O Casarão estava localizado na Rua Visconde Silva, 152, no bairro HumaitáCris Costa / Página Viver Botafogo

Rio- O som de obra parece um pesadelo ganhando forma para os moradores de Humaitá e Botafogo, na Zona Sul. A prefeitura autorizou a retomada da demolição do casarão construído em 1915, no Humaitá, pela empresa SOTER Engenharia, em despacho publicado no Diário Oficial desta terça-feira (9). A resolução foi tomada a partir do Relatório de Avaliação dos técnicos do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e da decisão adotada em sessão extraordinária pelo Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio (CPMC).
Na última quinta-feira (4), o prefeito Eduardo Paes chegou a suspender a Licença de Obras por 72h e pediu que o IRPH apresentasse em até 48h as informações e a avaliação sobre o valor imaterial do bem. Ainda na quinta, o CPMC alegou que, do ponto de vista do relatório apresentado pelo Instituto, "não foi identificado valor cultural ou simbólico que justifique o impedimento à modificação ou demolição do imóvel".
Para quem mora no bairro e não só esteve presente na manifestação de terça (2), mas viu na decisão do prefeito uma esperança, o sentimento é de impotência. "Não conseguimos salvar a casa. Por mais que a gente tenha lutado, o preço e o poder do mercado foram mais fortes", lamentou a presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiaradia, que se consola: "pelo menos temos a sensação de que tentamos. Perde a cidade e a história do bairro".
O presidente da Associação de Moradores de Humaitá, Luiz Carlos Santos, lamenta a demolição. "O interesse é o capital dessas empresas. É muito triste. Estou chocado, angustiado. Quem passar por ali agora vai ver um prédio, mas aquilo ali um dia foi muito importante para todos do bairro", explicou. Luiz lembra também da importância do Casarão para todas as gerações: "os alunos dos colégios próximos iam até lá para comprar docinho, como afirmou em sua fala um aluno, por volta dos 15, 16 anos, no dia da manifestação, totalmente contra aquilo”.
"O casarão não existe mais. Estou paralisado", disse com pesar Daniel Sampaio, dono da página Rio Antigo, com mais de 190 mil seguidores. Foi através das redes sociais que a manifestação dos moradores ganhou força e visibilidade. "Estou estarrecido com a velocidade que as coisas acontecem. Mal é concedida a autorização e a casa já está indo abaixo", lamentou.
Mas o sentimento de tristeza, para Daniel, é combustível: "Temos agora que concentrar nossos esforços em lugares que ainda dá tempo de salvar, como por exemplo as duas casas geminadas do início do século XX, na Rua Professor Gabizo, no Maracanã", frisou, e finalizou questionando: "o que vai restar para a gente contar para as próximas gerações?"
Na manifestação, os moradores pediam por mais transparência da prefeitura sobre o futuro do casarão. Questionados se o prefeito ou alguém da prefeitura chegou a conversar com eles, Regina e Daniel afirmam que Paes conversou com o dono da página  através de um aplicativo por mensagem, relatando a suspensão das obras. Daniel também encaminhou um e-mail, na última segunda (1º), para a Secretaria de Planejamento Urbano, mas disse que a pasta só retornou na quarta-feira (3) dizendo que estava preparando uma resposta.
*Estagiária Beatriz Coutinho sob supervisão de Flávio Almeida