Como apagar- parte - das marcas da violência doméstica
A violência de gênero tem números alarmantes no Brasil. Quando não há fatalidade, as vítimas carregam as marcas psicológicas e emocionais – e precisam de ajuda profissional, como psicólogos e terapeutas em geral. Recentemente, a hipnose passou a ser uma opção para essas mulheres, como explica Michael Arruda, que usa a técnica para livrar as pacientes de fobias e traumas
Rio - A partir de 2006, com a chegada da Lei Maria da Penha, ficou mais claro para a sociedade perceber a violência de gênero. Quando não há fatalidade, as vítimas carregam as marcas psicológicas e emocionais. Nessa hora, é imprescindível uma ajuda profissional, como psicólogos, terapeutas em geral e, mais recentemente, as vítimas têm buscado ajuda na hipnose. Para o hipnoterapeuta Michael Arruda, a técnica, que nem sempre vem à cabeça quando se procura ajuda para superar os traumas decorrentes da violência doméstica, pode ser uma boa saída para essas mulheres.
"Na mente de muitas dessas mulheres, registros traumáticos se instalam, o que acarreta sentimento de culpa, depressão, vergonha, medo, ansiedade, frustração, síndromes, fobias, pânicos, sintomas físicos (vistos na pele, cabelos etc) e até mesmo negação à própria violência. Além desses aspectos, a pessoa vive conflitos de relacionamentos sociais, pessoais, e isolamento e inseguranças fazem com que cada vez mais a pessoa se vitimize e se sinta infeliz. O tratamento com a hipnose direciona o estado mental da pessoa para superar esse trauma", comenta Michael Arruda, presidente da OMNI Brasil, centro de treinamento de Hipnoterapia.
Cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual no país em 2020, de acordo com o Instituto Datafolha. No ano passado, os observatórios e instituições que cuidam do assunto alertaram para o aumento de casos por conta da quarentena. Até porque a maioria dos agressores são pessoas próximas da vítima – muitas vezes, é seu parceiro íntimo. Dados do Instituto de Segurança Pública – ISP, mostram que mais de 98 mil mulheres foram vítimas de violência doméstica e familiar no Estado do Rio de Janeiro entre janeiro e outubro de 2021. Isso significa cerca de 270 casos por dia, ou 11 vítimas por hora.
Mal planetário Infelizmente, esse é um mal global. Segundo dados da Organização das Nações Unidas – ONU, um quarto das mulheres no mundo, a partir dos 15 anos, são vítimas da violência de gênero. Enquanto são criadas leis para punir e inibir os agressores, além de estruturas governamentais de apoio e a conscientização da sociedade, é aconselhável que o quanto antes as que já sofreram violência se livrem dos traumas decorrentes da experiência. De acordo com Michael, a hipnose é uma técnica é efetiva, rápida e definitiva, já que são removidas as cargas emocionais negativas e são desvinculados os registros ou experiências traumáticas.
“A hipnose não apaga a memória do paciente, mas auxilia para que as lembranças não afetem mais a qualidade de vida. Após o tratamento, mesmo que alguém questione a vítima sobre o fato da violência doméstica, imediatamente a lembrança virá à mente, mas sem nenhuma emoção negativa do fato em si", diz.
Acolhimento e entendimento As delegacias especializadas de atendimento a mulheres (Deam), que possuem 14 unidades no Estado do Rio, contam com psicólogos, porque é sabido que a agressão física deixa marcas profundas, além dos casos de tortura psicológica. Muitas vezes, o Estado do Rio mantém esses profissionais na Deam por meio da realização de convênios e acordos com os governos municipais e universidades – é válido todo esforço para recuperar essas mulheres interiormente.
Para a terapeuta sistêmica Vera Mendes, que já atuou junto a um grupo de atendimento a mulheres, é importante também que a sociedade entenda como se processam essas relações até que aconteça um episódio de agressão doméstica ou uma tentativa de feminicídio. Para ela, a chave é a comunicação. Estar atento a certos sinais é importante para evitar que a agressão chegue a se concretizar.
“A violência vem quando a palavra não dá conta. O que não é exposto em palavras, acaba culminando em ações. Se mapearmos o que aconteceu antes da violência, descobrimos que o agressor já tinha dados sinais, como bater um portão com força, quebrar um objeto jogando-o na parede, ações desse tipo”, exemplifica.
Vera também chama a atenção para estruturas familiares. “Em algumas famílias, a violência como expressão é naturalizada. Por isso é tão importante que todos se conscientizem dessas situações para entenderem que não é o caminho natural e fiquem alertas e alertem que está dentro desse círculo”, explica a terapeuta.
Como denunciar Se você perceber que alguma mulher está sofrendo violência doméstica, o número da Central de Atendimento à Mulher é 180, válido em todos os estados e no exterior. O serviço funciona 24h e recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. A ligação é gratuita.
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