Ieda Regina, de 37 anosArquivo Pessoal

Por Karen Rodrigues*
Rio - Sobreviventes do acidente envolvendo um carro e um ônibus do BRT Rio, na noite desta quarta-feira, relataram que sofreram traumas físicos e psicológicos. Cristiane da Silva, de 38 anos, Ieda Regina, de 37 anos, Cauané Ferreira, de 21 anos, estavam voltando do trabalho no ônibus do BRT Rio, quando o transporte tombou após se envolver em um acidente com um veículo de passeio. Um mulher morreu e mais de 50 passageiros ficaram feridos. As vítimas foram encaminhadas aos hospitais Miguel Couto, Lourenço Jorge, Albert Schweitzer, Getúlio Vargas, Dom Pedro II e Rocha Faria.
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A babá Ieda Regina sofreu uma luxação no joelho esquerdo e no tornozelo devido ao peso das pessoas que caíram em cima dela e foi encaminhada ao Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. Ela contou que pega todos os dias o transporte para ir e voltar do trabalho no Recreio dos Bandeirantes, e, nesta quarta-feira, embarcou em pé no ônibus devido à lotação.
"O ônibus estava superlotado como sempre, porque a gente não tem direito de escolher. Infelizmente, eu estava em pé, prensada na porta, do lado ao contrário de onde o ônibus virou. O médico disse para agradecer. 'Só de você estar bem, estar falando. Graças a Deus que vocês estão bem, tem pessoas piores, porque o acidente foi de grandes proporções.' Eu fui socorrida pela ambulância do bombeiro, fui para o Hospital Pedro II, o ortopedista avaliou e me deu alta e falou para eu continuar o repouso em casa".
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Ieda relatou que o acidente foi muito rápido e que só percebeu o acidente quando o carro tombou e, logo em seguida, o ônibus virou também. Ela ainda disse que a parte da frente do BRT caiu primeiro e depois a parte de trás, onde ela estava, virou de lado.
"Todo dia isso, nada muda, é acidente, é porta que quebra no caminho, a gente fica à mercê da sorte. Infelizmente, a gente depende desse transporte público. Ninguém do BRT entrou em contato, não deram nenhuma satisfação".
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A jovem Cauané Ferreira, de 21 anos, também estava no ônibus a caminho de casa em Guaratiba. Ela sofreu uma lesão no músculo da perna, após as pessoas pisarem nela para tentarem sair de dentro do veículo, e foi encaminhada ao Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, na Zona Sul, mas já teve alta hospitalar.
"Foram questões de segundos, mas parece agora que foi em câmera lenta. As pessoas não respeitam, foi cada um por cima do outro. Hoje estou sentindo dor de cabeça fraca e dor no corpo. Eu já sei que vou ter que voltar na clínica ou no posto de saúde. Eu só ganhei dois dias de atestado, não sei se em dois dias de atestado minha perna vai melhorar, nem sei se vou conseguir ir trabalhar. Eu estou andando com ajuda do meu esposo", disse.
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Cauané trabalha com panfletagem em um clínica de odontologia no Recreio dos Bandeirantes. Além de ter se machucado, a jovem está sofrendo com os traumas psicológicos causados pelo acidente. Uma amiga de Cauané não resistiu aos ferimentos e morreu no acidente.
"Muita gente caindo. Foi horrível, aconteceu muito rápido. Para eu sair um moço teve que me ajudar, ele pediu para eu fechar o olho, para eu não ver minha amiga morta. Mas quando eu vi a senhora, a primeira coisa que eu vi foi a cabeça e a roupa dela. Não vi o corpo dela, mas essa situação passou na minha cabeça a noite toda".
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A jovem ainda voltou do hospital em outro ônibus do BRT Rio e reviveu o acidente indo para casa. “Eu não vou falar que a culpa é do motorista, a culpa é do pessoal dos ônibus. O ônibus estava cheio, vindo devagar, o motorista foi ate responsável, só que os ônibus são muito sucateados, aí o ônibus tombou. Foi horrível a situação. Quando voltei do Miguel Couto, tive que pegar o BRT de novo. Cada curva que o BRT fazia meu coração disparava, aí só me vinha a lembrança do BRT virando, que eu vi a sanfona do ônibus virando.”
O marido de Cauané, Matheus Rodrigues, de 21 anos, disse que deve ir à delegacia pedir indenização do BRT Rio. "O BRT não sabe nem quem ela é, nem se pronunciou. Todo dia o BRT é um estresse, todo dia é pior. Esse Transoeste é horrível, é inadmissível, a gente fica colado com as pessoas. A gente quer um transporte seguro. Eu estou com medo de pegar BRT. Como que eu vou trabalhar agora pensando nisso?".
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Outra passageira que sobreviveu ao acidente foi a manicure Cristiane da Silva. Segundo informações da filha Raissa da Silva, Cristiane quebrou o braço e ainda está internada no Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, sem poder receber visitas. A manicure deve passar por uma cirurgia no braço.
A mãe de quatro filhos estava voltando do trabalho, assim como outros passageiros, indo para casa em Santa Cruz. "Ela falou que foi muito rápido, que nem teve como ver. Foi preocupante, foi muito do nada. Ela conseguiu ligar para o meu padrasto que me ligou", contou a filha.
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Feridos no acidente
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ao todo, 49 pessoas foram atendidas em hospitais municipais após o acidente. Entre os pacientes, 43 receberam alta hospitalar. Os cinco que permanecem internados têm quadros estáveis.
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A direção do Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC) informou que quatro pacientes deram entrada na unidade oriundos do acidente do BRT. Três já receberam alta e um segue em atendimento.
De acordo com a direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), cinco pacientes foram atendidos na unidade e já receberam alta médica.
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Acidente
Um ônibus do BRT Rio tombou após se envolver em um acidente com um carro de passeio, na noite desta quarta-feira, entre as estações Embrapa e Mato Alto, no corredor Transoeste. Por causa do grave acidente, o município entrou em estágio de mobilização às 21h.
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Em um áudio enviado ao WhatsApp do DIA, uma mulher que não teve a identificação revelada, disse que estava atrás do BRT quando aconteceu o acidente. "Esse carro vermelho invadiu a pista e o motorista não conseguiu frear e tombou. Tem muita gente ferida. Tem gente morta. Tem uma moça presa nas ferragens. Muito triste", desabafou.
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Única vítima fatal
Eliana Almeida de Carvalho, de 56 anos, foi a vítima fatal do acidente envolvendo um carro de passeio e um ônibus do BRT, que aconteceu por volta das 19h40 desta quarta-feira, entre as estações Embrapa e Mato Alto, no corredor Transoeste. Mãe de três filhas e avó de três netas, parentes e amigos contaram em entrevista ao "RJTV 1" que Eliane trabalhava em uma escola no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, e que não fazia parte da sua rotina voltar de BRT para casa.
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*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes