5ª DP (Mém de Sá)Reprodução / Google Street View

Rio - Policiais civis da 5ª DP (Mem de Sá) prenderam, na terça-feira (17) nove integrantes de uma quadrilha que aplica golpes de empréstimo bancário, conhecidos como "cessão de crédito", um contrato fraudulento de empréstimo sem envolvimento de instituição financeira. Todos foram autuados por estelionato e organização criminosa. Os policiais chegaram à quadrilha após uma das vítimas procurar a delegacia. As empresas usadas para o golpe somavam 63 registros de ocorrência em diversas delegacias do Rio. 
De acordo com a polícia, neste golpe, uma empresa convence a vítima – normalmente, um funcionário público – a fazer um empréstimo bancário, depositando o valor recebido na conta da pessoa jurídica. Em contrapartida, a firma se compromete a investir o valor recebido, e dar rentabilidade ao "cliente".
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Outra possibilidade de golpe que a quadrilha aplica, que pode ser combinada com a primeira, é que a empresa remunera, em média, a vítima com 10% do valor do empréstimo. Nas duas ações, a firma também se compromete a pagar as parcelas do empréstimo feito pela vítima dentro de certo prazo.

Para dar credibilidade ao golpe e simular um negócio jurídico legítimo, a empresa paga parte das parcelas, mas não o valor total. Dessa forma, a polícia informou que, a pessoa jurídica encerra suas atividades e o golpe continua com a criação de uma nova firma destinada ao mesmo fim. Em geral, o pagamento das parcelas iniciais dos contratos depende do aporte financeiro realizado por novas vítimas aliciadas.

Uma das vítimas prestou queixa na delegacia e relatou que, em junho deste ano, recebeu uma ligação de uma mulher que dizia ser possível juntar dois empréstimos em uma só prestação. Segundo as informações passadas no telefonema, havia possibilidade de optar pela manutenção do empréstimo, mas com uma prestação menor, ou receber um valor residual, devido à "baixa flutuação da taxa de juros" - o que foi chamado de "troco".

No dia seguinte ao telefonema, a vítima compareceu à sede da empresa, no Centro do Rio, onde foi recebida pela mulher que tinha feito o contato. "Outro funcionário da firma sugeriu que a vítima contraísse junto ao Banco do Brasil um empréstimo, o qual seria repassado a outra empresa. Com esse valor, a primeira companhia assumiria a prestação de um dos empréstimos e quitaria o valor. Um valor residual seria repassado à vítima, que poderia usá-lo para quitar o outro empréstimo. Pelo acordo, a empresa pagaria as prestações do empréstimo contratado com o banco", informou a polícia.

A vítima efetivou a contratação do empréstimo e depositou na conta da segunda empresa um valor de mais de R$ 100 mil, recebendo o valor residual de R$ 12.635,83. Com essa quantia, a vítima efetivamente quitou um dos empréstimos.

A empresa, contudo, deixou de pagar as parcelas dos outros empréstimos, e o funcionário parou de atender os telefonemas da vítima. A vítima ficou sem respostas até julho, após isso, um dos funcionários da empresa respondeu uma mensagem informando que os pagamentos dependeriam da retenção de uma margem de empréstimos e que, para isso, seria necessária a contratação de um novo empréstimo, com a mesma dinâmica do anterior. A vítima recusou e novamente deixou de ser atendida.

Ainda tentando resolver a situação, a vítima pediu para que a mulher com quem tinha falado intercedesse e ficou combinado para que retornasse à empresa na terça-feira (17) para discutir novas opções de pagamento. Desconfiado de uma possível fraude, a vítima procurou a delegacia, onde foi revelado que as empresas eram envolvidas em uma série de fraudes e que possivelmente ele havia sido vítima de um estelionato. Por conta disso, uma agente da delegacia se comprometeu a acompanhá-lo no encontro, ficando outros policiais aguardando nas imediações.

No local, os funcionários insistiram na necessidade de um novo empréstimo, com formulários e contratos apresentados à vítima. Nesse momento, os policiais foram acionados, entraram na empresa e todos foram detidos. Na sede da firma foram apreendidos contratos, computadores e celulares, um dos quais pertencente à empresa e que tinha sido jogado no lixo, provavelmente com o objetivo de descartar provas. Enquanto as prisões eram realizadas, outras vítimas apareceram, relatando seus prejuízos.

Ao todo, 14 funcionários da empresa foram conduzidos à delegacia, mas cinco pessoas foram liberados por não haver comprovações sobre participação do golpe.