Viviane e Alauir Mattos de Faria chegaram na DH para prestarem depoimento sobre o caso do congolês Moïse Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
PM dono do quiosque Biruta chega para prestar depoimento sobre a morte do congolês Moïse
Além do policial, sua irmã, que também é proprietária do estabelecimento, está na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para ser ouvida
Rio - O cabo da Polícia Militar, Alauir Mattos de Faria, e sua irmã, Viviane, chegaram por volta das 10h20 para prestar depoimento à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Eles são donos do quiosque Biruta, onde o congolês Moïse Kabamgabe trabalhava, assim como um dos seus agressores. Agentes da Corregedoria da Polícia Militar estiveram na DHC.
Os agressores, identificados como Fábio Pirineus da Silva, conhecido como Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, de apelido Tota, foram presos, temporariamente, por 30 dias, nesta quarta-feira. Os três foram indiciados pela DhC pelo assassinato, duplamente qualificado, de Moïse. As qualificações foram por conta do meio cruel e por não ser possível a defesa da vítima.
Moïse, que entrou no Brasil como refugiado, em 2011, teve as mãos e os pés amarrados e foi espancado com um porrete de madeira até a morte no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, no dia 24 de janeiro. Uma perícia no corpo de Moïse indica que a causa da morte traumatismo do tórax com contusão pulmonar e também vestígios de broncoaspiração de sangue. O documento revela lesões concentradas nas costas e o tórax aberto, com os órgãos dentro.
Na versão dos presos, o espancamento ocorreu após Moïse tentar pegar cerveja do quiosque Tropicália, onde já havia trabalhado, e ameaçar um funcionário idoso, de nome Jaílson.
No entanto, a família afirma que a briga teria começado após ele cobrar diárias atrasadas. A motivação para o crime ainda é apurada pela Polícia Civil.
Ameaças
A família de Moïse Kabagambe afirmou, nesta quarta-feira, que foi intimidada por dois policiais militares quando tentava buscar informações sobre o crime. A informação foi dada pela "Folha de S.Paulo".
De acordo com os relatos dados à "Folha", as supostas intimidações teriam acontecido três vezes, dias depois do crime, quando o caso ainda não tinha se tornado público. Os parentes contaram que estavam fazendo perguntas ao dono e ao funcionário do quiosque Tropicália e, depois, a uma mulher de outro quiosque. Os PMs, segundo a família, interferiram nos questionamentos.
"O policial fardado com arma, pedindo seu documento com aquele tom de voz, daquele jeito da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Eu sou negro, já passei por batida policial quando estava com uniforme de serviço indo trabalhar, aí você não está uniformizado, começam a te perguntar... quem não fica intimidado?",disse um tio do congolês à "Folha".
A reportagem do DIA procurou a PM para esclarecer as acusações, mas a corporação se limitou a dizer que "todas as questões pertinentes ao caso estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital".
Protesto
Cerca de 50 jovens realizaram uma manifestação, na madrugada desta quinta-feira, na Avenida Lúcio Costa, em frente ao quiosque Tropicália. No ato, eles pediam justiça pelo congolês e outras vítimas de racismo no Brasil.
Vestidos de preto, os integrantes do movimento "Levante Popular da Juventude" ocuparam uma faixa da via e colocaram fogo em pneus.
Neste sábado, haverá outra manifestação às 10h, em frente ao quiosque Tropicália. O protesto está sendo organizado pela família e toda a comunidade congolesa localizada no Estado do Rio de Janeiro.
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