Morro do FubáReprodução/redes sociais

Rio – Um novo tiroteio deixou os moradores do Morro do Fubá, que fica entre os bairros do Campinho e Cascadura, na Zona Norte, em pânico na tarde desta quarta-feira (21).
Nas redes sociais, um vídeo mostra um pouco da rotina de violência por conta de uma disputa entre traficantes do Comando Vermelho e da milícia 'Tico e Teco' pelo controle total da comunidade.
Segundo a Polícia Militar, o 9º BPM (Rocha Miranda) está atuando com policiamento reforçado na região, desde terça-feira (20).

No início da tarde de hoje, equipes policiais estavam em patrulhamento nas proximidades da área de mata do bairro quando criminosos armados atiraram ao perceberem a aproximação policial e houve confronto. A Segundo a PM, a situação se encontra estabilizada. Até o momento, não há ocorrências de prisão, apreensão ou relatos de feridos.
Segundo um professor de curso técnico que teve o seu carro atingido por três tiros de fuzil, na segunda-feira (19), por volta das 6h30, durante um intenso confronto, há cerca de 15 dias os confrontos haviam cessado, mas na segunda-feira, por volta das 4h50, os tiros voltaram a ser ouvidos. No mesmo dia, três criminosos fortemente armados invadiram o terreno do prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por volta das 4h15, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, para socorrer um deles, deixando rastros de sangue pelo local. Guardas municipais atuavam em um posto de serviço no local e avistaram os suspeitos fortemente armados no pátio do edifício.
O professor, de 36 anos, que preferiu não se identificar, é morador do Morro do Campinho, na mesma região, e relatou que encontrou seu veículo e, pelo menos, outros cinco automóveis atingidos, após uma troca de tiros que ocorreu nas ruas Alberto Silva e Bauru. Não havia ninguém no veículo no momento dos disparos.

Um novo confronto ocorreu na tarde de terça-feira (20), e deixou um homem baleado, que precisou ser socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Campinho. Não há informações sobre o estado de saúde da vítima, que não teve a identidade divulgada. De acordo com a Polícia Militar, o policiamento ostensivo do 9º BPM (Rocha Miranda) está atuando de forma reforçada na região nesta quarta-feira. Veículos blindados circulam pela comunidade. Relatos de moradores dão conta de que uma nova troca tiros teve início por volta das 11h.
Morando no bairro desde que era criança, o professor afirmou que, por conta do aumento da violência, tem considerado se mudar, já que serviços como transporte escolar, por aplicativo e fornecimento de internet não querem mais atuar na área. "É muito complicado. Só tem uma solução: se mudar, porque não vejo, no momento, isso acabar. Muita gente faltou trabalho na segunda, muita gente queria vir para casa ontem e não estava conseguindo, por causa da guerra. É muito triste, estou pensando até em me mudar. A casa aqui é boa, mas a questão da segurança em primeiro lugar", declarou ele.
Há pouco mais de um mês, um turista americano que estava hospedado na casa de amigos em Cascadura foi atingido no pescoço por uma bala perdida durante uma troca de tiros no Morro do Fubá. Trey Thomas Joseph Barber, de 28 anos, chegou a ficar internado nos hospitais Municipal Salgado Filho e no Samaritano, mas morreu após dois dias, em 12 de agosto. Na mesma ocasião, dois passageiros de um ônibus também ficaram feridos. Desde então, equipes do 9º BPM ocupam o local por tempo indeterminado.
Guerra no Morro do Fubá
A comunidade era chefiada pela milícia do 'Tico e Teco', comandada por Leonardo Luccas Pereira, o 'Leleo' ou 'Teco', mas foi invadida pelo Comando Vermelho, em janeiro deste ano, liderado pelo gerente do Morro do 18, Rafael Cardoso do Valle, o 'Baby', depois que as milícias dos morros do Campinho e do Fubá foram traídas por um ex-integrante. Agora, os traficantes dominam a parte alta da comunidade, mas a parte baixa segue sendo comandada pelos paramilitares.
Desde então, os criminosos promovem uma guerra pelo controle total da região. Em uma reportagem do Dia, moradores das proximidades e do morro chegaram a contar que temem sair de casa e não conseguirem voltar, por conta das constantes trocas de tiros. Alguns deles chegaram a dizer que já perderam oportunidade de emprego e tiveram salários descontados por chegaram atrasados no trabalho, devidos aos confrontos.
Além da guerra, comerciantes e quem vive na região ainda sofrem com a cobrança ilegal de uma taxa de segurança no valor de R$ 50 por milicianos, com pagamento via Pix. No interior da comunidade, que passou a ser chamada de "Fubaquistão" pelos moradores, uma faixa chegou a ser estendida para denunciar a situação que, segundo os residentes, estaria sendo acobertada por policiais militares que atuam na área desde a morte do turista americano.