Jovem deixou padaria com saco de pão antes de ser presoReprodução/Voz das Comunidades
"Yago é um menino muito tranquilo, muito prestativo. Inclusive, ele se disponibilizou para sair do churrasco para comprar o pão. Yago foi até a padaria da comunidade, entra na padaria para poder buscar o pão e sai da padaria. Quando chegando em torno da farmácia, houve uma correria. Yago se abriga, como todo mundo correu para se abrigar, para se proteger. Yago corre e se abriga na farmácia. Os 'polícia' chegam, 'vê' Yago dentro da farmácia com o saco de pão na mão, a qual nós temos acesso às câmeras. Yago é puxado, arrastado para fora da farmácia com o saco de pão na mão. O pão é jogado fora, chutado e Yago Corrêa de Souza é associado ao tráfico de drogas", relatou a irmã.
Desde sua prisão, parentes e amigos tentam comprovar que ele não tem envolvimento com o tráfico de drogas. O estudante afirmou na delegacia que não conhecia o adolescente detido com drogas e disse que estava comprando pão para um churrasco, quando foi abordado pelos policiais. A versão foi corroborada por familiares que procuraram a delegacia e por amigos que estavam na confraternização e foram chamados para depor.
"Ao chegar na delegacia, Yago já tinha sido fichado como traficante de drogas. Quando a gente chega na delegacia para tentar provar a inocência, já tinha o boletim de ocorrência de Yago traficante. A gente começa a buscar provas, começa a perguntar se havia possibilidade dos amigos que estavam no churrasco comparecerem à delegacia. O delegado aceita e os amigos na mesma hora se disponibilizam, vão à delegacia, deixam documento, identidade, mostram fotos e aí o delegado começa a entender que pode estar havendo uma injustiça", contou Érica, que soube da prisão por uma amiga da família, que acompanhou o jovem para evitar que ele fosse vítima de violência.
"Uma amiga nossa que estava ali, que conhece o Yago desde pequeno, acompanhou todo o ocorrido e pediu para o esposo dela ir nos avisar. Ali, eles tomaram conhecimento e acompanharam o Yago atrás dos policiais para que não acontecesse algo pior, porque moramos na comunidade e sabemos que há covardia de policiais dentro das comunidades, nos becos e vielas."
A Polícia Civil, inicialmente, pediu a conversão da prisão em flagrante, em preventiva. Mas reviu a decisão após reconhecer que há "dúvida razoável" sobre a prática de crime por parte de Yago. Os policiais disseram em conversa informal que ele "talvez estivesse no lugar errado na hora errada". Nesta terça-feira (8), familiares aguardam pela audiência de custódia que pode soltar Yago, a partir das 13h, na porta da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, também na Zona Norte.
A comunidade do Jacarezinho foi escolhida para receber o programa Cidade Integrada do Governo do Estado. No último dia 19, houve uma operação com 1,2 mil policiais na favela com as polícias civil e militar para implementação do projeto que promete não repetir as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) e levar infraestrutura, educação, trabalho e segurança para as comunidades.
"Há nove anos atrás, acompanhamos uma ocupação da polícia, onde nos prometiam melhorias, empregos e não foi o que aconteceu. Então, expectativa a gente não tem nenhuma. A expectativa que a gente tem é de ver inocentes sendo presos, casas invadidas, pessoas de bem que trabalham para construir suas coisas vendo tudo quebrado. Essa é a expectativa, isso é o que a gente tem vivido hoje dentro do Jacarezinho", desabafou Érica.
Em dezembro do ano passado, após passar 20 dias na cadeia, encarcerado por um crime que não cometeu, o estivador Alberto Meyrelles Santa Anna Júnior, de 39 anos, conseguiu deixar a prisão. Ele foi preso em novembro, com base no reconhecimento de uma foto 3x4 de uma CNH sua que havia sido roubada no dia do crime do qual é acusado. Ele é supervisor de uma empresa na Zona Portuária no Rio na qual trabalha de carteira assinada há 20 anos.
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