Família de cuidador morto com tiro acidental de PM diz não ter como pagar enterro
Irmã da vítima esteve no Instituto Médico Legal (IML) no início da tarde desta terça-feira para fazer a liberação do corpo e cobrou explicações sobre o caso
Família esteve no IML do Centro e disse não ter como pagar enterro de cuidador morto com tiro acidental de PM - Marcos Porto / Agência O Dia
Família esteve no IML do Centro e disse não ter como pagar enterro de cuidador morto com tiro acidental de PMMarcos Porto / Agência O Dia
Rio - Familiares alegam que não têm como pagar o enterro de Reginaldo Avelar Porto, de 38 anos, que foi morto por um tiro disparado por um policial militar, nesta segunda-feira, na Avenida Marechal Rondon, no Sampaio, Zona Norte do Rio. A irmã do cuidador de idosos, Rogéria da Conceição Avelar, que esteve no Instituto Médico Legal (IML), do Centro do Rio, no início da tarde desta terça-feira, para fazer a liberação do corpo, disse que está revoltada e cobrou explicações sobre o caso.
fotogaleria
"Não temos dinheiro para fazer um enterro digno para meu irmão. Agora quem vai fazer? O estado que tinha que fazer um enterro digno para ele, que não era bandido, não era nenhum vagabundo", disse Rogéria.
Segundo a Polícia Militar, Reginaldo foi apartar uma briga quando a arma de um agente, que também estava na confusão, "disparou acidentalmente". Ele fazia um bico no lava-jato, onde o caso aconteceu. O cuidador de idosos chegou a ser socorrido e levado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas já chegou morto.
"Meu irmão, coitado, foi apartar uma briga e aí um policial atirou nos peitos dele. Uma pessoa despreparada. Como que pode fazer uma coisa dessa com um trabalhador, um ser humano? Um absurdo o que aconteceu, eu estou indignada. Meu irmão era muito bonzinho, todo mundo gostava dele ali, tanto que toda a comunidade desceu (para protestar). Ele tomava conta de uma idosa", comentou a irmã da vítima, aos prantos.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB informou que está apurando o caso e dando assistência aos familiares de Reginaldo.
"Ontem (segunda-feira), a nossa maior preocupação foi realmente acompanhar a família nos órgãos públicos, como hospital e delegacia, porque existe uma dificuldade de atendimento no momento de tanta dor para a família e acompanhamos a manifestação. Ouvimos algumas testemunhas que viram a situação dizer que realmente o policial atirou direto no Reginaldo, mas até agora, a nota oficial diz que foi um tiro acidental, que não foi diretamente. De acordo com as testemunhas que estavam no local, ele estava perto da briga, mas não tentou interceder, pelo menos fisicamente", disse a advogada Vanessa Lima, membro da comissão, que completou:
"Nós vamos dar andamento no atendimento, claro que de acordo com o desejo da família. De qualquer forma nós vamos cobrar o andamento das investigações, porque é inaceitável que nós como sociedade civil continuemos normalizando que pessoas sejam mortas. O estado não pode simplesmente matar as pessoas e todo dia um corpo negro ser tombado nessa cidade de uma forma tão banal, numa situação que de forma alguma precisava ser usado um fuzil, uma força totalmente desproporcional. Três cidadãos desarmados, debaixo de um viaduto numa avenida super movimentada, um deles receber um tiro assim e perder a vida. De qualquer forma isso seria revoltante, mas nesse caso fica mais revoltante ainda quando a gente vê que é um família de pessoas simples, trabalhadores".
Manifestação
Após o incidente, moradores da região fizeram dois protestos contra a morte de Reginaldo. No início da tarde, os manifestantes ocuparam duas faixas da Marechal Rondon próximo ao Viaduto Engenheiro Armando Coelho. Houve reflexos no trânsito. No início da noite, os moradores fizeram mais uma manifestação, por volta das 18h, com barricadas de fogo na via. Policiais militares usaram escudos para conter os presentes e o clima ficou tenso na região. Houve correria e gritos e os PMs chegaram a utilizar bombas de efeito moral.
"O sentimento que fica é uma mistura de raiva, ódio, indignação, porque isso só acontece com a gente de comunidade. Como que vão dar um basta nisso? Só se juntasse todas as favelas e descer lá no governo para fazer uma manifestação. Ele era uma pessoa pacífica. Eu não estava no momento, só sei que mataram meu irmão. Arma de fuzil, gente. Como isso? Se ele tivesse falando alguma coisa, era só ter pego ele e imobilizado, botava num camburão, sei lá. Mas agora dar um tiro nele, que deixou um filho de 13 anos?", questionou Rogéria.
Policial envolvido está preso
De acordo com a Polícia Militar, o policial que portava a arma acionada participou do registro do fato na Delegacia de Homicídios da Capital e foi ouvido na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM). O militar permanecerá preso na Unidade Prisional da corporação até a audiência de custódia.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.