Juninho Varão e Zinho protagonizam uma das guerras por territórioReprodução

Rio - A guerra que acontece entre milícias em Seropédica, na Baixada, provocou a morte do universitário Bernardo Paraíso, de 24 anos, na última segunda-feira (8). No tiroteio, uma mulher e mais duas crianças foram baleadas. Segundo moradores, a região vive em constante conflito devido a disputa entre criminosos rivais que usam de extrema violência. Dentre os principais líderes que comandam grupos fortemente armados estão os milicianos Gilson Ingrácio de Souza Júnior, o Juninho Varão, Luiz Antônio Braga, o Zinho, e Jefferson Araújo dos Santos, conhecido como Chica.

Segundo a Polícia Militar, o confronto que matou o estudante ocorreu entre grupos rivais na antiga Estrada Rio-São Paulo, uma área de intenso movimento, por volta das 15h30. Na ocasião, alguns milicianos usavam roupas camufladas e seguravam armas de grosso calibre. Imagens que circulam nas redes sociais mostram a intensidade dos disparos.

A antiga Rodovia Rio-São Paulo, um dos principais pontos de atuação dos criminosos, liga a Avenida Brasil, corta a cidade de Nova Iguaçu e chega à Seropédica. O município é considerado uma área estratégica por causa da proximidade com a Rodovia Rio-Santos e com o porto de Itaguaí.

Entenda a disputa

Em Seropédica, a guerra entre grupos rivais se intensificou a partir de março deste ano após o assassianato do miliciano Ricardo Coelho da Silva, de 38 anos, conhecido como Cientista, que assumiu a liderança da milícia da região, após a morte de Tauã Oliveira, o Tubarão. Agora, quem comanda o grupo é Juninho Varão.

Cientista morreu pouco mais de um mês depois de Tubarão, dentro de uma casa de festas na Rua Ponte Nova, no Tanque, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Segundo testemunhas, homens armados e encapuzados invadiram o local e foram direto na direção da vítima.

Por seu domínio em Seropédica e em parte da Baixada, Tubarão era apontado como um dos principais rivais do grupo de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, que está preso desde dezembro do ano passado após se entregar à Polícia Federal na véspera do Natal. Segundo investigações, seu sucessor é Rui Paulo Gonçalves Estevão, conhecido como Pipito.

Já o miliciano Chica, considerado braço direito de Tubarão e aliado de Juninho Varão, recentemente deu um golpe na milícia, roubou fuzis e se aliou à facção de traficantes. Agora, os três grupos, disputam o domínio da região.

Mudanças na milícia

A influência da milícia em regiões do estado do Rio é um problema antigo. O miliciano Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, morto em 2017, liderava a antiga Liga da Justiça. Em seguida, Wellington da Silva Braga, o Ecko, seu irmão, assumiu o comando e expandiu os domínios da organização fundada por Carlinhos.

Quatro anos depois, Ecko foi morto em uma operação policial e Zinho assumiu o posto de líder. No comando do grupo, ele acabou rompendo com algumas alianças antigas. Uma delas era com Danilo Dias Lima, o Tandera, considerado seu principal rival atualmente. No passado, Zinho controlava boa parte da Zona Oeste do Rio e Tandera, áreas da Baixada Fluminense. Com o rompimento da aliança, os dois passaram a travar uma guerra sangrenta por territórios.

Tubarão entra na história como integrante do grupo comandado por Zinho até dezembro de 2022. Em janeiro de 2023, os dois se tornaram inimigos. De acordo com a Polícia Civil, ele era o homem que liderava intensas guerras com a milícia rival. Tubarão também era investigado por envolvimento em ataques a motoristas de van em Campo Grande.
As localidades conhecidas como KM 32 e KM 34 da antiga BR-465, Estrada Rio-São Paulo, em Seropédica, eram dominadas pelo bando de Zinho e chegaram a sofrer uma invasão no início do ano passado, mas foram retomadas. Entretanto, em fevereiro do mesmo ano, o grupo liderado por Tubarão, com ajuda de traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), conseguiu expulsar os rivais do local e passaram a dominar a área até o KM 40.

Com a prisão de Zinho no ano passado, seu sucessor seria seu sobrinho, Mateus da Silva Resende, conhecido como Teteu ou Faustão, mas ele foi morto durante uma operação dois meses antes do tio se entregar. Na ocasião, a morte provocou um caos na Zona Oeste, onde criminosos incendiaram 35 ônibus.

