Rio - O corpo do adolescente Cauã da Silva Santos, de 17 anos, será velado a partir das 9h e enterrado às 15h de quarta-feira (6) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. A vítima morreu na noite desta segunda-feira (4), após ser baleado no peito na saída de um evento, na comunidade do Dourado, no bairro de Cordovil, Zona Norte do Rio. Cauã ainda foi jogado em um valão depois de ser atingido com o disparo.
O jovem era faixa laranja de jiu-jitsu, praticava luta livre e teve o sonho de seguir carreira militar interrompido. Ele também fazia parte do projeto social Centro Esportivo Resgate, que promovia a celebração, voltada para o público infantil.
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Bastante abalada, a mãe do jovem, Claudia Helena Camargo da Silva, falou ao DIA sobre a violência que matou seu filho. "Acabaram com a vida do meu filho com um tiro no peito. Ele só tinha 17 anos, era lutador, estava lutando em uma evento do time". A tia do adolescente, Juliana da Silva, de 45 anos, também fez um desabafo na porta do IML. "A polícia acha que na comunidade só tem bandido, não tem né, tem um Cauã da vida que era estudante, era alegre, tinha sonhos e ia seguir a carreira de lutador, mas infelizmente o sonho dele foi cortado", disse.
A perícia da Polícia Civil analisa se há fragmentos de bala no corpo de Cauã para realizar um confronto balístico. As armas usadas pelos policiais do 16º BPM (Olaria) foram apreendidas e os agentes envolvidos na ação foram retirados das ruas. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) também instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar todas as circunstâncias do caso.
Dados do Fogo Cruzado
A morte de Cauã não foi um caso isolado. Em 2022, duas crianças e 10 adolescentes foram baleados durante ações ou operações policiais no Grande Rio, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado: entre essas vítimas, uma criança e três adolescentes morreram. Em 2021, 30 crianças e adolescentes foram baleados durante ações e operações policiais. Nove deles morreram.
Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado reforça a necessidade de um plano de segurança que garanta a proteção de crianças e adolescentes. Desde 13 de janeiro de 2021, a Lei Ágatha Felix determina a prioridade nas investigações de crimes contra a vida de crianças e adolescentes. A lei que obriga o uso de câmeras nos uniformes de policiais militares também está em vigor desde julho do ano passado, mas o governo do estado ainda não instalou os equipamentos.
"É dever do estado zelar pela integridade física da população e garantir que crianças e adolescentes cresçam e se desenvolvam de maneira sadia e segura. Os dados mostram que crianças e adolescentes mortos durante ações e operações policiais não são casos isolados. A própria lei que pede celeridade na investigação de mortes tem o nome de uma criança morta por um policial. Isso é inadmissível", afirma.
No julgamento da ADPF 635, em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo do Estado criasse um plano de redução da letalidade policial. O plano foi divulgado em março, mas não abrange todas as determinações do Supremo. Cecília Olliveira frisa que não existe ainda um plano de segurança pública no Rio de Janeiro.
Veja a lista das crianças e adolescentes mortos durante ações policiais este ano:
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