Marinete Silva, mãe de Marielle, e familiares reunidos em protesto no dia em que se completaram quatro anos da morte de vereadoraMarcos Porto/Agencia O Dia

Rio - Após promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), apontarem que o bicheiro Rogério de Andrade como o possível mandante da morte da vereadora Marielle Franco, durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (10), a família da vereadora se manifestou sobre o caso.

Por meio de nota, familiares declararam que "a cada notícia que mostra que as investigações do Caso Marielle e Anderson levaram à descoberta de mais um esquema de organização criminosa - a maioria deles envolvendo o Estado brasileiro - fica evidente que o destino da democracia e da justiça do país dependem da resolução desse caso".


Ainda foi pontuado que o caso de Marielle e Anderson envolve pessoas poderosas que, possivelmente, utilizaram seus cargos como meio de auxiliar e fortalecer grupos criminosos para favorecimento pessoal. Para eles, o caso de Marielle deve ser visto como um "ponto chave" para a "desmobilização de grupos ilegais no estado do Rio, desde a milícia à contravenção".

Marielle e Anderson foram assassinados há pouco mais de quatro anos, em 14 de março de 2018. Até o momento, a polícia segue sem saber quem é o mandante do assassinato e suas motivações. Somente os dois acusados de serem executores do tiros estão presos.
Operação Calígula
A coletiva de imprensa ocorreu após o final da Operação Calígula, que cumpriu 36 mandados de busca e apreensão no estado do Rio, mirando uma organização criminosa relacionada ao Jogo do Bicho, na manhã desta terça.
Entre os alvos estava Rogério de Andrade, apontado como um dos líderes; policiais militares, entre eles quatro oficiais; e policiais civis, sendo dois delegados: Adriana Belém e Marcos Cipriano. Rogério e o seu filho, Gustavo de Andrade, são considerados foragidos. A Justiça autorizou a inclusão do nome do bicheiro na lista de difusão vermelha da Interpol. O grupo tem como membro Ronnie Lessa, preso pela execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

A delegada Adriana Belém, que foi alvo de um mandado de busca e apreensão e teve o pedido de prisão expedido pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), foi presa durante a ação, assim como delegado Marcos Cipriano. Na casa de Adriana, os agentes apreenderam, ao todo, R$ 1.765,300.

Além disso, duas casas de bingo foram interditadas na Zona Oeste: uma na Barra da Tijuca, e outra no Recreio dos Bandeirantes. Na operação, 12 pessoas foram presas, 24 pedidos de prisão foram expedidos, 119 mandados de busca e apreensão foram cumpridos e 30 pessoas foram denunciadas.

Investigações seguem diversas linhas

Durante todos esses anos, o comando das investigações sofreu diversas alterações. Na Polícia Civil, o caso já mudou de delegado cerca de cinco vezes, o quinto assumiu a cerca de três meses, já no MPRJ, três grupos de promotores diferentes ficaram à frente das investigações. Para a mãe de Marielle, Marinete Silva, as trocas podem ter interesse por trás, mas o importante é que a família confie em quem quer que esteja no comando.

"Eu não tenho nenhuma dúvida de que nessas trocas tem alguém que tem interesse na não resolução do caso. A gente está aí em mais uma troca, teve mudança de delegado, teve mudança no Ministério Público. Temos que estar sempre atentos ao que vai acontecer, acho que o importante é que essas pessoas tenham o compromisso de manter esse trabalho, independente de quem esteja no poder, é fundamental que a família tenha confiança", deixou explícito no dia em que o crime completou quatro anos.

Os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram denunciados pelo MPRJ, pelo assassinato da vereadora e de seu motorista. Os acusados vão a júri popular, que ainda não está marcado. A polícia, por sua vez, afirma ter descoberto a dinâmica realizada pelos criminosos no dia 14 de março de 2018 para execução do crime.

Mesmo com a prisão dos executores, a maior pergunta ainda segue sem resposta: Quem mandou matar Marielle? Para a polícia e o MP, as investigações contam com muitas possíveis linhas, mas nenhuma foi para frente. E agora, com a ligação entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa, mais uma possibilidade surge para dar fim às investigações.

Leia a nota na íntegra:

A cada notícia que mostra que as investigações do Caso Marielle e Anderson levaram à descoberta de mais um esquema de organização criminosa - a maioria deles envolvendo o Estado brasileiro - fica evidente que o destino da democracia e da justiça do país dependem da resolução desse caso.

Estamos falando de pessoas poderosas que utilizaram dos seus cargos políticos, do Estado e das forças armadas para desviar dinheiro público, fortalecer grupos criminosos, violentos e armados contra a população, e que chegaram ao ponto de tirar a vida de uma parlamentar eleita.

O caso de Marielle deve ser lido como um ponto chave para a desmobilização de grupos ilegais no estado do Rio, desde a milícia à contravenção. Historicamente estamos reféns desta articulação criminosa institucional.

A cada denúncia, operação e ação gerada a partir da investigação do assassinato de Marielle, devemos reforçar a importância e a necessidade das autoridades responderem quem mandou matar Marielle e porquê. E nós, da família e do Instituto Marielle Franco, seguiremos cobrando essas respostas.