A Justiça determinou a reintegração de posse em terreno da Petrobras em Itaguaí, na Região Metropolitana do RioEstefan Radovicz / Agência O Dia

Por Yuri Eiras
Rio - Líder da ocupação que sofreu reintegração de posse na última quinta, em Itaguaí, Wellington da Silva é conhecido como Erick Vermelho. O nome foi escolha própria - "fácil de escrever". O Vermelho veio na juventude, quando uma professora observou que seus poemas tinham forte teor social. "Ela me perguntou se eu tinha algum comunista na família. Eu respondi 'não, meu pai é relojoeiro e minha mãe é cartomante'. Ela disse: 'você que é o vermelho da família, então'".
Em maio, Vermelho ajudou a iniciar a ocupação do terreno da Petrobras em Itaguaí, que tinha mais de 3 mil famílias cadastradas até quinta-feira (1), quando a Polícia Militar desocupou a área. Ele foi preso na última sexta-feira por associação criminosa, e solto após fiança. Agora, garante que a população que vivia no local irá se reagrupar e ocupar outros espaços.
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"Vamos novamente pra luta. Não vamos desistir", diz Vermelho. "A única coisa que pode nos fazer desistir é dar moradia, emprego, vacina, assistência. Coisa que não há. Nossa vida era muito melhor quando estávamos acampados. O campo de refugiados não era nossa opção. Fomos levado para aquilo", completa.
A Justiça determinou a reintegração de posse em terreno da Petrobras em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio. A área fica em frente ao antigo Boteco Cadena, no bairro Ponte Preta, na Avenida Deputado Octávio Cabral, e foi ocupada por centenas de famílias no início de maio. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
A Justiça determinou a reintegração de posse em terreno da Petrobras em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio. A área fica em frente ao antigo Boteco Cadena, no bairro Ponte Preta, na Avenida Deputado Octávio Cabral, e foi ocupada por centenas de famílias no início de maio.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
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Vermelho conta que a ocupação em Itaguaí, instalada no terreno onde seria um pólo químico da Petrobras, foi fruto de um contato feito por moradores de uma outra ocupação, a dos Jesuítas, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. O militante diz ter sido procurado pela experiência de gerir ocupações. Organizados via Whatsapp, famílias de diferentes lugares chegaram ali no dia 1º de Maio, e se multiplicaram ao longo das semanas seguintes. 
"Surgiram de pessoas de outras nacionalidades que entraram no grupo, e nós recebemos. Nossas cozinhas, mantidas por geradores, davam quatro refeições diárias para as pessoas, a partir de doações de movimentos. Tínhamos banheiros químicos limpos, coletivo de horta, que estava bem avançado, reciclagem de lixo. Nós tínhamos serviços que prefeituras nunca conseguiram fazer".
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Exatamente dois meses após a ocupação, policiais militares do Batalhão de Choque chegaram ao terreno para cumprir a reintegração expedida pela 2ª Vara Cível de Itaguaí - o retorno à Petrobras foi autorizado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). PMs lançaram bombas de efeito moral e balas de borracha. Parte da população reagiu, mas a ocupação foi encerrada.
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"Se assemelha à destruição de Canudos", compara Vermelho, em referência ao território comunitário liderado pelo líder religioso Antônio Conselheiro em 1896, posto abaixo no ano seguinte pelo Exército. No episódio, boa parte dos aldeados morreu.
As famílias que viviam em Itaguaí receberam colchões, kits de limpeza e estão abrigadas temporariamente em uma escola municipal de Itaguaí. Ocupantes afirmaram que há falta d'água na escola, mas garantem que estão sendo bem tratados pela prefeitura de Itaguaí.  O governo do estado realizou um cadastro e deve inscrever a maioria delas no SuperaRJ, programa de auxílio emergencial que prevê R$ 200 mensais, mais R$ 50 para cada filho, desde que limitado a dois por família.
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Na sexta-feira, dia seguinte ao conflito, Erick Vermelho foi preso em flagrante. "Não fui preso no dia porque não facilitei. Já que eu estava dentro da terra e o helicóptero estava dando rasante, resolvi ficar de longe, orientando. No dia seguinte, fui à escola, quando chegou um grupo de policiais civis, com o delegado, e me deu voz de prisão em flagrante", afirma Erick. Ele foi solto à noite, após pagar fiança. Durante o dia, ocupantes estiveram na porta da 50ª DP (Itaguaí) pedindo a liberdade do representante. Em nota, a Polícia Civil informou que o flagrante foi "sob acusação de esbulho possessório, desobediência, parcelamento indevido de solo urbano e associação criminosa".
Vermelho garante que os ocupantes irão reagrupar em um outro local, em breve. "Nós construímos uma comunidade onde as pessoas estavam muito melhores do que antes (da ocupação), e muito melhor do que agora (alocadas nas escolas). A ideia de se reagrupar é necessária. Tudo nos leva à certeza disso", garante o representante.
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O que diz a Prefeitura de Itaguaí
Na quinta, a secretaria de Assistência Social de Itaguaí realizou um levantamento e estimou que 930 pessoas vivam na ocupação, que cresceu em pouco mais de dois meses. O município abrigou 350 pessoas, entre crianças e idosos. A pasta afirmou que, na maioria dos casos, as famílias têm moradia alugada e emprego de carteira assinada, e "alugaram seus imóveis para morar no assentamento". A maior parte das pessoas são oriundas dos bairros da capital vizinho a Itaguaí, como Campo Grande e Santa Cruz.