Gedália fez as cirurgias em 2018 mas não conseguiu reparar os procedimentos desde entãoSandro Vox/Agência O DIA
Uma delas, a autônoma Gedália Rocha, 57 anos, contou que realizou duas cirurgias com o médico, uma abdominoplastia e uma colocação de prótese nos seios, mas que não teve resultado positivo em nenhuma.
“Eu encontrei ele através da internet, ele fazia uma propaganda danada, a primeira coisa que fiz foi uma abdominoplastia, que nao ficou boa, ficou torta, mas ele falou que isso acontece, e que era pra eu voltar 30 dias depois pra consertar e fazer o seio, operei no sábado, ele me deu alta domingo, quando foi na terça liguei e falei que meu seio tava ficando escuro, mas aí ele não respondia mais, e o meu seio foi dando pus, dando necrose, afundou uma parte do peito”, contou.
Segundo Gedália, ela fez as cirurgias em 2018, e não conseguiu reparar os procedimentos desde então. Ela explicou ainda porque não realizou um registro de ocorrência anteriormente.
“Quando voltei lá pra reparar, ele me cobrou R$ 6 mil e eu não tinha, porque já tinha pago quase R$ 14 mil nas cirurgias, já tinha pego dinheiro emprestado, cartão de crédito e a gente que é pobre paga com muito sacrifício, porque é o sonho da gente. Eu procurei advogado antes, ele me pediu prova, mas eu não tinha, porque todos os documentos ficam com o médico e na clínica, e aí o advogado não pegou o caso, mas hoje como as mulheres estão vindo, eu tomei coragem e vim também, porque só tenho como provar na foto e mostrar se alguém quiser ver”, explicou.
A vítima ainda relatou que após os procedimentos cirúrgicos terem dado errado ela vem enfrentando problemas com sua autoestima. “Eu só quero corrigir isso, minha autoestima caiu, eu não vou à praia porque se for colocar um biquíni que não tenha bojo, aparece. Meu conselho é que as outras mulheres que queiram operar procure um cirurgião decente, que não vá pela internet”, finalizou.
Outra vítima, é uma aposentada, 54 anos, que preferiu não se identificar por medo de represálias. Ela conta que realizou três cirurgias com o médico em 2020, sendo abdominoplastia, mama e lipo.
“Eu operei, logo depois que voltei pra tirar o dreno, ficou tudo inchado, estava feio, aí ele fez um reparo, porque ele tinha feito uma cirurgia por cima de uma cesariana que eu tinha e ficou caído, quando voltei pra tirar os pontos, um outro problema foi que um lado do meu peito estava maior e outro menor, voltei lá de novo, fiquei com cicatrizes horríveis, um sonho que se tornou pesadelo. Eu ainda paguei para fazer um novo reparo em dezembro deste ano, uma terceira reparação, eu resolvi dar queixa depois que eu vi o caso na televisão”, contou.
A aposentada ainda fez um apelo, e espera que todas as pacientes sejam ressarcidas pelo cirurgião.
“Queria que ele desse apoio, que tivéssemos um apoio de um psicólogo, um advogado, porque não foi nada de graça, foi pago com muito sacrifício, eu peguei empréstimo pra fazer o que estou pagando até hoje, sinto falta de ajuda, um advogado que possa nos acolher. Eu ouvi dentro da clínica o pessoal falando que ele tem dinheiro pra se cobrir de outro, a gente precisa ser ressarcida, que seja feita uma correção, não por ele, mas por alguém que pudesse nos ajudar a corrigir porque eu não posso ficar assim, eu sinto muitas dores, tem dia que nem consigo dormir”, lamentou.
Uma outra mulher, que preferiu não ser identificada, é uma cabeleireira, 42 anos. Ela contou que perdeu o emprego, viveu de doações e precisou fazer uma nova cirurgia com um outro profissional a fim de reparar os danos, pois corria risco de vida.
“Eu saí da sala de cirurgia com um peito menor que o outro, tudo meu é provado e comprovado, não sei o que ele fez. Eu procurei ele porque eu já tinha feito uma abdominoplastia com ele que saiu perfeita, aí por conta disso, quando eu tive que tirar uma prótese antiga eu falei com ele, só que eu pedi uma prótese de 400ml, quando entrei na sala de cirurgia ele colocou uma de 450ml sem meu consentimento. Eu infeccionei toda, vai fazer um ano e pouco que fiz, fui em vários médicos e ninguém queria me atender porque eu tava correndo risco de vida”, disse indignada.
