Thais Oliveira Santos, esposa do vendedor de balas morto por um policial no terminal das barcas em NiteróiAgência O Dia/Cleber Mendes
'Atirou no peito para matar', diz viúva de vendedor de bala morto por policial de folga em Niterói
Ambulante estava juntando dinheiro para conseguir dar uma festa de aniversário de dois anos para a filha; policial diz que tentou impedir um assalto
Rio - Thais Oliveira Santos, viúva do vendedor de balas Iago Macedo dos Santos, de 21 anos, disse na saída da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) que o policial militar Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior atirou com a intenção de matar. Com uma caixa de doces em uma mão e os documentos da vítima na outra, Thais estava bastante abalada com o ocorrido e disse estar com o seu mundo desmoronando. "Ele não cometeu crime nenhum, não sabia que oferecer bala era crime", disse.
Iago saiu de casa no início da manhã desta segunda-feira para vender os produtos no calçadão do terminal das barcas, em Niterói, como fazia todos os dias. No entanto, ele se envolveu em uma discussão com um pedestre e o policial entrou na briga. Uma discussão foi iniciada e o agente de folga disparou contra ele. O filho adolescente de Thais estava no momento do tiro e contou que o PM atirou à queima-roupa no peito de Iago. "Em momento nenhum ele agrediu o homem, ele [o policial] simplesmente bateu no peito dele e atirou para matar, deu um tiro no peito. A minha filha vai fazer dois anos sem o pai e minha vida está desmoronando", disse a viúva bastante abalada.
Thais disse ainda que o autor do disparo, estava andando livremente no interior da DHNSG, quando ela foi buscar os pertences do companheiro. Ela teme que o caso termine sem a devida punição para o policial. "Eu quero justiça, espero que a justiça seja feita e que esse homem seja punido e preso".
O ambulante estava juntando dinheiro para realizar uma festa de aniversário para a filha do casal, no próximo dia 18 de fevereiro. "Ele saiu para conseguir comprar as coisas para a filha e não voltou mais". Amigos de Iago também contaram que o vendedor de bala estava trabalhando bastante nos últimos dias para conseguir dar a festa para a caçula.
"Ele estava lutando, ele saia todos os dias às 5h da manhã para poder vender bala. Todo o dinheiro era para fazer uma festa, com buffet. Infelizmente ele foi oferecer uma bala para uma pessoa e foi chamado de ladrão, ele aumentou a voz para o cara e outra pessoa, que não tinha nada a ver no problema, apenas um policial que não honra a farda, sacou a arma da cintura e deu um tiro. Uma bala dele custa R$ 3 e dois é R$ 5, e a vida dele custa quanto?", indagou o primo da vítima, Jonathan César.
O amigo contou também que havia uma viatura da Guarda Municipal próximo à bilheteria das barcas, onde o crime aconteceu, mas que ninguém fez nada para salvar a vida do vendedor.
A Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária de Niterói informou que está agilizando os trâmites para o sepultamento da vítima. Já a Secretaria Municipal de Direitos Humanos está prestando apoio psicológico, jurídico e assistencial à família e seguirá acompanhando as investigações.
Versão da Polícia Militar
A Polícia Militar informou que, de acordo com informações preliminares, o policial militar de folga interviu em uma tentativa de roubo na Praça Arariboia. Na ação, ainda segundo a PM, Iago teria "investido contra sua integridade, sendo atingido por um disparo".
A 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada e acompanha o caso. O policial que disparou está com um homem, que seria a vítima da tentativa de roubo, prestando depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. A viúva de Yago compareceu à DHNSG, mas já foi embora. Os agentes vão buscar imagens de câmeras de segurança instaladas na região para esclarecer os fatos.
Colaboração de Cleber Mendes
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