Familiares de Moïse Kabamgabe em reunião com a Comissão de Direitos Humanos da OAB Bruno Mirandella / Divulgação

Rio - A família de Moïse Kabagambe afirmou, nesta quarta-feira, que foi intimidada por dois policiais militares quando tentava buscar informações sobre o crime. O jovem, que entrou no Brasil como refugiado, em 2011, teve as mãos e os pés amarrados e foi espancado com um porrete de madeira até a morte no quiosque Tropicália, na Praia da Barra, Zona Oeste do Rio, no dia 24 de janeiro. A informação foi dada pela "Folha de S.Paulo".
De acordo com os relatos dados à "Folha", as supostas intimidações teriam acontecido três vezes, dias depois do crime, quando o caso ainda não tinha se tornado público. Os parentes contaram que estavam fazendo perguntas ao dono e ao funcionário do quiosque Tropicália e, depois, a uma mulher de outro quiosque. Os PMs, segundo a família, interferiram nos questionamentos.
"O policial fardado com arma, pedindo seu documento com aquele tom de voz, daquele jeito da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Eu sou negro, já passei por batida policial quando estava com uniforme de serviço indo trabalhar, aí você não está uniformizado, começam a te perguntar... quem não fica intimidado?", disse um tio do congolês à "Folha".
A reportagem do DIA procurou a PM para esclarecer as acusações, mas a corporação se limitou a dizer que "todas as questões pertinentes ao caso estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital".
Investigação
Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) vão ouvir o depoimento, nesta quinta-feira, de um cabo da Polícia Militar, lotado no 9ºBPM (Rocha Miranda). Ele é dono do quiosque Biruta, onde Moïse Kabamgabe trabalhava, assim como um dos seus agressores. A família de Moïse alega que as agressões ao congolês foram motivadas após ele cobrar diárias de trabalho não pagas. Além do policial, sua irmã, que também é proprietária do estabelecimento, irá prestar depoimento.
Os agressores, identificados como Fábio Pirineus da Silva, conhecido como Belo; Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; e Brendon Alexander Luz da Silva, de apelido Tota, foram presos, temporariamente, por 30 dias, nesta quarta-feira. Moïse, que ingressou no Brasil como refugiado de guerra, em 2011, trabalhava de forma informal para se sustentar.
Na versão dos presos, no entanto, o espancamento ocorreu após Moïse tentar pegar cerveja do quiosque Tropicália, onde já havia trabalhado, e ameaçar um funcionário idoso, de nome Jaílson. A motivação para o crime ainda é apurada pela Polícia Civil.
Moïse morreu por espancamento no quiosque Tropicália, vizinho ao bar Biruta, onde ele trabalhava. O Samu constatou sua morte por volta das 23h e, após a perícia, seu corpo foi removido para o IML às 3h, do dia 25 de janeiro.
Protesto
Vestidos de preto, os integrantes do movimento "Levante Popular da Juventude" ocuparam uma faixa da via e colocaram fogo em pneus.
Neste sábado, haverá outra manifestação às 10h, em frente ao quiosque Tropicália. O protesto está sendo organizado pela família e toda a comunidade congolesa localizada no Estado do Rio de Janeiro.