Delegado Maurício Demétrio chega à sede da Corregedoria da Polícia Civil, no CentroREGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA

Por Yuri Eiras
Rio - A denúncia do Ministério Público que aponta o delegado Maurício Demétrio como 'capo' de um grupo que cobrava propina de comerciantes em Petrópolis cita a aquisição de veículos de luxo como forma de lavar o dinheiro das extorsões. Demétrio e outros policiais civis foram presos na quarta-feira (30) na operação 'Carta de Corso'. Ele foi denunciado por pedir dinheiro de comerciantes de produtos piratas da Rua Teresa, em Petrópolis, enquanto esteve à frente da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial (DRCPIM), entre 2018 e 2021.
Na denúncia, o Ministério Público cita que, nos últimos dois anos, Maurício Demétrio adquiriu uma Range Rover/Evoque modelo 2016, um Toyota Hilux SW4 modelo 2009, e uma Mercedes-Benz 350 modelo 2015. Para o MP, o delegado "converteu recursos espúrios provenientes, direta ou indiretamente, da prática de crimes de concussão em ativo lícito em ativo lícito mediante a aquisição" dos veículos. Nenhum deles está em seu nome no cadastro do Detran-RJ - o primeiro está vinculado a Verlaine, esposa de Demétrio.
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"Para efetivar a dissimulação de recursos oriundos dos crimes de concussão que pratica em contexto de criminalidade organizada, o denunciado os empregou para a aquisição de ativo lícito, um veículo automotor, fraudando por omissão dolosa o registro de propriedade junto ao órgão de trânsito", diz o MP.
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Na quarta-feira, ao chegar preso à Corregedoria da Polícia Civil, no Centro, Demétrio afirmou que todos os veículos foram comunicados à Corregedoria, assim como foram declarados os pacotes de dinheiros encontrados em seu apartamento, na Barra da Tijuca. "O dinheiro foi declarado no Imposto de Renda, inventariado, meus carros foram comunicados à Corregedoria. Foi uma retaliação, com certeza, capitaneada pelo Gaeco. Vou recorrer à Justiça. A Justiça resolve", afirmou Demétrio.
"A diligência que o Gaeco me acusa de ser retaliação foi mandado pelo Ministério Público. Não existe nada forjado, se fosse forjado aquelas camisas não estavam lá", diz Demétrio.
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MP: Delegado tentou atrapalhar as investigações
O delegado Maurício Demétrio tentou atrapalhar as investigações do Ministério Público entregando aparelhos telefônicos errados e danificados, segundo denúncia do MP.
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No dia 12 de março, Maurício Demétrio usou a função de delegado titular da DRCPIM para forjar uma operação. Ele prendeu em flagrante um colega, o delegado Marcelo Machado, por fabricar roupas piratas. Machado, que era quem justamente o investigava na Corregedoria da Polícia, era também sócio de uma confecção de camisetas e foi acusado injustamente de comercializar produtos piratas. Para dar conteúdo à investigação, Demétrio se passou por Ana, uma suposta representante de uma ONG que ajuda crianças carentes, e encomendou mil camisas com a estampa do personagem de animação 'Minion'.
Alfredo Baylon, sócio de Machado na confecção de camisetas, prestou depoimento ao MPRJ, e descobriu que Ana, na verdade, era Demétrio. No dia 19 de março, após a operação forjada, o Ministério Público foi até a DRCPIM, na Cidade da Polícia, para recolher os aparelhos telefônicos apreendidos na ação. O grupo de Demétrio entregou dois, mas nenhum deles era o celular que continha as conversas entre 'Ana' e Alfredo, sócio da empresa de confecções, ao lado de Machado. Além de tentar ludibriar o Ministério Público, Demétrio entregou os aparelhos telefônicos "dentro de um saco plástico transparente, fechado com grampos similares aos utilizados em grampeadores de papéis, sem que tivessem acompanhados da descrição da cadeia de custódia", segundo a denúncia.
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Três dias depois, já sabendo das investigações do Gaeco, Demétrio entregou o celular correto, mas danificado. "Estranhamente, nenhum dos dois aparelhos pôde ser ligado pelos experts, que também não admitiam recarga de energia, indicativo de ato deliberado de destruição de evidências". Com autorização judicial, o Gaeco descobriu que o telefone estava funcionando normalmente até o momento de sua apreensão. "Ambos apresentavam o mesmo tipo de dano, incompatível com o uso ordinário".
"Tais elementos de prova corroboram de forma robusta a conclusão de que Mauricio Demétrio deliberadamente danificou o aparelho com o intuito de destruir evidências que o prejudicariam, em especial o diálogo de Whatsapp entre 'Ana' e Alfredo (sócio da confecção junto com Marcelo Machado), cujo conteúdo conhecia [...] e que sabia que estaria arquivado no aparelho, configurando novo e grave ato de obstrução de
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Ao apurar quem era o responsável pelos pedidos de encomenda das camisas dos 'Minions', o Ministério Público observou, através das Estações Rádio Base (ERBs), que o aparelho foi utilizado nas cercanias da casa do delegado, localizada em um condomínio na Barra da Tijuca.