Imagens indicam que canal de gás estava aberto durante serviço de caldeireiro morto na Reduc
Vídeo indica que uma estrutura chamada 'raquete' estava aberta, possibilitando a entrada de gás sulfeto de hidrogênio (H2S) no local
Ligação de tubulação de gás chamada de 'raquete', circulada em amarelo na imagem, estava aberta durante serviço de caldeireiro que morreu em equipamento da Reduc - Reprodução/ Agência O DIA
Ligação de tubulação de gás chamada de 'raquete', circulada em amarelo na imagem, estava aberta durante serviço de caldeireiro que morreu em equipamento da ReducReprodução/ Agência O DIA
Rio - Imagens realizadas por testemunhas mostram o momento do resgate do caldeireiro José Arnaldo de Amorim, 50, morto enquanto trabalhava dentro de um equipamento da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) no último sábado. O vídeo indica que uma estrutura chamada 'raquete' estava aberta, possibilitando a entrada de gás sulfeto de hidrogênio (H2S) no local.
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O equipamento que José prestava um serviço de manutenção é parecido com uma caixa d'água e deve ser vistoriado antes de ser operado para que seja certificada a inexistência de gases tóxicos. Para o filho da vítima, Jhonatan Amorim, 27, que também é caldeireiro na Reduc, a válvula de gás foi aberta para a realização de um teste e deveria ter sido fechada para o serviço de manutenção que seu pai prestava, o que não aconteceu.
O presidente do Sitcomm, sindicato que representa os trabalhadores terceirizados da Reduc, Josimar Campos de Souza, o Mazinho, também aponta que a porta denominada 'raquete', que liga o equipamento à tubulação de gás, estava aberta. "Deveria estar fechada, foi por ali que o gás entrou e matou o José Arnaldo", alerta. A Petrobras não retornou à reportagem sobre a imagem. O espaço está aberto para manifestação.
As imagens também mostram que os brigadistas tiveram dificuldade de resgatar o corpo do caldeireiro. O socorro demorou entre 20 e 30 minutos para chegar, e a ação, mais de uma hora, segundo o filho da vítima.
O caldeireiro trabalhava para a empresa terceirizada C3 Engenharia e faleceu por volta das 18h30 de sábado durante atividade de manutenção.
O filho da vítima, Jhonatan Amorim, levanta suspeita se o procedimento para o trabalho de manutenção foi cumprido corretamente e pede justiça. O jovem conta que inicialmente no IML a causa da morte estava como "Engasgamento", o que foi contestado e foi aberta nova perícia. A causa de morte então passou a constar como "em aberto".
Nesta segunda-feira a refinaria enviou um alerta para os trabalhadores terceirizados sobre o acidente fatal. No documento, a Petrobras afirma apenas que o caldeireiro contratado desmaiou durante atividade de manutenção no interior de equipamento (vaso de sucção de compressor) da unidade, sendo resgatado e removido por ambulância para hospital, onde foi constatado o óbito.
O alerta lembra os cuidados que os trabalhadores devem ter para entrar no equipamento. Para que a manutenção seja realizada, são necessárias vistorias que garantam a segurança do trabalhador.
O presidente do Sitcomm diz que após a morte, o sindicato fez uma denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego para verificar as condições de segurança e reivindica acompanhar a vistoria.
"A gente já vinha denunciando as áreas de vivências dos trabalhadores, que estão com vasos entupidos, falta d’água. Com a morte do Arnaldo a gente teve que chamar o Ministério de Trabalho", diz Mazinho. "A refinaria está sucateada", denuncia um trabalhador terceirizado que terá sua identidade preservada.
Em nota, a Petrobras afirmou que não procede a informação de que as instalações da Reduc utilizadas por funcionários de empresas contratadas estejam precarizadas. "A Petrobras verifica constantemente, através de auditorias diárias, as condições de segurança e higiene nos locais de trabalho e vivência da refinaria, e eventuais reparos são realizados sempre que necessário", diz o texto.
Imagens, no entanto, mostram instalações usadas por terceirizados da refinaria cercadas de áreas alagadas.
A Petrobras lamentou a morte e informou que o trabalhador recebeu atendimento médico imediatamente no local, e foi levado para atendimento externo, mas, não resistiu.
"A Petrobras está em contato com a empresa C3, para prestar todo apoio à família do colaborador neste momento difícil. A companhia acompanhará o caso junto a empresa contratada e formou uma comissão para investigação que permita esclarecer as circunstâncias da ocorrência. As autoridades competentes foram comunicadas", diz em nota.
Em nota divulgada, a C3 Engenharia lamentou o "infeliz acidente". A empresa afirma que instaurou procedimento administrativo interno para buscar e ajudar a Petrobras no esclarecimento da morte. Segundo a C3, será necessária a análise técnica e médica para apurar a causa do acidente de trabalho. "Em respeito à família e amigos, a empresa não comentará sobre o assunto até a sua devida apuração", diz o texto.
O caso é conduzido pela 60ª DP (Campos Elíseos). Segundo testemunhas, policiais realizaram perícia nesta terça-feira. De acordo com a 60ª DP (Campos Elíseos), funcionários foram ouvidos e a perícia foi realizada no local. As investigações seguem em andamento.
O corpo de José Arnaldo de Amorim foi enterrado na segunda-feira no Cemitério Memorial do Rio, na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias.
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