Agentes cumpriram 29 mandatos de busca e apreensão na sede da instituição, em Botafogo, e em endereços ligados à família Simonsen, fundadores da FGV. Numa residência na Barra da Tijuca, uma arma foi apreendida e o alvo, preso por posse ilegal
Rio - Policiais federais realizam, na manhã desta quinta-feira (17), uma operação que visa apurar um esquema de corrupção, fraudes a licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro que utilizava a Fundação Getulio Vargas (FGV). Cerca de 100 agentes cumprem 29 mandados de busca e apreensão na sede da instituição, no Centro do Rio, e em endereços, no Rio e em São Paulo, relacionados à família Simonsen, fundadora da entidade. Em uma residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, uma arma foi apreendida e uma pessoa presa por posse ilegal.
Policiais federais realizam operação na sede da Fundação Getulio Vargas, em Botafogo. Crédito: Divulgação/PF#FGV#ODiapic.twitter.com/pxqma18MuT
Além dos mandatos de busca e apreensão, vinte e seis na capital fluminense e três na cidade de São Paulo, os agentes cumpriram ordens de sequestro, e cautelares restritivas, expedidas pela 3ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro.
Agentes cumprem mandado de busca e apreensão na residência de um diretor da FGV, alvo da Operação Sofisma, na Barra da Tijuca. Crédito: Divulgação/PF#FGV#ODiapic.twitter.com/OEQGKNKNOs
Na casa de um dos investigados, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, foram apreendidos computadores, dois tablets, quatro celulares, além de duas armas e munição. Uma pessoa foi presa em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.
As investigações, que iniciaram em 2019, apontam que a instituição era utilizada para encobrir uma relação de superfaturamento de contratos no Governo Sérgio Cabral. Segundo a PF, diversos órgãos federais e estaduais fabricavam pareceres que mascaravam o desvio de finalidade de contratos que resultaram em pagamento de propinas, e funcionavam como um "biombo legal".
A PF apurou que, "mais do que emitir pareceres falsos, utilizados para camuflar corrupção de agentes públicos, a entidade superfaturava contratos realizados por dispensa de licitação e era utilizada para fraudar processos licitatórios, encobrindo a contratação direta ilícita de empresas indicadas por agentes públicos, de empresas de fachada criadas por seus executivos e fornecendo, mediante pagamento de propina, vantagem a empresas que concorriam em licitações coordenadas por ela".
Ainda de acordo com a investigação, executivos da empresa teriam utilizado empresas de fachada no país, e "titularizam offshores em paraísos fiscais como Suíça, Ilhas Virgens e Bahamas, para ocultar a origem ilícita do dinheiro, indicando não só a lavagem de capitais, como evasão de divisas e de crimes fiscais".
Batizada de Sofisma, a operação, de acordo com a PF, faz alusão à figura grega dos Sofistas, filósofos que, por meio da argumentação, transformavam em verdade informações que sabiam ser falsas, com a intenção de manipular a população.
As penas dos crimes investigados podem chegar a quase 90 anos de prisão.
Instituição repudia operação
A Fundação Getulio Vargas informou, por meio de nota, que os dirigentes da instituição têm sido alvo de perseguição por "supostos fatos de até 15 anos atrás". Além disso, ressalta que a ação causa "estranheza e profunda indignação".
Confira a nota na íntegra
A FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS foi surpreendida na manhã dessa 5ª feira, 17/11/2022, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão em suas dependências do Rio de Janeiro e de São Paulo, por força de decisão do Juiz Substituto da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Vitor Barbosa Valpuesta. Tal decisão acolhe pedido do Ministério Público Federal formulado em face de alegadas irregularidades em contratos firmados pela instituição, com base em depoimentos do ex-governador Sérgio Cabral, não obstante a sua delação ter sido anulada pelo Supremo Tribunal Federal.
Desde 2019 a FGV, assim como seus dirigentes, vêm sendo alvo de perseguição e vítimas de imputações quanto a supostos fatos de até 15 anos atrás, que redundaram no ajuizamento de uma Ação Civil Pública que teve sua inicial indeferida e, rigorosamente, versou sobre todos os temas agora utilizados para deferimento da medida de busca e apreensão.
Como se não bastasse, a FGV firmou Termo de Ajustamento com o Ministério Público do Rio de Janeiro, que foi homologado judicialmente e vem sendo regiamente cumprido, motivo, inclusive, de elogiosas manifestações por parte dos órgãos de fiscalização.
Causa, pois, estranheza e profunda indignação a reiteração, na esfera federal, de temas já sepultados perante a justiça estadual que, agora requentados, maculam gravemente a imagem de uma entidade que, há mais de 70 anos, tanto contribui para o desenvolvimento do Brasil, que, atualmente, é a 3ª mais respeitada instituição do mundo, em sua área de atuação.
A FGV reitera sua confiança nos poderes constituídos, em particular no Poder Judiciário brasileiro, e adotará todas as medidas cabíveis para defesa de sua história, que a tornou motivo de orgulho para o setor produtivo brasileiro, de sua imagem e da honradez com a qual, desde 1944, atua ao lado das principais instituições do País.
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