Campus da UFRJ, na Ilha do Governador: abandono pelo governo federal preocupa
Campus da UFRJ, na Ilha do Governador: abandono pelo governo federal preocupaLuciano Belford / Agência O Dia
Por Larissa Amaral
Rio - Abandonado. É assim que se encontra o campus da Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), eleita a segunda melhor instituição de ensino superior da América Latina, de acordo com Conselho Superior de Investigações Científicas, da Espanha. A falta de repasse para a melhor universidade do Brasil, segundo o mesmo levantamento, faz com que serviços essenciais corram o risco de ser inviabilizados. Mas esse problema não é novo. Mesmo antes da pandemia, a mestranda em fonoaudiologia Alessandra Lyra, 23 anos, já enxergava essa difícil realidade durante a rotina de aulas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ).
"A última vez em que eu estive lá, na quinta-feira passada, fiquei apavorada. Apesar da rotatividade de alunos que estudavam presencialmente, o Fundão já era conhecido como um lugar perigoso. Com a falta de aulas presenciais, com o ensino remoto, está tudo muito vazio. Tem um número enorme de pessoas te abordando na rua, dá medo. Enxergo que o trabalho das pessoas em volta, que se alimentavam da UFRJ, acabou sendo muito prejudicado", analisou.
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Estudante de mestrado na Colorado State University (CSU), nos Estados Unidos, Lucas Avelar, 23, deixa claro como a graduação em História pela UFRJ foi essencial para que alcançasse o magistério em uma instituição no exterior.
"A UFRJ é um universo cosmopolita que engloba perspectivas de mundo tão diferentes que foi essa diversidade, não só de ensino, como cultural, que me impulsionou pra chegar onde cheguei agora. A UFRJ oferece cursos de língua estrangeira de graça, extensão cientifica que é extremamente reconhecida fora do Brasil. No meu currículo, o fato de eu ter feito extensão, aqui no Estados Unidos, me leva para qualquer emprego", defendeu. 
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O estudante de história pública e preservação histórica afirmou, ainda, que o contato com os professores da instituição e os projetos em que participou são considerados referência na universidade norte-americana. "Tudo o que eu trago para cá é visto como excepcional. Não é pouca coisa. Nosso nível de graduação no Brasil, nas universidades públicas, prepara a gente para um mercado de trabalho tão vasto e um nível tão alto que um mestrado fora, depois de uma graduação no Brasil, parece uma outra graduação no Brasil. Uma graduação no exterior parece menos do que a graduação no Brasil e eu vejo isso com meus próprios alunos", apontou.
O empresário Lucas Cruz, 30 anos, consegue enxergar o sucateamento das instalações do Hospital Universitário durante as visitas à companheira, internada desde segunda-feira. "O impacto que isso causa na vida da população, que depende de todos os serviços da UFRJ, é incalculável. Acho que ainda dá tempo de correr atrás e mudar tudo, mas tendo em vista mais dois anos de governo, a situação é daí pra pior", opinou.
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Apesar das condições precárias causadas pela falta de verba para a limpeza e insumos, como apontou a reitora da UFRJ, professora Denise Pires, Lucas percebe o cuidado que a equipe de saúde tem com os pacientes e familiares. "Todos temos relacionamento com a UFRJ de alguma forma, seja utilizando uma tecnologia que eles desenvolveram, seja com dados estatísticos de diversas áreas. A relação que a gente tem com a UFRJ é porque ela é super importante para todos os segmentos da população", afirmou. 
Crise orçamentária
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Durante coletiva de imprensa, nesta quarta-feira, Denise Pires destacou que, por causa do corte orçamentário, não será possível manter abertos os 150 leitos destinados a pacientes com covid-19, sendo 60 de UTIs no Hospital Universitário. 
"Abrimos um CTI com 60 leitos que foram doados pelo movimento União Rio, todo reformado, mas que só funciona se houver pessoal e insumos. Então, a verba que veio do MEC para a UFRJ em 2020 foi fundamental para a abertura desses leitos e para a contratação de pessoal. Nós recebemos verba do Ministério da Saúde e é o que mantém essas vagas abertas sob o ponto de vista de pessoal, não sob o ponto de vista de limpeza, nem tampouco da compra de insumos que é feita com verba do SUS e da reitoria da UFRJ", explicou.
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Pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ, Eduardo Raupp detalhou que o aporte necessário para pagar as contas da Instituição seria de R$ 330 milhões por ano. No entanto, cerca R$ 299 milhões foram reservados para 2021, mas R$ 152,2 milhões ainda não foram repassados para a Universidade por dependerem de suplementação no Congresso Nacional. Ainda dentro desse valor, R$ 41,1 milhões foram bloqueados pelo Governo Federal.
Até o momento, de toda a verba que deveria ser destinada à UFRJ, apenas R$ 146,9 milhões foram liberados. Hoje, há apenas R$ 81,7 milhões em caixa, o que permite, no máximo, três meses de funcionamento.