Como segundo na hierarquia, Antonio Carlos dos Santos Pinto, conhecido Pit, era esperado para assumir o posto de líder, mas foi morto pouco tempo depois da prisão de Zinho. Ele foi atingido por diversos disparos durante um confronto com criminosos rivais. Na época, ele estava dentro de um carro com o filho de 9 anos, que também não resistiu. Com isso, o comando do grupo passou para o miliciano Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito, que está foragido.

Já Juninho Varão era considerado um dos homens fortes de Danilo Dias Lima, o Tandera, mas após um golpe, passou a controlar a milícia que atua em bairros como Cabuçu, Palhada, Valverde e Grão Pará, em Nova Iguaçu. No município, ele disputa o controle de territórios com Zinho. Em maio do ano passado, ele foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MPRJ), mas continua foragido.

Juninho também mantinha uma aliança com o Tubarão, por isso é um dos nomes investigados como sucessor do miliciano. Os dois enfrentaram Zinho.

Segundo o Ministério Público, ele tem diversas passagens por homicídio, tortura e organização criminosa, e era responsável pelo controle financeiro da quadrilha, além de participar diretamente da compra de armas e munições.

Policiamento
No início do mês, policiais civis da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) foram baleados durante troca de tiros com suspeitos em Seropédica, na Baixada. Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) também participaram do confronto. Os bandidos fugiram.
Procurada, em relação ao policiamento na região, a PM informou que neste ano de 2024, o 24ºBPM (Queimados) realizou mais de 200 prisões em sua área de policiamento.
"O comando da unidade enfatiza que aplica o policiamento nos municípios que compreendem sua região de atuação com setores e subsetores de rádio patrulha, Grupamento de Ações Táticas, bem como motopatrulhas com viaturas baseadas em pontos estratégicos. O referido município conta com roteiros de rondas visando prevenir e coibir delitos na região, além do batalhão também empregar policiais militares pelo Regime Adicional de Serviço (RAS)", disse em nota.
Ainda em comunicado, a corporação informou que pelos dados disponibilizados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) a área de policiamento do 24ºBPM (Queimados) apresentou redução de 12,5 % no indicador estratégico letalidade violenta quando comparados os meses de janeiro a fevereiro de 2024 em relação ao mesmo período de 2023.

Morte de universitário
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na Baixada Fluminense, estendeu a suspensão das aulas até a próxima sexta-feira (12) devido ao tiroteio que matou o aluno Bernardo Paraíso, de 24 anos. Na terça-feira (9), um dia após o confronto, as atividades também foram suspensas.
Bernardo era aluno de Ciências Biológicas e será enterrado na manhã desta quarta-feira (10), no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. O jovem estava em frente a um supermercado próximo à faculdade quando começou a troca de tiros.
Durante o confronto, Rosiane Claudio de Freitas, de 34 anos, um bebê de um ano e uma menina de 3, foram encaminhados para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HPAPN), em Duque de Caxias, também na Baixada, após serem baleados.
O bebê foi atingido no joelho esquerdo, passou por exames de imagens que não constataram fraturas e recebeu alta ainda na noite de segunda-feira (8). Já a menina foi baleada na região da coluna cervical e do braço esquerdo. Ela passou por uma cirurgia nesta terça-feira (9) e segue internada em estado grave no CTI Pediátrico do Hospital Adão Pereira Nunes, em Caxias. Enquanto Rosiane, baleada na perna esquerda, foi liberada após avaliação médica após não apresentar lesão óssea.
Ainda na terça (9), a Polícia Civil identificou os dois homens que foram presos em flagrante após o tiroteio. Suspeitos de integrar milícia, Edson Jaci da Silva de Aquino e Cleber Barbosa dos Santos foram detidos por policiais civis e agentes do Programa Seropédica Presente, que também apreenderam um fuzil, duas pistolas, uma granada, dinheiro e dois veículos roubados.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídio da Baixada Fluminense (DHBF), que atua para identificar os responsáveis pelos disparos que atingiram as vítimas. A suspeita é de que o tiroteio tenha ocorrido pela disputa de território por organizações criminosas na região. Nas redes sociais, moradores reclamaram que Seropédica tem sido palco de uma guerra violenta entre bandidos.