Investigações apontam que traficantes do Complexo do Salgueiro cruzam a Baía de Guanabara para fornecer drogas para Paquetá Fábio Costa/Ag.O Dia

Rio - Foi através de embarcações clandestinas que a criminalidade cruzou a Baía de Guanabara para acessar Paquetá. A implantação da narcomilícia na ilha carioca, como O DIA divulgou na segunda-feira (19), foi feita por traficantes do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, conforme apontam as investigações da 5ª DP (Mem de Sá). O inquérito policial, que a reportagem teve acesso com exclusividade, mostra ainda que além de estarem monopolizando atividades comerciais e extorquindo a população local, os bandidos também instalaram bocas de fumo.
Em julho de 2020, a distrital descobriu que traficantes do Comando Vermelho (CV), oriundos de Itaóca, no Complexo do Salgueiro, eram os responsáveis por fornecer as drogas que estavam sendo vendidas em Paquetá. A conexão aconteceu após Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, antigo líder do conjunto de favelas gonçalense, querer expandir seus negócios e lucrar em outras regiões.
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Segundo a polícia, a curta distância entre os dois lugares facilitou essa expansão, já que a Ilha de Paquetá é mais perto de São Gonçalo do que de outros bairros do Rio.
"Eles transportam as drogas em botes, saindo do Salgueiro, a viagem dura no máximo dez minutos", disse o delegado Bruno Gilaberte, titular da 5ª DP.
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De acordo com as investigações, um dos seguranças de Rabicó, identificado apenas como Biel Carreirinha, teria sido o escolhido pela liderança para fazer o transporte.
"Você tem hoje lá como o principal chefe do tráfico, o Biel Carreirinha, que teoricamente é segurança do Rabicó, chefe do Salgueiro. Ele que faz a interligação das drogas do Salgueiro para Paquetá, seria o principal elo entre a associação local da ilha e o chefe, que fornece as drogas. O Biel acaba ficando muito mais no Salgueiro, para fazer a guarda do Rabicó, mas também temos apurado relatos de que o Rabicó também passeia entre as duas ilhas", explicou Gilaberte.
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Além do transporte de drogas feito de forma clandestina, os criminosos também usariam as barcas que saem da Praça XV, no Centro do Rio, em direção a Paquetá, para traficar. Conforme apuração policial, três pessoas, entre elas dois homens e uma mulher, também levariam os entorpecentes pelo transporte tradicional.
"Eles basicamente usam as barcas, as vezes, para fazer transporte de drogas, transportam em mochilas, bolsas, esse tipo de coisas. Mas a proximidade em relação a São Gonçalo, faz com que a criminalidade de Paquetá tenha poucos reflexos na área do Centro", afirmou o delegado.

Vinte suspeitos já foram identificados
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A Polícia Civil descobriu que as drogas vindas do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, são distribuídas, principalmente, em três pontos de venda de drogas em Paquetá: Morro do PEC e imediações das ruas Tomás Cerqueira e Manoel de Macedo.
Ao longo das investigações, a 5ª DP apurou que, atualmente, o tráfico na ilha é composto por 20 suspeitos, entre eles, seis mulheres. O chefe do grupo é um homem identificado apenas como Pierre. Testemunhas que temem se identificar contaram aos agentes que o suspeito é conhecido por ser 'dono' de Paquetá e insinua estar armado.
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Os agentes também apuraram que para embalar as drogas para a revenda, os criminosos chegaram a invadir uma casa de veraneio.
A Polícia Militar informou que nos últimos 12 meses, Paquetá registrou 16 prisões por associação ou tráfico de drogas. "Neste período foram apreendidos 4 pés, 148 trouxinhas, 18 filetes e 2 tabletes de maconha; 488 pinos de cocaína; 80 sacolés de haxixe e R$366,95 em espécie", disse a corporação, em nota.