Ao lado da tia Marcela, Mateus encontra o apoio que tanto precisa para se recuperarFoto: Arquivo pessoal

Rio - Três meses depois do grave episódio que o fez perder um rim e parte do intestino, Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos, conta que apesar de ter se recuperado muito, o caminho para sua melhora total ainda é longo e trabalhoso. Segundo ele, o processo é complicado e ainda sente dificuldades para realizar algumas pequenas tarefas sozinho.

"Está um pouco difícil, ainda tenho dificuldade para andar, necessito de auxílio na hora do banho, para secar da minha cintura pra baixo, sinto dores nas costas por causa da lesão na coluna, estou me adaptando a essa fase da minha vida tão difícil, mas sigo firme", desabafou. Mateus foi agredido e baleado pelo sargento do Corpo de Bombeiros Paulo César de Souza Albuquerque em maio desde ano, enquanto trabalhava como atendente do McDonald's da Taquara, na Zona Oeste do Rio, no dia 9 de maio deste ano. Na ocasião, segundo a vítima, o bombeiro teria feito o pedido e só após o atendente finalizar a compra, ele apresentou um cupom de desconto. Foi então que Matheus explicou que o desconto deve ser dado antes do pedido ser efetuado por normas da empresa, o militar, não satisfeito com a resposta, agrediu o jovem e, com a arma em mãos, atirou contra ele.

Ele também conta que segue necessitando de muitos tratamentos e que daqui a uns meses, após se recuperar mais um pouco, precisará iniciar outros até ter a sua vida normalizada, entre eles, a fisioterapia e o acompanhamento com um nefrologista, já que perdeu um dos rins em consequência do tiro que levou.

"Mais para frente, depois que passar esse tempo de repouso, vou precisar fazer fisioterapia, e vou estar fazendo um acompanhamento com um nefrologista pelo resto da vida pelo fato de agora eu só ter um rim e ele estar trabalhando por dois, vou ter que ter esse acompanhamento para ver como ele está, como anda o funcionamento dele se está tudo certo", explicou.

Segundo o jovem, o tratamento só está sendo possível pois muitas pessoas ajudaram na arrecadação de fundos que fez através da internet, já que ele precisou parar de trabalhar por conta das consequências em decorrência do tiro que levou e sua mãe também deixou o emprego para se dedicar a cuidar dele.

"Graças a Deus as pessoas que viram o que aconteceu pelos jornais, redes sociais, me ajudaram muito com doações na nossa vaquinha que foi criada, outras pessoas doaram bolsas de colostomia durante os meses que eu estava usando. Minha mãe teve que parar de trabalhar pra cuidar de mim e hoje o que ajuda muito é o dinheiro da vaquinha, o dinheiro que tantas pessoas se juntaram e abraçaram a causa com tanto amor e carinho, e eu agradeço muito por isso, obrigado a todos", disse.

Mateus ainda conta que o McDonald's auxilia na sua recuperação com os custos da alimentação. "Eles mandam o dinheiro da minha alimentação, porque passei pela nutricionista e ela criou um plano de alimentação que eu tenho que seguir, passou alguns produtos para eu ganhar peso e massa muscular, e eles liberaram um cartão de farmácia para pegar medicamento quando necessário", admitiu.

Reversão da colostomia

Em julho deste ano, Mateus passou por uma nova cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, que precisou usar após o incidente, e reconstrução do seu intestino. "Graças a Deus os médicos conseguiram reverter a colostomia nessa segunda cirurgia e conseguiram reconstruir o intestino também e está funcionando bem", contou.

Para a vítima e sua família, a justiça foi feita com a prisão do bombeiro, mas eles esperam que o homem não seja solto após a audiência. "O agressor continua preso e estou aguardando o resultado da audiência na esperança que ele vá a júri popular".
O bombeiro Paulo César, que atirou em Matheus, se entregou à polícia no dia 20 de maio e, na madrugada seguinte, foi encaminhado ao Grupamento Especial Prisional (GEP) do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), onde permanece preso, à disposição da Justiça.
Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que Paulo César foi afastado de suas atividades desde o ocorrido e responde a Conselho de Disciplina, cujo resultado pode levar à sua expulsão. O CBMERJ também reforça que foi aberto um IPM (inquérito Policial Militar).

Atualmente, a maior preocupação dele é se cuidar para melhorar e voltar sua vida normal, além de esquecer tudo o que passou naquela madrugada.

"O primordial é voltar com meus planos de ser um veterinário continuar a correr atrás dos meus sonhos, voltar a viver e recuperar o tempo perdido por essa tragédia. Está sendo uma luta diária contra minha mente, muitas das vezes sofro de insônia, tenho pesadelos com alguém invadindo minha casa e atirando em mim novamente. Estou com muita dificuldade para lidar com pessoas desconhecidas, principalmente do sexo masculino, devido a esse trauma. Fico bem assustado quando alguém bate no portão de casa, já fico bastante medo. Estou fazendo tratamento psicológico para me ajudar a lidar com tudo isso, e tirar esse trauma de dentro de mim", desabafou o jovem.