Trilhos na comunidade da MuzemaArquivo Pessoal

Por Jenifer Alves
Rio - Em uma visita do prefeito Eduardo Paes e do secretário de Ordem Pública, Breno Carnevale pela Muzema, no último dia 14, moradores da comunidade da Zona Oeste do Rio informaram ao DIA que milicianos utilizavam trilhos de trens nas construções irregulares da região. Segundo relatos, o grupo criminoso paga pelos materiais que são roubados. A SuperVia informou que desde janeiro deste ano ocorreram cinco casos de furtos de trilhos.
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Um morador da região que não quis se identificar conta que os paramilitares compram o material roubado por criminosos. Os trilhos são usados como calço nas fundações dos prédios construídos irregularmente.
"Os trilhos são usados para fazer os calços das fundações dos prédios que cedem e quando estão construindo os edifícios. É fácil saber quando uma construção é da milícia ou tem um miliciano envolvido, é só ver os trilhos: se tiver, tem milícia", disse. Segundo ele, diversos criminosos envolvidos com imóveis irregulares também têm lojas de material de construção, o que facilita que novos prédios sejam erguidos.
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Durante sua passagem pela comunidade, Paes destacou que novas construções na Muzema serão demolidas caso sejam identificadas por agentes da prefeitura. "Tudo que fizer de obra nova aqui vai ser derrubado. Não comprem! Não se mudem pra cá!", disse. O morador revelou à reportagem que houve uma movimentação dos bandidos para realocar pessoas para imóveis que seriam demolidos e assim, evitar que os edifícios sejam afetados pela decisão do prefeito.
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Ainda segundo ele, os trilhos são utilizados na Muzema, Rio das Pedras e no Anil. "A maioria fica escondida nos matos das redondezas, como alguns são enormes, ficam no mato. Quando surge algum comprador, eles cerram em partes para distribuir em partes menores".
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A SuperVia disse que, o primeiro caso de furto de trilho contabilizado em 2021 foi no dia 13 de janeiro. Na ocasião, um agente encontrou um trilho de oito metros que fora deixado por criminosos sobre a linha férrea. Os bandidos fugiram. Em função disso, a circulação precisou ser interrompida. A ocorrência foi registrada na 21ªDP (Bonsucesso). Outro episódio ocorreu na manhã do dia 17 do mesmo mês, nas proximidades da estação Maracanã, onde quatro bandidos, alguns deles armados, roubaram pedaços dos trilhos. A Supervia realizou pré-registro da ocorrência online.
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Na tarde do dia 9 de março, cerca de quinze pessoas armadas entraram no sistema pela via férrea, nas proximidades da estação Bangu e seguiram até Senador Camará, de onde levaram os trilhos. A companhia registrou o caso na 34ª DP (Bangu). No dia seguinte, cinco criminosos roubaram trilhos em Campos Elíseos, com ocorrência registrada na 59ª DP (Duque de Caxias). Já no dia 11 de abril, a SuperVia constatou o furto de 8 metros de trilhos nas proximidades da estação Campos Elíseos (ramal Saracuruna) e a ocorrência foi registrada online pela empresa.

A companhia disse que precisou adotar novos horários de manutenções programadas e novos procedimentos operacionais durante os trabalhos para diminuir as ações criminosas e disse que lamenta o ocorrido. 
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"A concessionária lamenta o aumento de ações criminosas praticadas contra o sistema ferroviário. Essa situação tem sido reportada com frequência às autoridades públicas competentes, com pedidos de providência. Clientes, colaboradores e o próprio serviço continuam sendo onerados por roubos, furtos e vandalismos, que afetam, especialmente, a regularidade da operação", afirmou por meio de nota.
A empresa também destacou que de acordo com o contrato de concessão, a segurança pública é uma obrigação do Estado e que os agentes da SuperVia não têm poder de polícia e acionam os órgãos competentes para as ocorrências. 
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"Os criminosos que forem pegos extraindo materiais do sistema ferroviário, ou praticando qualquer ato que destrua ou danifique a linha férrea total ou parcialmente, podem responder pelo crime de perigo de desastre ferroviário (art. 260 do Código Penal), e receber a pena de reclusão, de dois a cinco anos, e multa", completou a companhia.
A PM alegou que o Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) atua em toda malha ferroviária fluminense em seus mais de 270 quilômetros e mais de 100 estações de passageiros, em doze municípios do Estado. Segundo a corporação, o batalhão atua em patrulhas no perímetro externo e no entorno das estações.

A corporação alega que prende, todos os dias, inúmeros indivíduos que praticam roubo e furto sejam elas contra o patrimônio público ou privado e em quase todas as ocasiões há reincidência dos crimes pois, "os conduzidos são postos em liberdade logo após as Audiências de Custódia", o que segundo a PM, dá a certeza de impunidade.

A PM também destacou que esses crimes são cometidos, muitas vezes, por pessoas em situação de vulnerabilidade que se aproveitam da movimentação do policiamento ostensivo para realizar os furtos. A corporação também defendeu que, os crimes precisam de investigação para que os responsáveis pelos roubos sejam identificados assim como os receptadores dos materiais.
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Ainda de acordo com a Polícia Militar, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), mostram que, em um comparativo de janeiro a abril entre os anos de 2020 e 2021, houve queda de 19,4% no total de furtos no Estado do Rio de Janeiro.