Os sogros de Dom fizeram questão de ir ao ato. Sr Luiz Carlos ainda mantém as esperanças, mas Sra Maria Lúcia não acredita mais que eles estejam vivosMarcos Porto / Agência O Dia

Rio - Familiares, amigos e manifestantes se reuniram, na manhã deste domingo (12), em Copacabana, Zona Sul do Rio, para cobrar urgência nas investigações do desaparecimento do jornalista inglês, Dom Phillips, e do indigenista Bruno Araújo Pereira. Os dois foram vistos pela última vez, no dia 05 de junho, perto da reserva indígena Vale do Javari, palco de conflitos que envolvem tráfico internacional de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo ilegal. Desde então, o paradeiro deles é desconhecido. Emocionados, os sogros de Dom participaram do ato, disseram o quanto gostam do genro e esperam por notícias. 
Maria Lúcia Sampaio, de 78 anos, sogra do jornalista, está mais pessimista com o rumo da situação: "Quando a gente soube do desaparecimento do Dom, a gente ainda tinha uma esperança de que eles tivessem percebido a tocaia que fizeram. E pela experiência do Bruno, que eles tivessem se embrenhado pela floresta. Mas com o passar dos dias e pelas notícias que estamos tendo pela imprensa, sinceramente, a esperança agora, pra mim, é nula."
Maria Lúcia disse que o ato não tem conotação política, mas que era um grito em favor da Amazônia. "Que o mundo se uma, que o povo acorde e se una pra salvar a Amazônia, que está agonizando, que está pedindo socorro. Que o Dom e o Bruno não tenham sacrificado suas vidas em vão. Que o exemplo deles seja o início de algo ainda maior.".
Já Luiz Carlos Rocha, de 80 anos, ainda mantém a esperança: "Dom é uma pessoa excepcional. A gente espera encontrar. Essa é a nossa expectativa. Por isso, nós estamos aqui. Tenho fé em Deus que ainda hei de encontrá-lo. Que sejam usados de todos os meios para localizá-los. Deus é pai, não é padrasto."
Apesar do clima frio e da chuva fina que teimava em cair, cerca de 50 pessoas se reuniram no ato para cobrar respostas do governo brasileiro sobre o caso. O Posto 6 da Praia de Copacabana foi o local escolhido para a manifestação porque é onde Dom gostava de praticar stand up paddle, na época em que morou no Rio de Janeiro.
Marcos Sampaio, cunhado de Dom Phillips, afirmou que há poucas informações e que os dias sem notícias estão angustiando a todos: "Temos que ser realistas. Apesar de sermos uma família de muita fé e de acreditar muito em Deus, a gente se apoia na última esperança que possa ter. Enquanto não houver uma resposta definitiva, a gente tem que acreditar. Estamos aguardando o pior, apesar de tentar manter a fé", disse ele, que é irmão de Alessandra Sampaio, esposa do correspondente britânico Dom Phillips.
 
A atriz Lucélia Santos, ativista da causa ambiental há muitos anos, fez questão de participar da manifestação. Ela afirmou que está desolada com o sofrimento das famílias de Dom e de Bruno, mas que espera que tudo isso escancare os absurdos cometidos na Amazônia há muitos e muitos anos: "A Amazônia é um lugar onde há muito narcotráfico, invasão aos territórios dos povos originários, garimpo ilegal nessas terras, madeireiros, garimpeiros, grileiros de terras. Tudo isso acontece na Amazônia há muito tempo. A gente que é dessa luta já fala sobre isso há mais de três décadas e para mudar isso tem que ter vontade política. Proteção territorial e, sobretudo, respeito à Constituição, que é tudo ao contrário do que esse governo tem praticado".
Segundo os organizadores do ato, além de cobrar respostas sobre o paradeiro dos dois, o evento é também para pedir que as autoridades tomem atitudes quanto às violações contra a floresta e seus povos no Vale do Javari, no Amazonas.
O indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal 'The Guardian', desapareceram no último domingo, 05 de junho, no Vale do Javari, na Amazônia, quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte.
Dom Phillips
O jornalista britânico está no Brasil desde 2007. Já foi colaborador dos jornais ‘Washington Post’, ‘The New York Times’ e ‘Financial Times’. Atualmente, era colaborador do ‘The Guardian’. É um apaixonado pela Amazônia. Estava escrevendo um livro sobre a Floresta Amazônica. "Como sogra do Dom, acompanhei toda a história dele fazendo essas reportagens lá pela Amazônia. Ele estava escrevendo um livro sobre a Amazônia. Essa última viagem pra lá seria pra finalizar o livro. A vida dele era essa", disse a sogra, Maria Luiza.

Bruno Araújo Pereira
Profundo conhecedor da Amazônia, Bruno Araújo Pereira é um indigenista de renome na área. Servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) desde 2010. Foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte. Deixou o cargo em 2016, durante um intenso conflito registrado entre povos isolados da região. Em 2018, se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai, quando chefiou a maior expedição para contato com índios isolados dos últimos 20 anos. Foi exonerado do cargo em outubro de 2019, após pressão de setores ruralistas ligados ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
Durante a manifestação em Copacabana, Lucélia Santos comentou sobre ele: "Era um ambientalista, mais do que isso, um sertanista, um indigenista esperto nessa área, um profundo conhecedor da área. Respeitadíssimo. Ele era da Funai e foi exonerado do cargo por causa da atuação firme dele".