Manifestação contra a intolerância religiosa em ItaboraíDivulgação

Rio - Religiosos e lideranças de religiões de matriz africana realizaram um ato neste domingo (22), na Praça Marechal Floriano Peixoto, no Centro de Itaboraí, contra a intolerância religiosa e o pastor Felippe Valadão, após uma fala do religioso em um show gospel que gerou revolta e pode abrir investigações na Polícia Civil e no Ministério Público. Neste domingo, a cidade também comemora o aniversário de 189 anos e, por isso, a data foi escolhida para as manifestações.

O pastor proferiu ofensas, em tom de ameaças, a adeptos das religiões e aos terreiros, durante uma apresentação em um evento oficial da Prefeitura de Itaboraí, que foi classificado como intolerância religiosa. Como resultado, a 71ª DP (Itaboraí) todos os envolvidos serão chamados para prestar depoimento na delegacia. As imagens da apresentação de Valadão também serão analisadas.

O professor babalawô Ivanir dos Santos esteve presente no ato e declarou que a realização de cultos com verba pública é crime, e ressaltou ser inadmissível que as pessoas aceitem a intolerância religiosa com tamanha normalidade.

"Intolerância religiosa é crime e o interessante é o argumento construído pra tentar justificar o injustificável. Que eu saiba o poder público não pode financiar culto, se foi um culto financiado pela prefeitura, o prefeito responde por improbidade administrativa, além de responder por ser cúmplice do ato de intolerância a religiosa. Então, esse é um ato que é abominável e não cabe mais disso no Brasil de hoje. No momento que todos nós queremos lutar pela liberdade, democracia, o Estado laico e a diversidade não cabe, não se justifica", falou.

Nomes da política como a deputada federal Talíria Petrone (Psol) e a vereadora de Niterói Benny Briolly (Psol) participaram dos atos em Itaboraí e fizeram publicações em suas redes sociais contra a intolerância religiosa.


Cláudia Vitalina, integrante da Diretoria da Igualdade Racial (DIR) da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ), também foi ao ato e manifestou sua indignação sobre o ocorrido. Segundo ela, os manifestantes vão levar o caso ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

"Vim pra apoiar a manifestação, vim quanto mulher de axé, porque o que acontece não é nem mais intolerância, é racismo religioso. Porque um prefeito ele é eleito, ele não é eleito para o segmento, ele é eleito para a cidade e ele não pode, de maneira nenhuma, fomentar o racismo religioso, ele não pode usar o dinheiro público para patrocinar uma atividade de racismo religioso. Esse dinheiro é o dinheiro da população dessa cidade. É o dinheiro de todos os contribuintes. E não pode, de maneira nenhuma, nós aceitarmos, em pleno século vinte e um, esse tipo de postura, esse tipo de manifestação abertamente".

Ainda neste domingo, um outro protesto foi marcado para às 15h30, também na Praça Marechal Floriano Peixoto. Cleber Ramos, umbandista e medium, acredita que a manifestação pública vai ajudar para que esse não seja mais um caso entre tantos.

"Nosso objetivo é mostrar que as religiões de matrizes africanas merecem o mesmo respeito que todas as outras, mostrar as pessoas que não estamos escondidos atrás das paredes de nossos terreiros, estamos apenas nos protegendo da violência direcionada a nós. A pouco tempo, atearam fogo em um terreiro aqui perto, em Magé, por pura intolerância religiosa, estamos no século 21, isso não cabe mais em nosso convívio", expôs.

A Prefeitura de Itaboraí foi procurada, mas até a publicação desta matéria não respondeu aos questionamentos. Nas redes sociais, foi realizada uma publicação alegando que a responsabilidade do que é dito durante uma apresentação é somente do artista e que repudia qualquer ato de intolerância religiosa.



Religiosos registram caso na delegacia

Na última sexta-feira (20), membros da Comissão de Matrizes Afro Brasileiras de Itaboraí foram até a 71ª DP (Itaboraí) e registraram um boletim de ocorrência contra o pastor Felippe Valadão por conta da intolerância religiosa feita por ele durante um show gospel em um evento oficial da Prefeitura de Itaboraí, na noite de quinta-feira (19). O pastor foi convidado para participar da abertura de uma série de shows para a comemoração do aniversário da cidade. 

Durante sua apresentação, Felippe usou um tom de ameaça enquanto falava sobre os terreiros que atuam na cidade, dizendo que iria "converter" os líderes das religiões de matriz africana, ele ainda chamou os adeptos de "endemoniados". O pastou não parou por aí, segundo ele "o tempo da bagunça espiritual acabou. A igreja está na rua! A igreja está de pé!". No momento, o show estava sendo transmitido ao vivo pelo portal oficial da prefeitura. O prefeito da cidade, Marcelo Delaroli (PL), também estava no palco e ainda não se manifestou publicamente sobre o caso.

Veja o vídeo:
O relator da CPI da Intolerância Religiosa, na Assembleia Legislativa do Rio, Átila Nunes (PSD) vai acionar o MPRJ para investigar o uso de dinheiro público pela Prefeitura de Itaboraí para realização do show de Felippe Valadão, onde houve incitação ao ódio contra adeptos de religiões de matriz africana.