Inauguração do quiosque Moise no Parque de Madureira Sandro Vox / Agência O Dia

Rio - A família do congolês Moïse Kabagambe, espancado até a morte em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, no início deste ano, inaugurou nesta quinta-feira (30) o Quiosque Moïse, no Parque Madureira. O local também foi transformado em um memorial e um ponto de celebração da cultura congolesa. O projeto da instalação foi uma parceria da Prefeitura do Rio com a Orla Rio. O quiosque, com 154 metros quadrados de área total e capacidade para 60 lugares, funcionará de terça a domingo.

Procurador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ), Rodrigo Mondego, leu durante a inauguração do quiosque uma carta assinada pela família. A mãe de Moïse, Ivone Lolo Lay, estava presente junto com outros familiares e amigos do rapaz.

"Hoje é 30 de junho de 2022. Estamos também comemorando 62anos de Independência da República Democrática do Congo. Hoje faz exatamente cinco meses e seis dias que nossos corações sangraram após o assassinato selvagem do nosso filho e irmão Moïse Kabagambe, que reivindicara seu salário após trabalhar de forma honesta. Esse quiosque que estamos inaugurando hoje é um sinal de compaixão para prestar homenagem a esse ilustre imigrante, para que ninguém se esqueça de Moïse no Brasil e no Mundo", reproduziu Mondego.
Moïse, que trabalhou em quiosques da orla da Barra da Tijuca, foi vítima de uma sequência de agressões no dia 24 de janeiro, segundo a família, após ter cobrado dois dias de pagamento atrasado. O corpo dele foi achado amarrado em uma escada. A Prefeitura chegou a oferecer para a família do congolês a concessão do Quiosque Tropicália, onde ele foi morto, mas os parentes não aceitaram.

"Tinha um monte de sujeito argumentando que o que aconteceu com o Moïse foi simplesmente um conflito, uma briga de rua. Não foi. Se ele fosse branco, carioca, não teria acontecido com ele o que aconteceu", disse o prefeito Eduardo Paes durante a inauguração do quiosque.

Além de ser responsável por todo o projeto, que fica fora da sua concessão, a Orla Rio também realizou a instalação de equipamentos e mobiliário, além de ter prestado todas as orientações e treinamentos à família para gerir a nova operação. O quiosque vai servir bebidas, sanduíches, petiscos, guarnições e refeições. Um retrato do rosto do congolês foi pintado no local.
Relembre o caso
Refugiado no Brasil por causa de um conflito étnico considerado bárbaro, Moïse foi espancado em uma confusão flagrada por câmera de segurança na Barra da Tijuca. Sem chance de defesa, foi amarrado, recebeu socos, pontapés, golpes com um pedaço de pau e um taco de beisebol. Foram mais de 15 minutos de agressões. Ninguém interveio nem prestou socorro. O congolês morreu oito anos após chegar ao Brasil.

Em fevereiro, três homens foram presos por agressões que levaram à morte do congolês. Eles respondem por homicídio duplamente qualificado(impossibilidade de defesa e meio cruel). No mesmo mês, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou denúncia do Ministério Público contra os três homens. Estão presos: Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota.