Tiago Marques de Oliveira se emociona ao deixar a prisãoReprodução

Rio - Foi solto, no início da tarde desta quinta-feira, Tiago Marques de Oliveira, de 28 anos. Ele estava detido no presídio Tiago Teles de Castro Domingues, em São Gonçalo, desde domingo. Tiago Marques de Oliveira havia sido preso após confronto entre policiais militares e traficantes do Morro do Salgueiro, na Tijuca, no último sábado. Desde então, a família lutava pela soltura, alegando inocência de Tiago, que foi apontado, pelos policiais, como um dos traficantes da região envolvidos na troca de tiros. 

"Se nós não tivéssemos recursos de imediato para contratar um advogado, ele provavelmente estaria preso até agora. Seria mais um caso de injustiça na sociedade do Rio. As pessoas de poder aquisitivo baixo, as classes menos favorecidas, não têm voz; tanto que não tivemos acesso ao Tiago, só por meio do advogado. Mas e quem não tem condições de contratar um advogado, como fica?", diz Alexandra Maria Marques, de 50 anos, tia de Tiago.
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Ela acompanhou a soltura do sobrinho:
"Ele está muito abalado ainda. E disse que, dentro do presídio, há várias pessoas passando pela mesma situação que ele enfrentou. Mas essas pessoas são pobres, não têm condições de contratar um advogado".

Segundo Alexandra, uma das provas que contribuíram para a soltura de Tiago foi a documentação encaminhada pela empresa em que ele trabalha, como a folha de ponto, com registros diários de início e término do expediente. Ela conta que a empresa presta serviço para uma escola particular na Barra da Tijuca, onde Tiago trabalha como estoquista:

"Isso mostrou ao juiz que ele não era traficante. Mas é importante dizer que não é porque ele tinha um trabalho que é homem de bem, pois há várias pessoas que estão desempregadas, principalmente na pandemia, e que são pessoas de bem. Tudo isso poderia ter sido evitado se, na delegacia, dessem atenção à documentação que ele apresentou, como a carteira de trabalho. Além disso, a ficha dele era limpa". 
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Durante a troca de tiros, Cleiton Teixeira da Silva, conhecido como "Belo", foi morto, e Fábio Dias Lopes, o Macarrão, foi baleado e preso. Segundo a PM, os dois são apontados como traficantes. Tiago e outra duas jovens, menores idade, também foram feridos. 
Manifestação da Justiça
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No alvará de soltura, a desembargadora Gizelda Leitão Teixeira, da 4ª Câmara Criminal do Rio, afirma que não há, no autos do processo, indícios mínimos de participação de Tiago Marques de Oliveira no tráfico do Morro do Salgueiro:
"Ora, exercendo o paciente atividade lícita desde o ano de 2012 devidamente comprovada pelas anotações constantes em sua Carteira de Trabalho; não constando de sua FAC qualquer anotação criminal, conforme consulta feita por essa relatora; estando presentes no local (um bar de propriedade de um familiar, próximo ao que houve o tiroteio), integrantes de uma mesma família, difícil acreditar que Tiago efetuasse disparos de arma de fogo, colocando em risco a vida do pai, de tios e primos, até porque não há nos autos indícios mínimos de participar o paciente do tráfico local e ali não reside há anos", diz trecho da decisão.
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A decisão chama atenção para a quantidade de disparos de fuzil feitos pelos policiais. Foram 63 tiros ao todo: 36 disparos feitos por um soldado PM e 27 efetuados por outro soldado PM. Todos de calibre 556.
Na apreciação da desembargadora, consta a informação de que, na 19ª DP (Tijuca), foi imputado a Tiago o crime de homicídio qualificado tentado. E que, segundo afirmaram os policiais da UPP do Salgueiro, um pistola 9mm com 11 munições intactas teria sido apreendida com ele. 
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Segundo o advogado Carlos Alberto Barbosa, que representa Tiago, os policiais militares forjaram provas para a prisão de Tiago. 
"Ele não estava no local onde os policiais disseram que ele estava. Ele estava num bar e não na boca de fumo onde houve o confronto. Isso é atestado por várias testemunhas. O Tiago, inclusive, foi ferido por estilhaços, assim como outras pessoas inocentes. Quando os policiais viram a besteira que fizeram, tentaram mudar a história. E prevaricaram", diz o advogado. 
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A prisão preventiva de Tiago foi convertida em medidas cautelares, como comparecimento em juízo a cada três meses, para informar eventual mudança de endereço residencial e fazer prova de atividade laborativa
lícita e proibição de ausentar-se do Rio sem prévia autorização do Judiciário. O processo segue em andamento.
Caso segue em investigação
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De acordo com a Polícia Civil, Tiago Marques de Oliveira foi preso em flagrante após ter sido conduzido por policiais militares à 19ª DP (Tijuca), e que, segundo relatado pelos PMs, ele teria participado do confronto. A unidade policial instaurou inquérito e o caso foi remetido para a Justiça, diz a nota da Polícia Civil.
A Polícia Civil informou que a delegacia continua investigando o confronto para averiguar todos os detalhes do episódio. E realiza diligências para apurar a dinâmica e os envolvidos na troca de tiros.
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Já a Polícia Militar informou que todas as circunstâncias da ocorrência estão sendo apuradas pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil e em Inquérito Policial Militar. E que os dois procedimentos apuratórios serão acompanhados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.