentar escapar do trem correndo na frente dele. É provável que dê errado e que o desfecho seja desastroso e a conta será paga pela população. É muito difícil determinar esse risco, mas a medida vai contra as orientações dos epidemiologistas".
O Ministério da Saúde não recomenda a desobrigação de máscaras. Até o momento, não há data definida para que proteção deixe de ser adotada nacionalmente.
Flexibilização em outros municípios
Na capital, o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, confirmou o plano da prefeitura de liberar o uso de máscaras em locais abertos da cidade quando 65% da população atingir o esquema vacinal completo - com as duas doses, ou dose única. Segundo ele, isso só acontecerá com acompanhamento dos dados epidemiológicos e está previsto para daqui a dez ou 15 dias. O Comitê Científico do município prevê para 15 de outubro a liberação do item de proteção.
A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que o uso de máscara facial ainda é recomendado em ambientes públicos na cidade. 
A Prefeitura de São João de Meriti também esclarece que irá manter o decreto atual e ratifica a importância do uso de máscaras. "Mesmo com 80% da população vacinada, a retirada do uso de máscaras ainda é, por nós, considerada precoce".
O município de Queimados disse não pretende liberar o uso de máscara até que 70% da população esteja completamente imunizada. "Essa regra será sempre reavaliada de acordo com o cenário de imunização. No momento, 39% da população está completamente imunizada".

O fim da exigência do uso de máscaras em Niterói, em locais abertos apenas, está previsto para janeiro de 2022, quando a cobertura vacinal completa da população da região Metropolitana II chegar a 100%. Mesmo nessa fase, o uso de máscaras continuará obrigatório para pessoas pertencentes a grupos de risco para covid-19.
* Colaborou Reginaldo Pimenta