Em relação ao desemprego, a paciente relatou que não conseguiu continuar o trabalho porque não podia levantar os braços para fazer o cabelo das clientes, devido aos problemas nos seios.
“Eu tive gastos, vivia de doação, pessoas levavam bolsa de compra pra mim, tive que comprar remédios, parei de trabalhar, eu ainda estou endividada, só uma médica me atendeu depois do procedimento, só agora que eu vou começar a pagar 3 mil que peguei emprestado pra pagar locomoção para ir e voltar do médico, pra remédio, todas essas coisas. Eu operei em um ano e no outro tive que pagar por outra cirurgia, gastei R$ 17 mil, estando desempregada, logo no começo da pandemia, foi sério, eu fiquei torta um tempão, a prótese desceu e veio parar aqui embaixo, eu tive infecção crônica generalizada, saiu bicho do meu peito, não sei como tô viva. Eu tive depressão, perguntei a Deus o que tinha feito pra merecer isso
Uma outra paciente, que também não quis se identificar, relatou possuir diversas sequelas das cirurgias e que ficou traumatizada para realizar outros procedimentos cirúrgicos.
“Eu fiz uma cirurgia em outubro de 2020, eu vim aqui porque vi na televisão e eu fui mais uma vítima dele, eu fiquei com várias sequelas da cirurgia, eu quero justiça! Eu conheci a clínica pela internet, no primeiro atendimento foi bom, mas quando eu terminei, ele e a secretária dele não tratava a gente como antes, até porque já tinha recebido o dinheiro, eu falei com ele que não tinha gostado da cirurgia e que não tava me sentindo bem, ele fez outra cirurgia, que ficou pior ainda, eu entrei em depressão, e depois disso falei para o meu marido que não ia fazer mais nada”, disse.
De segunda(18) a terça (19) outras cinco pacientes compareceram a Deam para depor contra o médico e alegaram terem sofrido lesões graves. Ainda nesta quarta-feira (20) a paciente Daiana Chaves Cavalcanti, 36 anos, que denunciou o médico Bolivar Guerrero, por cárcere privado pelo cirurgião Bolivar Guerrerro, 63, continua em estado grave e não foi transferida para outra unidade de saúde até a manhã desta quarta-feira (20). O Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, onde a vítima está internada, ainda não cumpriu as duas liminares da justiça que determinam a transferência sob pena de multa de R$ 2 mil em caso de descumprimento.
Com medo, ela enviou áudios para o advogado, chorando, pedindo por socorro. “Eu estou muito mal no hospital e o médico não tá nem aí pra mim, só quero sair daqui, eu não aguento mais! Esse homem [Bolivar Guerrero] vai me matar, eu ja fui pra cirurgia três vezes, tenta me tirar daqui por favor, depois eu pago vc, mas me tira daqui, eu não aguento mais!”, disse
Prisão
O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso na última segunda-feira (18). A denúncia aponta que a paciente era mantida em cárcere privado na unidade de saúde por cerca de dois meses após um procedimento estético na barriga dela ter dado errado. A família foi quem procurou a delegacia para falar sobre a situação da mulher.
Os familiares acusam o médico, que administra a clínica de cirurgia plástica, de impedir a mulher de ser transferida da unidade particular para outro hospital.
Nesta terça-feira (19), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a prisão temporária do cirurgião durante a audiência de custódia.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Mas todos os procedimentos correm em sigilo.
Defesa
”Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado, ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de libero-la. Ele disse que poderio liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela o assinasse, como ela não assinou ele não liberou, pois o intuito dele é prestar toda assistência a paciente ate ela está recuperada”, informou.
A equipe reforçou ainda que a alta não poderia ser realizada porque a paciente estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização, que só pode ser manipulado por pessoas capacitadas como técnicos em enfermagem ou enfermeiros.
O Hospital Santa Branca também alegou que as acusações de cárcere privado nas dependências da unidade são infundadas e explicou que o médico Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário da empresa. Além disso, deu detalhes sobre a internação da paciente.
"Data da internação da paciente 01/06/2022. Acomodação: apartamento privativo com direito a acompanhante. Paciente recusa-se a sair da unidade, (transferida). Todo custo da paciente é mantido pelo cirurgião, inclusive com atendimentos externos". finalizaram
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