Irmão diz que jovem com deficiência foi morto com tiro na costas por PMs à paisana na Barreira do Vasco
De acordo com os moradores, Ruan Limão do Nascimento, de 27 anos, iria cortar o cabelo quando foi baleado. Renan Limão afirma que não houve operação, nem troca de tiros
Renan Limão disse que o irmão foi morto com um tiro nas costas por PMs à paisana - Sandro Vox / Agência O Dia
Renan Limão disse que o irmão foi morto com um tiro nas costas por PMs à paisanaSandro Vox / Agência O Dia
"Falar que ele estava com arma, que teve tiroteio? Não teve operação. Não teve troca de tiros. Quatro homens de fuzis entraram na comunidade com um carro vermelho descaracterizado, deram um tiro em um rapaz, todo mundo correu e meu irmão, que estava junto, correu também e levou um tiro nas costas. Como às sextas-feiras têm feirinha, a rua estava cheia. Colocaram meu irmão no porta-malas e sumiram com ele, ninguém teve mais informações. A gente que deduziu que ele estaria no Souza Aguiar", disse Renan Limão, que esteve na manhã deste sábado no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IML), no Centro, para liberar o corpo.
De acordo com moradores da comunidade, a vítima foi atingida enquanto ia cortar o cabelo. O irmão da vítima disse que Ruan, de 27 anos, "tinha a mentalidade de um adolescente de 15 anos" devido à sua deficiência. "Ele não sabia ler nem escrever sem copiar, mas ele fazia tudo, conhecia todo mundo. Ficou um sentimento de revolta e impotência mesmo. Meu irmão era um cara que sempre alegrou todo mundo", lamentou.
Vascaíno, Ruan planejava assistir ao jogo do time cruzmaltino neste sábado, contra o CSA, em São Januário, pela Série B do Campeonato Brasileiro. De acordo com o irmão do jovem, ele era apaixonado por futebol. "Meu irmão gostava muito de ir ao estádio e ia sozinho mesmo, nem pagava porque as pessoas gostavam dele e o colocavam lá dentro. Ele era vascaíno, mas qualquer tipo de jogo ele tava porque gostava de futebol", lembrou emocionado.
A mãe de Ruan, Bianca Limão, afirmou que o filho chegou ainda com vida na unidade de saúde. "Uma moça viu meu filho sendo jogado de qualquer jeito no chão. Quando os médicos me chamaram, meu filho já estava morto, com um monte de algodão na boca".
A procuradora da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Mariana Rodrigues, também esteve no IML para prestar apoio aos familiares de Ruan e falou sobre o caso.
"É sempre uma dor muito grande que as famílias sentem e essa dor não vem acompanhada de uma resposta do Estado. Eles não disponibilizam nenhum serviço para as famílias, não tem assistência social, psicólogos, nem atendimento jurídico. A família é colocada numa situação desesperadora, então, nesse momento é muito importante a gente entender o que aconteceu e tentar auxiliar a família no que a gente pode", explicou Mariana, que completou:
"A gente fica tentando colher informações com todos os familiares, mas aqui não tivemos nenhum familiar que presenciou o fato. Então, ainda estamos com resquícios do que a própria família apurou, mas a gente vai tentar oficiar o hospital para ver quem deu entrada com o corpo, se já chegou morto ou não, buscar câmeras do hospital e da localidade para tentar solucionar esse crime. Nós vamos acompanhar a família no que ela precisar, nas oitivas na sede da Delegacia de Homicídios da Capital e tentar pedir apoio através de alguma secretaria do Estado. Isso é o que a gente pode fazer no momento para minimizar a dor que o Estado supostamente provocou".
Versão da polícia
Em nota, a PM informou que agentes do 4ºBPM (São Cristóvão) relataram terem ido verificar local de comercialização ilegal de cobre na localidade do Café, próximo da comunidade Barreira do Vasco, onde aconteceu um confronto armado durante a checagem.
"Após cessar fogo, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack. Um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada pelo Comando da Corporação para o caso e ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência. Um procedimento apuratório interno está instaurado".
A ocorrência foi encaminhada para a 17ª DP (São Cristóvão) e depois para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
A PM informou que os policiais eram do Serviço Reservado do batalhão de São Cristóvão.
A Polícia Civil disse, em nota, os policiais militares foram ouvidos e tiveram as armas recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos.
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