Emergência do Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, está fechada. Quase metade dos funcionários foram afastados por Covid-19Marcos Porto/Agencia O Dia
Na unidade de média e alta complexidade do Hospital Federal do Andaraí (HFA) cerca de 300 funcionários estão afastados por conta da covid-19, segundo o SindsPrev/RJ. Entre os serviços prestados estão os de oncologia, microcirurgia, cirurgia plástica, suporte a grandes traumas e Unidade de Terapia Coronariana. Também possui um Centro de Tratamento de Queimados que é referência em todo o estado, atendendo pacientes desde a emergência até a intervenção cirúrgica.
Somente na Emergência, dos 117 que atuavam no setor, 35 testaram positivo para covid. É o que afirma a diretora regional do SindsPrev/RJ e funcionária do Cardoso Fontes, Christiane Gerado. "O quadro é muito delicado, devido ao aumento exponencial da contaminação, e isto tem impactado fortemente os hospitais", explicou.
Christiane acrescentou que a rede federal, que recebe casos de alta complexidade, já vivia uma situação precária e com os afastamentos o cenário se agravou ainda mais.
"A rede federal passa por sérias dificuldades devido a não realização de concurso e ao corte de pessoal ocorrido ano passado. São mais de 15 mil profissionais de déficit na Saúde. Não temos profissionais para formar escala. Já vivíamos nos nosso limite e aí, num momento pandêmico, o que acontece é isso: o desmonte e fechamento de serviços. Os profissionais que não estão afastados por Covid estão trabalhando sobrecarregados para compensar a falta de pessoal".
Cirurgias eletivas afetadas
A falta de profissionais na rede federal de Saúde começou a afetar também a realização de cirurgias eletivas, embora a Superintendência do Ministério da Saúde no Rio garanta que até o momento o serviço não tenha sido suspenso.
No Hospital Federal de Bonsucesso a redução de cirurgias já chega a 85%. Por falta de profissionais, realizou, na primeira quinzena de janeiro, apenas 30 cirurgias. De acordo com Júlio Noronha, médico e coordenador do corpo clínico da unidade, em um período de 15 dias com o funcionamento em sua máxima capacidade normalmente são realizadas 200 cirurgias.
![Hospital Federal de Bonsucesso - Estefan Radovicz / Agência O Dia](https://odia.ig.com.br/_midias/jpg/2019/07/18/180719001-12129743.jpg)
"O número de cirurgias eletivas é uma coisa pífia, é uma vergonha. Só de anestesistas tivemos uma baixa de 35 afastamentos por covid, faltam enfermeiros. Toda a parte cirúrgica eletiva foi afetada. Estamos fazendo o máximo que se pode diante deste cenário, mas está difícil".
Sidney Castro, diretor do Sindsprev/RJ, informou que serviços de oncologia, transplante renal, transplante de córnea, ginecologia são os mais afetados até o momento.
"A situação está um caos. Desde julho de 2021, quando 4.117 funcionários tiveram seus contratos encerrados, a situação é preocupante. Os contratos não foram renovados e o certame prometido não foi aberto. Os profissionais da Saúde estão dando a vida pela vida. Trabalham sobrecarregados, em condições precárias e, ainda assim, não têm valorização profissional e valorização salarial. Está insustentável", diz.
Castro defendeu a vacinação e afirmou que grande parte das pessoas que estão internadas não se vacinaram. "Fica aqui meu apelo para que as pessoas se vacinem, sim. É muito importante a vacina. Outra questão que me preocupa são as aglomerações. Temos que voltar a nos cuidar, a evitar aglomerações, a usar máscara".
Problemas se arrastam no Hospital de Bonsucesso
No Hospital Federal de Bonsucesso, a situação já vem se arrastando. Desde o incêndio na unidade, em outubro de 2020, denúncias sobre falta de profissionais e condições de trabalho são constantes. O que já era ruim, ficou pior com a baixa de mais 280 funcionários afastados por covid-19. O setor de estabilização (que atende emergência dos pacientes ambulatoriais da unidade) está fechado.
"Desde que reabrimos o hospital, na marra, estamos trabalhando com menos de 100 leitos e com pouca gente. Os trabalhadores temporários que saíram, em julho de 2021, até hoje não foram repostos. Nós estávamos funcionando muito precariamente antes. Agora então, com os afastamentos de covid, estamos quase fechando as portas. Temos muitos residentes da clínica médica e cerca de dez médicos da estabilização estão afastados, todos com covid. A situação se agravou agora por conta da pandemia, mas já vinha em uma situação precária desde 2020", relata Noronha, coordenador do corpo médico de Bonsucesso.
Se forem contabilizados os 400 funcionários que tiveram contratos encerrados em 2021, somados aos que estão afastados, o Hospital Federal de Bonsucesso funciona atualmente com um déficit de ao menos 680 profissionais, segundo o médico Júlio Noronha.
"Para colocar 300 leitos que estão parados em funcionamento a gente precisaria de, no mínimo, 35 anestesistas, aproximadamente 60 médicos clínicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem é preciso de ao menos uns 300 para abrir leitos. Entre médicos especialistas precisaria de no mínimo dez profissionais. Só para transplante cardíaco seriam necessários outros dez profissionais. Essa é uma conta do mínimo, uma conta rasteira. Faltam ainda cerca de dez colhedores de sangue e técnicos de radiologia intervencionista".
Na próxima terça-feira, às 10h, haverá um ato público em frente ao Departamento de Gestão Hospitalar, no prédio do Ministério da Saúde, no Centro do Rio. Servidores da rede federal reivindicam aumento salarial.
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