No dia 2 de fevereiro, o Consup decidiu adiar a volta que havia sido marcada para o dia 7. Marcos Porto/Agência O Dia

Rio - Alunos do Colégio Pedro II voltaram às aulas nesta segunda-feira (14), mas o retorno não aconteceu da maneira que os estudantes queriam. Após a decisão da última sexta-feira (11) do Conselho Superior (Consup), a Instituição realiza a retomada no modelo semipresencial, com divisão em 50% dos estudantes, em grupos A e B, com alternância da presença semanal de cada um dos grupos no turno dos estudantes. O modelo foi na contramão das escolas municipais, estaduais e particulares que começaram o ano letivo presencialmente na última segunda-feira (7).


A insatisfação com a volta semipresencial está estampada na fachada do campus São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, com os cartazes da manifestação de alunos, responsáveis e servidores que aconteceu no sábado (12) e reivindicou o retorno pleno das aulas. Antes da mudança, os alunos estavam indo à instituição a cada 15 dias em horários de contraturno. Mas, no dia 2 de fevereiro, o Consup decidiu adiar a volta que havia sido marcada para o dia 7. 

Mãe de dois alunos do Colégio Pedro II, a dona de casa Rosicleide Maia, de 48 anos, considerou a retomada semipresencial prejudicial para os filhos Ana Paula Maia Salgueiro, 15, aluna do 9º ano, e Felipe Maia Salgueiro, 18, do 2º ano do Ensino Médio. Para ela, assim como nas outras redes de ensino, os cuidados devem ser mantidos, mas as aulas presenciais devem voltar.

"É completamente prejudicial, ficou pior do que antes. O reitor, o Consup, alegam que (o retorno semipresencial) é para não haver aglomeração e a porcentagem de docentes e administrativo com comorbidade. Só que as salas são grandes, dá para ter um afastamento. Se as escolas estaduais, municipais e particulares retornaram e não está havendo contágio, por que no Pedro II vai haver? A escola tem que ser a última a fechar e a primeira a abrir. As crianças já estão vacinadas, é seguir as medidas restritivas que tudo vai dar certo", declarou Rosicleide.

Assim como a dona de casa, o engenheiro civil Eduardo Câmara, 65, pai de um aluno de 14 anos, do 9º ano, teme que os alunos da instituição sejam afetados negativamente pelo ensino híbrido e que fiquem em desvantagem em concursos e vestibulares diante de estudantes dos sistemas público e privado.

"Eu acho um absurdo, uma covardia. Existe o vírus, mas existem os protocolos, então vamos seguir o protocolo e dar aula. A escola é do aluno. Quem vai pagar essa conta? Isso vai refletir amanhã na vida profissional deles, fora o impacto emocional que isso causa. Como um aluno de uma escola de referência, excelência como o Pedro II, vai entrar em desvantagem em um concurso com um aluno da rede particular, porque não teve aula presencial? Faltou boa vontade em oferecer e garantir a aula presencial", desabafou o engenheiro.

Na manhã de hoje, o jovem do 3ª ano do Ensino Médio, Lucas Santoro, 19, soube que poucos alunos do grupo A, previsto para ter aula presencial, iriam à escola nesta segunda-feira e esteve no local para tentar assistir a aula. Ele conta que por ser do grupo B, acabou sendo impedido de entrar na escola, mesmo com a pouca quantidade de estudantes.

"Eu estou incrédulo com essa situação, eu fui barrado do meu direito de estudar. É um sentimento de desesperança, você perde um pouco da fé. Eu sou morador de comunidade e isso aqui (Colégio Pedro II) é algo que muda a vida de qualquer pessoa. A educação muda vidas. Eu vim aqui para estudar e ser barrado porque eu, teoricamente, faço parte de grupo A ou B, isso para mim é uma injustiça, é como um atentado à educação", lamentou Lucas, que é morador da comunidade do Tuiti, em São Cristóvão. "A gente só quer estudar", completou ele.