IML - Duque de CaxiasReginaldo Pimenta

Rio - Um desabafo emocionado do autônomo Paulo César Gomes da Silva, após seu tio ser assassinado por criminosos fortemente armados, na madrugada desta segunda-feira (28), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, relatou uma rotina de violência que o Rio de Janeiro vem sofrendo. O gerente de supermercado Evanildo Gomes da Silva, de 63 anos, foi morto com um tiro no pescoço, após ser cercado e atacado por bandidos com fuzis divididos em dois carros. O sobrinho descreveu que se sentiu como na guerra que acontece na Ucrânia, por conta da quantidade de disparos que foram feitos contra a vítima.

"Todo mundo pensando na guerra da Ucrânia com a Rússia, o Brasil é guerra 24 horas. É um inocente morrendo, é um vagabundo morrendo, é um policial morrendo. Onde vamos parar? Isso não vai parar. Hoje foi meu tio, amanhã é um vizinho, amanhã sou eu, amanhã é outro e não vai parar. Isso é no estado todo. A Baixada então, é totalmente esquecida de tudo", lamentou Paulo César.

O autônomo relatou que há cerca de um mês, um homem morreu e um idoso ficou ferido depois de assaltos no bairro Doutor Laureano, onde o crime desta segunda aconteceu. Além de viverem com a insegurança, a família do homem já havia sido vítima de violência. Há aproximadamente 15 anos, Evanildo perdeu um filho policial militar, após ser baleado em serviço.

Informações preliminares dão conta de que o gerente foi vítima de latrocínio. O carro em que ele estava não foi levado e ainda não se sabe se outros pertences foram roubados. O sobrinho da vítima acredita que ele não reagiu ao ataque dos criminosos, mas pode ter se assustado com o armamento pesado e, por isso, tentado fugir. Câmeras de segurança da Rua Virgílio de Mello Franco registraram a ação, que durou pouco mais de um minuto.

Em um vídeo obtido pelo WhatsApp O Dia é possível ver a vítima saindo da garagem de sua residência em um carro preto e seguindo pela via. Logo depois, ele é cercado por um carro vermelho e bandidos armados com fuzis descem em sua direção. Em seguida, as câmeras mostram o veículo de Evanildo dando ré em alta velocidade e atingindo um muro. Após a batida, os criminosos se aproximam do carro e um segundo automóvel com mais homens armados chega e eles disparam contra o carro da vítima. Um criminoso ainda tenta abrir a porta, mas o grupo parece se assustar e foge.

"Reagir, ele não tentou. É que você vê oito 'caras' de fuzil, 5h da manhã, você acorda para trabalhar e o café da manhã 'é' cinco, oito 'fuzil' na sua cara, você vai ficar desesperado. Eu acredito que o único tiro que pegou foi porque o carro é automático, ele deve ter pisado no acelerador e o carro colidiu ali na casa. Acho que fugir, ele não fugiria. Ele tentou parar, mas com aquele susto imenso, a gente não sabe na hora o que a gente faz e, não contentes, os meliantes vieram e deram tiros", lamentou Paulo César.

O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). "Diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias da morte e a autoria do fato", informou a Polícia Civil. Evanildo deixa esposa, um filho e um casal de netos. O corpo dele será enterrado nesta terça-feira (29), às 9h, no Cemitério Memorial do Rio, na Rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias. 
Ainda não há informações sobre o sepultamento do gerente. Até a tarde desta segunda-feira, familiares ainda não tinham comparecido ao Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias para liberar o corpo.

"(Ele era) totalmente do bem, trabalhador, gerente de mercado. Trabalha em um mercado lá em Mesquita. A vida inteira trabalhou, sempre como gerente. Inimigos zero, não era de farra. Segunda a segunda trabalhando, na folga dele, ele gostava de ouvir Roberto Carlos na casa dele. A vizinhança está aqui em choque, porque realmente era uma pessoa que era inocente, um cara super do bem. A família e todo mundo adorava esse cara", descreveu Paulo César, que abalado, fez um apelo para as autoridades e para os autores do crime.

"O meu pedido agora é que os poderes, o governador, os prefeitos, vereadores, se unam, 'dá' uma olhada um pouco para cá e que não deixe esse caso impune. Pode demorar um dia, pode demorar um ano, pode demorar dez anos, mas que paguem pelo que aconteceu. Sei que nada vai voltar atrás a vida do meu tio, mas sempre que acontece um caso desse, a família pede justiça. Infelizmente, é o que eu peço. Justiça e que papai do céu toque no coração de cada um daqueles homens que estavam armados e, infelizmente, pensaram dessa forma, e eles possam refletir que estão matando, ferindo idoso, criança. Um pouco mais de coração, bota amor na vida, na alma, que essa violência vai acabar".