Após morte do filho na Maré, diarista revive medo de operações
As recentes investidas armadas no conjunto de favelas da Zona Norte faz com que Bruna da Silva fique com medo de perder mais um filho para a violência
Rio - Quando ouviu gritos e tiros ao redor de casa, no complexo de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio, por volta das 11h da segunda-feira 6 de maio, a diarista Bruna da Silva, de 37 anos, reviveu o pesadelo vivenciado em 20 de junho do ano passado. Naquele dia, seu filho Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, tentava ir para a escola, quando foi baleado durante uma operação policial e morreu.
"Naquele dia havia três helicópteros da polícia sobrevoando a favela. Um deles começou a atirar de cima, e meu filho se escondeu. Quando os tiros pararam, ele retomou o caminho para a escola, acabou cruzando com um caveirão e os policiais atiraram", narra Bruna. Além do filho dela, outras cinco pessoas foram mortas.
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Nesta segunda, era a outra filha, de 13 anos, que estava na escola quando os tiros começaram. "Eu subi na laje para recolher uma blusa de escola da minha filha e vi o helicóptero da polícia", conta. "O abuso é o mesmo, eles atiram para depois perguntar quem é. Não importa mais quem é, eles estão aqui para matar. Foi tudo igual, mas eu não posso deixar o Estado devolver minha filha como devolveu meu filho".
Bruna contou os momentos de aflição que viveu, com medo de que a perda de quase um ano atrás se repetisse. "Você quer chegar na sua filha, mas não pode sair (de casa) no meio dos tiros", diz, explicando que a menina não estava entre as crianças fotografadas correndo em pânico. "Falei com o diretor da escola e ele garantiu que não iria liberar as crianças, aí fiquei mais aliviada. Mas outros alunos tinham sido liberados pouco antes, quando ainda não havia operação. Aí o helicóptero chegou dando tiros e as crianças já estavam na rua. Não tinha mais como recolhê-las, então elas ficaram à mercê dos tiros".
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A Defensoria Pública, que esteve na comunidade, contabilizou 22 marcas de tiros que teriam sido disparados do helicóptero. A operação, realizada pela Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da Polícia Civil, terminou com três presos e oito mortos.
Em 2018, um dia após a morte de Marcos Vinícius, a Defensoria Pública ajuizou ação civil pública, pedindo que a polícia fosse proibida de atirar a partir de helicópteros, mas a liminar foi negada.