Marido de Deborah Vilas Boas Pires desolado ao saber do assassinatoRenan Areias / Agência O Dia

Rio - Durante uma tentativa de assalto na manhã desta terça-feira (18), uma mulher que aguardava no ponto de ônibus e um passageiro foram mortos a tiros em um confronto entre policiais militares e criminosos na Linha Amarela, altura da saída 7, em Bonsucesso, Zona Norte do Rio. Este incidente trágico não é um caso isolado. O Rio de Janeiro vive uma série de confrontos violentos entre policiais e criminosos em espaços públicos, resultando em mortes de civis inocentes. Só nesta semana, três pessoas morreram baleadas em conflitos policiais: Deborah Vilas Boas, de 27 anos, José Carlos da Silva, 64, e Marcelo Ressol, de 60. 
Entre as vítimas da violência está Adriana dos Santos Ribeiro, de 43 anos, que morreu no dia 3 de maio de 2023, após ser baleada durante um confronto em Madureira, também na Zona Norte. Naquele dia, a Polícia Militar realizava uma operação para prender integrantes de uma quadrilha de roubo de veículos. Durante a abordagem, um tiroteio teve início. Adriana, outra mulher, dois policiais civis e três suspeitos foram baleados. Adriana não resistiu aos ferimentos.
Outro caso emblemático é o de Eloah Passos, uma menina de apenas cinco anos, morta por uma bala perdida enquanto brincava em seu quarto na Ilha do Governador. O tiro, que perfurou a janela de seu quarto, foi disparado durante uma ação policial na manhã de 12 de maio de 2023. A Polícia Militar afirmou que estava respondendo a um ataque de criminosos, mas um inquérito concluiu que o disparo fatal partiu da arma de um sargento da PM.
A violência também atingiu Sabrina Waisfougel Monteiro, uma sargento do Corpo de Bombeiros, baleada no dia 2 de abril deste ano, durante um assalto na Tijuca. Sabrina estava de folga quando foi atingida no tórax em uma troca de tiros entre um policial militar e bandidos. Ela foi socorrida e, após sete dias internada, recebeu alta, mas o trauma físico e emocional permanece.
Em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, Rosimely Ximenes de Mesquita Martins, de 55 anos, foi vítima de uma bala perdida durante um confronto entre policiais e criminosos no dia 19 de abril, 17 dias depois de Sabrina. Rosimely foi socorrida pelo próprio filho após ser baleada na cabeça, mas não resistiu aos ferimentos. O incidente, ocorrido durante uma tentativa de abordagem a uma motocicleta, está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) e pela Corregedoria Geral da PM.
Em maio, Juliano Bolson Soares foi morto durante uma tentativa de assalto na Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido. As imagens de uma câmera de segurança mostraram Juliano se rendendo aos assaltantes quando policiais militares chegaram atirando, atingindo-o fatalmente. A PM alegou que seus agentes foram atacados e responderam ao fogo, mas as circunstâncias exatas ainda estão sendo investigadas.
O que diz a Polícia Militar?
A Polícia Militar, por meio da assessoria, que as ações da corporação são pautadas pelo planejamento prévio, sendo direcionadas pelas análises das manchas criminais locais, e são executadas dentro do previsto na legislação vigente.
Dentre as principais metas do atual comando da corporação, estão o combate direto aos grupos criminosos organizados, que promovem disputas territoriais na região metropolitana e interior do Estado, assim como o combate aos roubos e crimes nas ruas, visando o aumento da sensação de segurança da população de maneira geral.
Ainda conforme a PM, o resultado dessa metodologia de atuação se reflete em dados compilados. De acordo com os últimos índices do Instituto de Segurança Pública (ISP), as mortes por intervenção de agente do Estado nos quatro primeiros meses deste ano apresentaram diminuição 51% em relação ao mesmo período do ano passado, o menor número da série histórica desde 2014.
"A corporação destaca ainda que a opção pelo confronto é uma conduta dos criminosos, que promovem ataques inconsequentes com armas de guerra não somente contra as forças de segurança do Estado, mas também contra toda a sociedade. A Secretaria de Estado de Polícia Militar, com o amplo aporte do Governo do Estado e de maneira integrada com as Secretarias de Estado de Segurança e de Polícia Civil, seguirá investindo em tecnologia, capacitação do efetivo, infraestrutura e logística para tornar cada vez mais a atuação da corporação precisa e efetiva, visando um único objetivo: a segurança da população do Rio de Janeiro", diz a nota. 
Segundo os agentes, nos primeiros cinco meses deste ano, mais de 15.000 pessoas foram presas e 2.000 adolescentes infratores apreendidos, grande parte destes envolvidos com grupos criminosos de traficantes de drogas, roubadores e milicianos. Nessas ações, mais de 2.900 armas de fogo foram retiradas das ruas, dentre elas mais de 295 fuzis de guerra.
Mortos na Linha Amarela
Deborah Vilas Boas, de 27 anos, que morreu baleada na manhã desta terça-feira (18) em um ponto de ônibus durante o tiroteio na Linha Amarela, foi mãe em novembro do ano passado e comemorou o "mêsversário" da filha no último dia 13, quando a menina completou sete meses. Segundo familiares, ela estava a caminho do trabalho na Barra da Tijuca, Zona Oeste quando a fatalidade aconteceu. Ainda na ação, um passageiro morreu e uma terceira pessoa ficou ferida.
Deborah trabalhava como faturista na área da saúde em uma empresa na Barra da Tijuca e tinha acordado por volta das 3h. O caso ocorreu pouco antes das 6h. De acordo com a Polícia Militar, no local houve um confronto entre policiais militares e criminosos devido a uma tentativa de assalto.
Na ação, agentes do 22º BPM (Maré) observaram bandidos em um veículo que tentavam roubar uma motocicleta no sentido Barra da Tijuca. Ao intervirem, os suspeitos atiraram contra os policiais e na direção do ponto de ônibus, momento em que Débora foi baleada. Uma das balas atravessou a janela de um coletivo e acertou José Carlos da Silva, que também não resistiu. 
Mortes na Zona Norte
Só na Zona Norte foram quatro mortes nos últimos dois dias, somando com os óbitos na Linha Amarela. Um homem morreu após ser baleado durante uma operação da Polícia Militar na tarde desta segunda-feira (17), no Engenho da Rainha. Marcelo Ressol, de 60 anos, estava na frente de uma casa quando foi atingido.
De acordo com a Polícia Militar, agentes do 3º BPM (Méier) realizavam uma operação em uma comunidade do bairro quando foram alvos de ataque a tiros em diversos pontos da região, o que gerou confrontos. Um dos tiros atingiu a vítima.
Também na Zona Norte, no mesmo dia, um homem morreu após ser baleado em um confronto entre policiais militares e criminosos na Rua Professor Lace, em Ramos. Segundo a Polícia Militar, agentes do 22º BPM (Maré) foram atacados durante um patrulhamento na região.
Os suspeitos fugiram logo após a troca de tiros. Posteriormente, agentes da Unidade de Polícia Pacificadora Adeus/Baiana, foram acionados para checar a entrada de um homem, ainda não identificado, na UPA do Alemão.