Rio - Os quiosques Biruta e Tropicália, na praia da Barra da Tijuca, onde o congolês Moïse Kabamgabe, respectivamente, trabalhava e foi assassinado, estão sendo processados pelo Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) por trabalho escravo. De acordo com o MPT, a carga horária dos funcionários era excedida, enquanto recebiam apenas um pagamento variável, que podia chegar a zero.
Segundo nota divulgada pelo Ministério nesta quinta-feira (24), o processo considera que Moïse e outros empregados tenham sido submetidos a condições análogas à escravidão. A investigação comprovou que os garçons trabalhavam de 10 a 12 horas por dia, sem fornecimento adequado de água e alimentação e acesso restrito ao banheiro.
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Além disso, não eram fornecidos equipamentos de proteção individual, como óculos escuros, protetor solar, boné e camiseta com proteção UV, deixando os trabalhadores expostos ao sol e, consequentemente, à imunodepressão e ao risco de câncer de pele.
Os funcionários também não possuíam a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) registrada, sendo pago um valor variável correspondente à diária que, conforme declaração dos próprios sócios, poderia chegar a zero de acordo com o movimento da praia e com as vendas do dia.
Segundo a procuradora Lys Sobral Cardoso, uma das responsáveis pelo caso, “trata-se de caso clássico de trabalho em condições análogas à escravidão no meio urbano. Os empregadores se aproveitam da vulnerabilidades dos trabalhadores, principalmente dos imigrantes, e impõe condições degradantes de trabalho, jornadas exaustivas, sem descansos e com baixa remuneração”.
A ação, ajuizada na terça-feira (22), pede pagamento de mais de R$ 250 mil em verbas trabalhistas, R$ 3,755 milhões de pensão à família da vítima, assassinada na noite do dia 24 de janeiro, e danos morais individuais e coletivos, nos valores respectivos de R$ 2 milhões e R$ 11,5 milhões.
O MPT denuncia os sócios dos quiosques e exige a responsabilização da Orla Rio, concessionária responsável pela fiscalização dos estabelecimentos na orla da cidade, e da prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo os procuradores, os órgãos foram omissos e não fiscalizaram corretamente a conduta dos empregadores.
Para outra procuradora do caso, Guadalupe Louro Couto, as condições subumanas de trabalho foram demonstradas ao longo da investigação e nas provas apresentadas pelo Ministério. “Condições, essas, agravadas pelo fato de o Moïse ser um trabalhador negro e imigrante, cujas possibilidades de inserção no mercado são mais difíceis”, explica.
Além dos valores, a ação do MPT cobra o cumprimento imediato da legislação trabalhista pelos Quiosques Tropicália e Biruta, o registro de todos os empregados na CTPS, o respeito à jornada diária de no máximo 8 horas, a garantia de livre acesso aos sanitários, o fornecimento de proteção individual, de alimentação e água, além do pagamento das demais verbas trabalhistas.
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