Mariana Cardim (de rosa), mãe de João Gabriel Cardim, ao lado das irmãs e da advogada Luciana MoiraCleber Mendes/ Agência O Dia

Rio - O filme preferido de João Gabriel Cardim, de 16 anos, que morreu ao ser atropelado no dia 30 de julho, era "Viva! A vida é uma festa!" e ele gostava de ver junto com sua mãe, Mariana Cardim de Lima. O influencer Bruno Krupp, de 25 anos, está preso pelo crime. Mariana contou, em depoimento na manhã desta terça-feira (9), na 16ª DP (Barra da Tijuca), que sua relação com o filho era de amizade e que, quando ele nasceu, ao vê-lo pela primeira vez, lembrou da música "Todo Azul do Mar". Mesmo o menino tendo seu próprio quarto, eles dormiam juntos quase todos os dias. "A relação era, acima de tudo, de melhores amigos, e tinham o "hobbie" de passarem todo tempo em que estavam juntos vendo filmes e "maratonando" séries", diz parte do documento obtido pelo DIA.
Em seu depoimento, Mariana, que é analista administrativo, declarou que morava com seu filho e sua mãe, e sustentava sua família com o seu salário de R$ 2.300. Questionada sobre a relação com o pai de João Gabriel, ela informou que nunca foi casada e sempre criou o filho praticamente sozinha. "Apesar da boa relação entre os dois, a declarante diz que este era bastante ausente e que criou João Gabriel praticamente sozinha com sua mãe, bem como com sua família materna".
Ainda de acordo com o depoimento, que durou cerca de quatro horas, Mariana contou que João Gabriel era filho e neto único e, desde o seu nascimento, ela viveu sua vida intensamente voltada para ele, abdicando até mesmo de se relacionar com outras pessoas por, aproximadamente, quatro anos.
Um dos sonhos de João Gabriel, segundo Mariana, era tirar a carteira de habilitação e comprar uma van para levar toda sua família para viajar. Outro, era de ser um programador e desenvolvedor de jogos digitais de RPG, inclusive ele estava fazendo curso de computação gráfica aos sábados.
Sobre o dia
Mariana relatou à polícia que, no dia 30 de julho, estava em uma festa de família na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio e, por volta das 22h, a confraternização acabou e ela decidiu ir com seu filho à praia, já que estavam perto, para molhar os pés na água antes de irem embora. "Atravessaram a primeira pista tranquilamente da Avenida LucioCosta (sentido Recreio), passaram pelo canteiro central, e, no momento em que foram atravessar a outra pista (sentido Zona Sul), viram os faróis dos carros longe e parados no sinal; Neste momento, ela dissepara João Gabriel: "Vamos filho, dá para atravessar!", diz parte do documento.
No momento em que atravessaram a segunda pista, ela informou que escutou um barulho de motocicleta muito alto, se assustou e parou. João Gabriel, ao escutar o barulho da moto, correu para a calçada, momento em que o veículo, em alta velocidade, atropelou ele. Mariana disse que, nesse momento, viu a perna do seu filho ser arremessada. "Em decorrência do acidente, viu a perna de seu filho sendo arremessada para o alto, tendo este caído ao solo completamente ensanguentado; Ela ficou desesperada e correu em direção a seu filho, que estava ao chão, e o abraçou, momento em que diversas pessoas começaram a ajudar seu filho", diz trecho do depoimento.
Ela explicou que João Gabriel estava com o rosto muito assustado, de olhos arregalados e tentou levantar diversas vezes, sem saber que estava sem perna. Mariana, então, tentou explicar para João Gabriel que ele não podia se levantar e conversou com ele, fazendo com que não olhasse para baixo. Ela disse que ele chegou a reclamar de dor na perna e perguntou se a ambulância estava perto. Depois, eles rezaram e João Gabriel disse que ia ficar tudo bem e que ia sair dessa. Ele foi levado ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca e, de acordo com Mariana, os socorristas não a deixaram ir junto.
Mariana declarou que moradores e pessoas que estavam passando pelo local ajudaram e recuperaram a perna de João Gabriel a cerca de 50 metros a frente do local do acidente e colocaram em um isopor com gelo, sendo entregue aos bombeiros no momento em que levaram o menino na ambulância. Ela ainda afirmou que viu pedaços de carne humana, músculos e muito sangue do seu filho espalhado pela Avenida Lucio Costa. Ela foi até o hospital e pediu para ficar com João Gabriel, mas não deixaram. Mariana ficou esperando notícias dele dentro do carro de seu primo e, por volta das 2h30 da madrugada, passou por uma mulher que estava chorando e resolveu dar um abraço nela, quando ouviu a frase "Me desculpe", vindo dela. "Neste momento, percebeu que esta mulher era a mãe do motorista da motocicleta que atropelou seu filho, tendo, esta, inclusive, lhe dado um terço de oração", diz depoimento.
Segundo relato de Mariana, por volta das 3h30 da madrugada, um policial foi até o carro onde estava e pediu para ela ser forte porque a situação do seu filho era gravíssima. Meia hora depois, uma mulher, familiar do motorista da moto, Bruno Krupp, disse que ele havia tido alta do hospital e pediu o contato para trocarem informações. Por volta das cinco horas da manhã, Mariana recebeu a notícia de que o filho sofreu uma parada cardíaca no meio da cirurgia e morreu.
Mariana disse que, desde então, não tem psicológico para voltar para sua casa porque tudo lembra ele. Ela contou à polícia, em depoimento, que está morando na casa de uma de suas tias e não sabe quando voltará a sua residência. Ela disse que, apesar de Bruno ter roubado a vida de seu filho e que deseja que ele pague pelo crime que cometeu, não tem qualquer tipo de rancor ou raiva dele.