Rio - A filha afetiva de Flordelis, Érika Dias, se emocionou ao depor no Fórum de Niterói, na tarde desta sexta-feira (11), e falar sobre alguns episódios de supostos abusos sexuais cometidos pelo pastor Anderson do Carmo contra as irmãs Kelly e Simone dos Santos. Ela é a terceira testemunha de defesa do quinta dia de audiência que julga os réus Flordelis, Simone, filha biológica; André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos afetivos; e Rayane dos Santos de Oliveira, neta, pela morte do religioso.
Desde o início do julgamento, a defesa dos réus vem tentando provar que o crime foi motivado pelos supostos abusos sexuais cometidos por Anderson contra Flordelis, Simone, Rayane e outros membros da família. Já a acusação defende que o pastor foi assassinado por razões de controle financeiro e posição de poder.
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"Teve uma vez que dormia no quarto eu e Kelly. Eu acordei com a Kelly falando: 'Sai, sai, sai daqui, Niel [apelido de Anderson do Carmo]'. Eles não perceberam que eu estava acordada. Vi ele passando a mão na bunda dela quando ela estava de bruços. Kelly falava: 'Você não pode fazer isso, você é meu pai. Sai, vou falar com a minha mãe', e ele falava: 'não, não tem nada a ver. Eu não tenho filho barbado'. Então eu comecei a me mexer na cama para ele poder sair e ele acabou saindo do quarto", lembra.
Ainda segundo Érika, tempos depois Kelly comentou com ela que havia sido alisada pelo pastor. "Até pedi desculpas para ela porque eu poderia ter feito alguma coisa, para ajudá-la de alguma forma, mas eu não fiz. Eu poderia ter tido uma reação de gritar, de acender a luz", lamenta.
Érika também disse que Anderson tinha o costume de alisar a filha biológica de Flordelis, Simone, enquanto a mesma preparava a sua comida. "Ele sempre teve muita proximidade com a Simone. Parecia que era uma relação de casal, de namorado. Já vi algumas vezes passando a mão na Simone. Às vezes ela estava cozinhando e ele chegava nela pelas costas e ela falava: 'Para, Niel. Para!'. Vi umas duas vezes ele chegar por trás, abraçar ela na cintura, na altura do pescoço e nessas duas vezes ela tirava ele".
Essa versão apresentada em depoimento nesta sexta-feira (11), vai em desencontro com o depoimento dado por Érika em maio do ano passado. Em depoimento no Conselho de Ética e de Decoro Parlamentar da Câmara, a filha afetiva disse não ter conhecimento sobre as denúncias de abuso de suas irmãs.
Relação de Anderson com Flordelis, segundo filha afetiva
Para Érika, a ex-parlamentar se colocava em uma posição de submissão na relação com Anderson do Carmo. "Na minha opinião, era uma relação de submissão. Porque no dia a dia ela estava sempre atendendo as ordens dele. Ele dava as ordens e ela obedecia. Ele sempre colocava ela num pedestal, sempre deixando ela numa posição acima. Acho que ela respondia a ele atendendo tudo como forma de gratidão. Parecia estar sempre disposta a atender esses pedidos. Ela para ele era uma deusa, então para responder a ele de alguma forma, ela estava sempre submissa", observa.
A filha afetiva também descreveu um Anderson mais frio e com divergências com familiares de Flordelis. "Ele brigava muito com o Fábio Malafaia, que é irmão da minha mãe. Ele não gostava que esses parentes fossem na minha casa. Fábio sempre precisava de dinheiro, então minha mãe sabendo que dava atrito, esperava o momento que meu pai [Anderson] não estivesse na cozinha, ia lá escondido, pegava doação e dava para ele ou dava dinheiro". Ainda segundo Érika, o pastor não era amável com a mãe. "Ele chamava a mãe dele de Edna, não chamava por mãe. Teve uma vez que ela precisava de armário, porque deu uma enchente e ela perdeu tudo. Quem comprou esse armário foi minha mãe".
O depoimento da terceira testemunha do dia terminou com quase três horas de duração. Logo em seguida, uma nova confusão entre os advogados de defesa e o Ministério Público do Rio foi iniciada. Os desentendimentos foram registrados em todos os dias de julgamentos.
Depoimento de filho afetivo também reforça comportamento abusivo
A quarta testemunha de defesa do dia, Douglas de Almeida Ribeiro, filho afetivo de Flordelis e assessor parlamentar na câmara de São Gonçalo, também disse ter presenciado o abuso cometido pelo pastor contra Simone na cozinha da casa onde a família vivia em Pendotiba, Niterói. Logo depois da sua fala, que durou menos de uma hora, os advogados e o MPRJ se desentenderam novamente. O MP alegou que Douglas havia dado uma outra versão da história diante do Tribunal do Júri.
O quinto depoimento do dia foi de Marcos Silva de Lima, ex-namorado de Simone, que durou cerca de 30 minutos. Em sua oitiva, a testemunha disse ter presenciado atitudes suspeitas do pastor. "Começamos a voltar a sair, ela frequentava a minha casa e teve um dia, quando íamos para a praia, eu presenciei as ligações insistentes dele e achei estranho. Nisso e perguntei para ela o motivo disso. Ela então se abriu e disse que o padrasto tinha isso com ela, essa perseguição", lembra.
Marcos, então, foi perguntar ao Daniel, também ex-namorado de Simone e cantor gospel, para perguntar sobre o comportamento de Anderson. "A gente tem um pouco de investigação, então fui apurar esses fatos. Perguntei ao Daniel se alguma vez o Anderson havia tentado algo com Simone e ele me interrompeu e falou: 'Ih, rapaz, sai dessa, isso é problema'. Ele contou que o pastor já tinha tentado enforcar ele", disse.
Neta diz que sofreu investidas do pastor
Lorrane dos Santos Oliveira, filha de André Luiz e de Simone, foi a sexta testemunha de defesa a depor nesta sexta (11). A neta de Flordelis disse ter sofrido uma série de importunações sexuais do avô [Anderson]. Ela lembra que ele já tentou levá-la para um motel e que era orientada por Flordelis a nunca ficar sozinha com ele.
Durante o depoimento de Lorrane, Flordelis e Marzy, sua filha afetiva, saíram do Tribunal do Júri chorando, mas retornaram poucos minutos depois. Ao ser questiona pelo MPRJ o motivo de não ter denunciado esses episódios anteriormente, a neta da ex-parlamentar deu dois motivos. O primeiro porque ela não se sentiu à vontade para falar na delegacia, depois por não ter "noção" de que o comportamento do pastor era considerado um abuso.
A neta comentou também que nos três depoimentos prestados em delegacia, ela não se sentiu confortável de falar sobre, pois foi atendida apenas por homens. Em seguida, foi a vez de Rafaela dos Santos Oliveira, neta de Flordelis, prestar depoimento. Ela foi a sétima, e última, testemunha de defesa e última testemunha do julgamento a ser ouvida em juízo.
A expectativa é de que o julgamento continue ao longo do fim de semana, podendo se tornar um dos maiores da história do país. Já foram ouvidos pela manhã um psicólogo e um psiquiatra, ambos contratados pela defesa de Flordelis.
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