Dos nove mortos identificados no Salgueiro, cinco possuem passagem pela polícia
Moradores recolheram oito corpos em área de manguezal, nesta segunda-feira. No domingo, houve a morte de outro homem apontado como o responsável pelo assassinato de um PM
Corpos encontrados em área de mangue no Complexo do Salgueiro - Marcos Porto/Agencia O Dia
Corpos encontrados em área de mangue no Complexo do SalgueiroMarcos Porto/Agencia O Dia
Dos nove homens mortos no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no último fim de semana, cinco possuíam passagem pela polícia e quatro deles não tinham antecedentes criminais. Oito deles foram encontrados em uma área de mangue por familiares, um dia após um policial ser morto na região, durante ação do Bope (Batalhão de Operações Especiais). No confronto de domingo, um homem identificado como Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, também foi baleado e morreu no hospital. Ele foi reconhecido pelo PMs como o responsável pelo assassinato do agente morto no sábado, na localidade.
Segundo a contagem de vítimas da Polícia Civil, pelo menos cinco dos mortos encontrados no mangue possuem antecedentes criminais. Parte do grupo estava vestida com roupas camufladas. Igor da Costa Coutinho, que morreu no hospital após o confronto de domingo, não possuía antecedentes.
Na ficha criminal, a maioria tem passagem por tráfico de drogas. Há também anotações como receptação, homicídio, uso de documento falso, entre outros crimes.
Os mortos foram identificados como:
- Carlos Eduardo Curado de Almeida, de 31 anos. Com passagem pela polícia por tráfico, receptação, uso de documento falso, desobediência e ameaça;
- Élio da Silva Araújo, de 52 anos. Com passagens pela polícia, ele respondeu a processo por esbulho possessório, quando possuidor de um bem tem sua posse tomada de forma injusta, seja de forma violenta, seja de forma clandestina ou irregular, mas sem o uso de força;
- Ítalo George Barbosa de Souza Rossi, de 33 anos. Com passagens pela polícia porte ilegal de arma de fogo, homicídio qualificado, associação para o tráfico e corrupção ativa;
- Jonathan Klando Pacheco Sodré, 28 anos. Com passagens pela polícia por anotações por roubos e tráfico no Pará;
- Rafael Menezes Alves, de 28 anos. Com passagem pela polícia, ele citado em investigação que apurava tráfico de drogas e corrupção de menores;
- Kauã Brenner Gonçalves Miranda, 17 anos. Sem passagem pela polícia;
- David Wilson Oliveira Antunes, 23 anos. Sem passagem pela polícia;
- Douglas Vinicius Medeiros da Silva, 28 anos. Sem informações sobre passagem pela polícia.
O confronto
Os corpos foram encontrados por moradores da comunidade na manhã de ontem, um dia após uma operação realizada na região. A Polícia Militar entrou na comunidade na quinta-feira (18) e registrou confrontos durante três dias. No sábado (20), o sargento da PM, Leandro da Silva, foi baleado no local após um ataque de criminosos. Ele chegou a ser socorrido para um hospital, mas não resistiu ao ferimento e morreu.
No domingo (21), o Bope foi enviado para a comunidade, após a PM dizer que recebeu informações de que um criminoso ferido e com envolvimento na morte do policial ainda estava no conjunto de favelas. Um intenso confronto ocorreu na região e os suspeitos se abrigaram na mata, onde foram localizados mortos no dia seguinte. Um outro homem, identificado com Igor da Costa Coutinho, de 24 anos, ficou ferido. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. A ocorrência foi registrada na 73ª DP (Neves).
O Ministério Público já instaurou processo investigatório sobre a chacina. De acordo com os números oficiais, dez pessoas morreram no final de semana no Complexo do Salgueiro: Além dois oito homens retirados do mangue, morreram o sargento da PM e um suspeito, no sábado (20), e Igor da Costa Coutinho.
Chacinas
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, somente em São Gonçalo, desde julho de 2016, foram mapeadas 47 chacinas, com 169 mortos no total. Segundo o levantamento, 35 delas ocorreram durante ações e operações policiais, que resultaram em 121 mortos. No Complexo do Salgueiro, houve 11 chacinas em pouco mais de cinco anos: quase metade delas (5), somente este ano.
“O que aconteceu nesse final de semana no Complexo do Salgueiro é uma tragédia, mas não uma exceção. Estamos falando de tragédias que se repetem a cada dois meses”, pontua Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado.
Ainda de acordo com o Fogo Cruzado, em 2021, foram registradas 59 chacinas na Região Metropolitana do Rio que terminaram com 242 mortos no total. De total, 3 em cada 4 chacinas (43) ocorreram em ações e operações policiais, resultando em 184 mortos ao todo.
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