Mãe de Moïse Kabagambe presta depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC)Marcos Porto/Agência O Dia

Rio - Bastante abalada, a mãe de Moïse Kabagambe, Yvana Lay, compareceu nesta quarta-feira à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para prestar depoimento ao lado do advogado que acompanha a família do refugiado, Rodrigo Mondego. Na chegada, Mondego falou com a imprensa sobre a reação da mãe de Moïse ao assistir as cenas de barbárie contra o filho
"Eu vi o quão pesado foi para a mãe dele assistir aquela barbaridade. Ela não conseguiu dormir depois de assistir o sofrimento do filho naquele momento. A gente sabe que quem está dando paulada em que está desacordado não está revidando uma injusta agressão e nem tentando garantir uma legítima defesa", disse Mondego.
O refugiado congolês foi atingido com pelo menos 30 pauladas, além de uma série de agressões, com chutes e socos. Dez minutos depois, Moïse tem as mãos e pés amarrados por um fio e continua apanhando. Somente cerca de 30 minutos após as agressões é que o imigrante recebe uma massagem cardíaca, na tentativa de ser reanimado, mas não esboçou reação.
Para a defesa da família, é nítido que houve intenção de matar. "Se a pessoa se arrependeu depois e tentou fazer uma massagem cardíaca é outra questão. Tem que ser garantido o direito ao julgamento justo e a ampla defesa dos envolvidos", completou.
Na confissão de um dos agressores envolvidos, o criminoso alega que Moïse estava bêbado e teria feito o uso de drogas, além de ter ameaçado um idoso do quiosque. Para Mondego, houve uma tentativa de desqualificar a vítima ao levantar a ideia de que Moïse teria resultado a própria morte por estar embriagado ou tentado pegar uma cerveja dentro do freezer do quiosque. Nas imagens também não foi possível localizar o suposto idoso que o congolês teria brigado.

"Moïse era trabalhador, trabalhava na região, por conta da diária baixa, não ter direitos trabalhistas muitas vezes fazia com que ele dormisse no local de trabalho para não pagar as passagens de ônibus e ter mais dinheiro para levar para casa. Moïse não era um cara bêbado aleatório que estava tentando pegar cerveja, ele estava chateado por não ter recebido. Se porventura, no exercício arbitrário das próprias ações, queria pegar uma cerveja, não justifica o crime", concluiu.
Família recebe assistência da Prefeitura Rio e do Estado
A secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro, enviou nesta manhã uma equipe para visita domiciliar à família do congolês Moise Kabagambe. Estavam na casa cerca de 15 membros da família. Nos próximos dias, a Assistência Social realizará a inscrição no Cadastro Único da família de Moïse, que antes recebia auxílio emergencial. Também foram doadas cestas básicas. A mãe de Moïse, Yvana Lay, recebeu orientações quanto aos benefícios sociais e os serviços da Assistência Social aos quais têm direito.
A família também se encontrou com a Secretaria de Assistência à Vítima (SEAVIT) nesta manhã. Na visita, foram oferecidos os serviços da SEAVIT, que foram bem aceitos pela família. "Vamos fornecer atendimento médico e psicológico ao irmão mais velho, e através do projeto SEAVIT Kids, que atende crianças residentes das comunidades do entorno de Madureira, conseguimos inserir o irmão mais novo no Projeto de Artes marciais do 9° BPM (Rocha Miranda). Já providenciamos o kimono e, em breve, ele iniciará as aulas que acontecem em nosso Polo de Madureira".
Agressores estão presos
Os três homens presos pela morte do congolês Moïse Kabagambe foram transferidos, na tarde desta quarta-feira, para o presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio, onde passarão por uma triagem. Eles vão responder por homicídio duplamente qualificado — por impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel.