Rio,15/02/2022-BARRETO, Niteroi, cemiterio do Marui, enterro do vendedor de balas morto por um policial militar em Niteroi Na foto. velorio de Hyago Macedo .Foto: Cleber Mendes/Agência O Dia Cleber Mendes/Agência O Dia

Rio - O enterro do vendedor de bala Hyago Macedo de Oliveira, de 21 anos, foi marcado sob forte comoção no Cemitério Maruí, em Niterói, nesta terça-feira. Familiares e amigos do ambulante se despediram do jovem, morto por um tiro disparado pelo policial Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior em frente à estação das barcas, também em Niterói. Indignado, o primo de Hyago, Jhonatan Cesar, contou que o jovem havia mudado de vida.
"É difícil ver um jovem de 21 anos cuidando de uma família que não é dele, é difícil ver um jovem se esforçando para fazer uma festa de dois anos para a filha. É difícil ver um jovem que enfrentou a vida passada e que só queria enfrentar a vida nova. A gente quer saber onde vai parar isso", disse ele durante o sepultamento.
O primo lembrou também do sonho de Hyago de dar uma grande festa para a filha. "Ele estava guardando dinheiro para fazer a festa para a filha, com decoração, salão de festas... tudo que ele não teve. Vai ter a festa? A filha pequenininha pergunta pelo pai, e a mãe vai falar o quê? Que o pai viajou? E quando ela crescer? vão perguntar o motivo do pai dela ter morrido", diz. 
Agressões da Guarda Municipal
Um amigo de Hyago que foi agredido e chamado de "macaco" por um guarda municipal também esteve no enterro. Segurando um cartaz pedindo por justiça, o homem, que não se identificou, relembrou a forma agressiva como ele e uma criança de um ano foram tratados durante a manifestação pela morte do ambulante
"A reação não foi jogar spray na gente, mas foi jogar numa criança de um ano. Se um spray de pimenta na minha cara já queima", diz. É ele quem aparece nas imagens correndo e, posteriormente, sendo contido por guardas municipais durante o protesto. Ele havia atirado pedras nas viaturas da Polícia Militar.
"Eu fui agredido e não foi por cassetete, foi por um cabo de ferro que amassou na minha perna. Também tenho marcas no corpo de outros dias. Fui chamado de macaco, tá gravado, e estou sendo seguido", afirmou.
O amigo também relembrou quando precisou ir para o Rio trabalhar, pois ele e Hyago estariam sendo ameaçados por policiais. "Ele [Hyago] estava sendo agredido por três guardas municipais, ameaçaram a  gente e disseram que isso não ia ficar assim. Ele foi vítima de vingança, só não sei o motivo. Esse menino não fazia mal a ninguém".
Passagens pela polícia
Contra Hyago haviam três processos criminais em andamento. Em fevereiro de 2018 ele foi indiciado por furto e em agosto foi indiciado novamente por uma tentativa de furto. Em 2019, o vendedor foi detido por desacato. Na ocasião, os seguranças foram filmados imobilizando e agredindo Hyago dentro de um centro comercial em Niterói.

Em um vídeo que circulou na internet na época feito por uma visitante, três funcionários tentam segurar o jovem, que se solta e vai para cima dos vigias. Um deles revida com um chute, e outro dá um "mata leão" no jovem. Uma quarta segurança tenta impedir a filmagem.

O ambulante é solto depois que clientes se desesperam e começam a gritar. A mulher que grava as imagens diz: "Solta ele, ele está trabalhando, ele não mexeu com ninguém" e depois "eu vou filmar, eu tenho direito".
Segundo o primo, Hyago havia se transformado em um homem trabalhador e responsável. "Não é porque ele teve um passado que ele não pode mudar de vida. Ele muda de vida quando encontra uma família que o abraça e valoriza, então o intuito dele vai ser só melhorar".
Imagens mostram que vendedor não foi agressivo
As imagens das câmeras de segurança disponibilizadas pela CCR Barcas mostraram que não houve nenhuma tentativa de furto, roubo e nem de violência por parte do vendedor de balas. A informação foi confirmada pelo secretário de Direitos Humanos de Niterói, Raphael Costa.
Acompanhando o caso desde a tarde de segunda-feira (14), Raphael contou que a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) entendeu que o autor do disparo praticou um ato cruel de violência. Segundo ele, as imagens foram fundamentais para o indiciamento de homicídio doloso qualificado por motivo fútil. "A gente continua acompanhando as investigações para garantir que o inquérito seja levado adiante e que não tenha nenhum resultado de impunidade", disse o secretário.