Carlos Antônio de Faria e Carlos Alberto Nascimento narraram momentos de pavor que viveram nos ônibus que foram carregados pela correntezaDivulgação / Setranspetro

Rio - Os motoristas dos dois ônibus que foram arrastados pelo temporal em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, choraram ao relembrar os momentos de pânico que viveram na última terça-feira. Os profissionais contaram como conseguiram resgatar parte dos passageiros e também sobre o sentimento de tristeza pelos que foram arrastados pela correnteza que se formou com a enchente. Até o momento, mais de 100 pessoas foram mortas e há incontáveis desaparecidas.
Em um vídeo divulgado no Facebook pelo Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Petrópolis (Setranspetro), Carlos Alberto Nascimento mostrou a dor que sente pelos passageiros que não se salvaram, entre eles, um menino. No momento da tragédia, ele conduzia o ônibus que fazia a linha 401 (Independência), da empresa Petro Ita.
"Não sei quem é o pai daquele menino, que eu não consegui pegar, mas ele pode tá certo que a dor que ele tá sentindo, eu tô sentindo, eu também tenho filho! Só quero que Deus conforte muito, muito ele, porque aquela criança era tudo que eu queria ter segurado, e não consegui", lamentou Carlos, que completou 52 anos nesta quinta-feira.
Carlos Antônio de Faria, de 46 anos, da linha 465 (Amazonas), da Petro Ita, que também foi carregada pela enchente, falou sobre a angústia que sentiu diante do desespero de todos que estavam dentro do coletivo. "Eu só queria salvar todo mundo. Só isso".
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram as pessoas tentando sair pela janela e se agarrando à estrutura do ônibus, enquanto o veículo é arrastado pela correnteza. Os registros mostram que as pessoas disputavam espaço na parte do ônibus que ainda não estava submersa, mas ainda assim algumas foram arrastadas pela enchente.
Os condutores disseram que o rio ainda não estava transbordando, mas uma onda surgiu em direção ao coletivos. Segundo eles, o maior problema foi o impacto que a queda de uma barreira provocou no local.

"O rio ainda estava sob controle, sem jogar água na pista. Estávamos seguindo itinerário para o bairro, porém, alguns metros à frente, após a UPA, veio uma onda em direção aos coletivos. Como recomendado, paramos os ônibus na pista, para deixar a água baixar e seguir viagem. Com o impacto da queda, a força da água balançou o ônibus, fazendo com que os veículos começassem a ser arrastados", contou Carlos Alberto.
Ao perceberem o perigo, eles acionaram a alavanca de emergência dos ônibus para que as pessoas pudessem ser retiradas pelas janelas com a ajuda de cordas, que foram jogadas por moradores de um condomínio próximo.
"Lançaram cordas em nossa direção, que foram amarradas nos ônibus e em portões, colunas e poste da via, sendo possível começar a fazer o resgate dos passageiros, com a ajuda das pessoas do condomínio, a quem somos extremamente gratos", disseram os motoristas.
Passageiros sobreviventes
Os amigos Fernanda Rodrigues Vieira, de 18 anos, e Daniel Augusto da Silva, de 25, estavam dentro de um desses ônibus. Eles contaram ao G1 que conseguiram se salvar pulando em muro após abrir travas de segurança da janela.
"Foram momentos de muita tensão na volta pra casa. Estávamos no 465, quando o ônibus teve que parar porque não conseguia continuar. O lugar que estávamos parecia um rio. E a gente achava que a chuva ia passar, que ia baixar a água pra gente continuar a viagem", contou Fernanda, que ainda disse como o coletivo começou a inundar:
"O máximo que consegui foi quebrar a janela, enquanto o ônibus era arrastado, bateu no muro e eu só pulei. Não teve muito o que fazer com as outras pessoas. Quem conseguiu pular no muro no susto, pulou. E quem não conseguiu não tinha mais como pular", detalhou.
Daniel disse que teve dificuldades em abrir as travas de segurança das janelas do ônibus. "Eu falei pra ela [Fernanda] ficar bem no fundo e que nós iríamos dar um jeito de tirar as janelas, porque as travas de segurança não estavam abrindo. Eu fui pra porta da frente pra tentar que evitasse mais água".
Depois de tanto sufoco, eles conseguiram abrir a janela e escaparam da morte ao pularem em um muro. "Eu consegui tirar uma janela com outro rapaz. Tiramos a janela de trás e começou a entrar muita, muita água. Foi quando eu falei pra ela pular. Ela quis me esperar, mas falei pra ela pular. Ela pulou e eu fui logo depois dela. Algumas outras pessoas não conseguiram ter a mesma agilidade".
Esperança de um pai
Gabriel da Rocha, de 17 anos, que foi reconhecido pela família em cima de um dos ônibus não sabe nadar. Apesar disso, o pai disse ao G1, que tem esperança de ainda encontrá-lo com vida "Claro que tenho esperança. Vamos achar ele ainda. Gabriel é um garoto esperto", afirmou o marceneiro Leandro da Rocha, de 49 anos.
O Setranspetro afirmou que quando equipes de resgate chegaram ao local, já não viram mais ninguém. O sindicato disse que não há um número exato de quantas pessoas que estavam nos ônibus seguem desaparecidas.