Ato de pais e aluno do Colégio Pedro II pela volta às aulas presenciais realizado em outubro de 2021Reprodução/TV Globo

Rio - O Conselho Superior do Colégio Pedro II (Consup) decidiu adiar a volta das aulas presenciais na instituição, que estava marcada para a próxima segunda-feira (7). Com isso, o modelo híbrido está mantido com os alunos indo ao colégio a cada 15 dias. No dia 25 de fevereiro, haverá uma nova reunião para decidir as condições do ensino.
A decisão gerou debate nas redes sociais, já que os colégios privados e os públicos, municipais e estaduais, estão tendo aulas 100% presenciais. Muitos dos responsáveis e alunos não concordam com a medida tomada pelo Consup. Outros, entendem que o risco de contaminação dos adolescentes e crianças devem impedir o retorno.
Ainda em outubro, houve um protesto de alunos e responsáveis pela volta do modelo presencial. Vânia Marrara, 56 anos, é mãe de uma aluna do colégio de 15 anos. Ela entende que o estudo remoto prejudica o aprendizado dos alunos. 
"Eu acho uma lástima continuar o ensino híbrido. Ele passa matéria, mas não ensina. O ensino híbrido não treina, não pratica. É diferente de um professor dentro da sala de aula, uma dúvida aparecer na hora e o aluno perguntar. É um ensino distante. Então, eu acho uma lástima porque, por interesses políticos, estão comprometendo a educação. Os alunos estão vacinados", ponderou.
Outra mãe de aluna que se mostrou contrária à decisão foi Tayana Mussalem, 38 anos. Sua filha tem 7 anos e está na fase de alfabetização. Tayana reclama do prejuízo à saúde mental dos alunos. 
"Já está mais do que na hora de voltar. Até porque praticamente todo mundo já foi vacinado, os professores, os funcionários, as crianças estão sendo vacinadas... Então, eu fico muito preocupada com a saúde mental das crianças. Isso tem afetado elas, inclusive minha filha. Não aguenta mais aula online, fica desmotivada. Ela está aprendendo a ler e escrever, acho muito importante ter aula presencial e o contato com outras crianças. Então, sou contra a decisão. Estamos numa fase mais controlada da pandemia. Até as escolas do município já voltaram", disse.
Estudantes do Colégio Pedro II também reclamam do manutenção do ensino híbrido. Arthur Marinho, 17 anos, esteve na reunião da Consup e não concordou com a forma como foi conduzida.
"O CP2 foi de um colégio que dava orgulho a toda a comunidade escolar para vergonha. A não volta às aulas é um retrocesso, eles não nos oferecem o alto padrão educacional. Na reunião da Consup, dia 2, foi muito triste ver como os conselheiros e reitores trataram essa reunião que decidia sobre o destino da educação de milhares de jovens. O próprio Reitor disse que estava dirigindo durante a reunião, que estava "subindo a Serra" e poderia ter problemas de conexão com a internet. Para o colégio, ensino híbrido é ter aulas de reforço 1 vez por semana no contra turno sendo que cada aula tinha somente 30 minutos."
Entre os professores, também há o entendimento de que as condições atuais possibilitam a volta. Um dos profissionais, que preferiu não ser identificado, falou que se sente constrangido ao falar com os alunos sobre o tema. "A maioria dos professores que eu tenho contato acredita que poderíamos ter voltado desde que começou o esquema vacinal e os casos de covid-19 caíram no Rio de Janeiro. Muitos de nós estamos constrangidos com os alunos e entendemos que o colégio passou do ponto. Damos total apoio a todas as reinvindicações que os alunos e os pais estão fazendo. Inclusive, muitos de nós trabalhamos no particular normalmente, tomando os cuidados devidos. Falo para meus alunos que tenho vergonha por ter que trabalhar desse jeito..."
O professor também entende que a falta de orçamento também atrapalhou a volta das aulas presenciais. "O colégio também demorou a tomar procedimentos por falta de dinheiro, porque passou por perdas de orçamento. Há 2 ou 3 anos que já passa por essa perda de orçamento. Isso prejudicou um pouco a modificação das estruturas", contou.
O infectologista Luiggi Miguez Dantas explicou que cuidados devem ser necessários, mas apoia a volta das aulas presenciais. "Sou totalmente a favor do retorno às aulas. Com a cobertura vacinal e as medidas de precaução, pode-se voltar sim. Até porque não tem sentido outras atividades estarem liberadas e a escola não. O que precisamos é reforçar a vacina para as crianças", destacou.
O governo municipal também se mostrou contrário ao adiamento. Os secretários de educação e de saúde, Renan Ferreirinha e Daniel Soranz, publicaram um vídeo criticando a decisão tomada pelo colégio. "Não por falta de condições sanitárias que eles (Colégio Pedro II) não estão retomando as aulas, mas, sim, por falta de orçamento, por falta de novos concursos de professores. Não faz nenhum sentido, hoje, nenhuma instituição de ensino não retomar suas atividades presenciais por conta da pandemia", disse Daniel Soranz.
Além disso, o prefeito Eduardo Paes fez duas publicações nas redes sociais se mostrando contrário ao mantimento do sistema híbrido de educação.
Alguns usuários rebateram a opinião do prefeito e se posicionaram a favor do adiamento. Os principais argumentos são a falta da vacinação completa dos alunos e o risco de contaminação. 
 
Em publicação no seu perfil oficial, o colégio informou que a decisão reiterou o posição adotada em dezembro, por meio da Portaria 2.389/2021. Nela, há os critérios utilizados para o retorno pleno em relação a situação sanitária em decorrência da pandemia de covid-19. Também era previsto o retorno para o dia 7 de fevereiro caso as condições sanitárias do dia 20 de dezembro fossem mantidas, o que não aconteceu. Dentre os critérios descritos na Portaria, há transição do modelo de acordo com as cores das bandeiras do Mapa de Risco de covid-19 do Estado do Rio de Janeiro. O retorno pleno é motivado por 15 dias ininterruptos de bandeira verde. Caso haja, após o retorno pleno, a bandeira amarela ou laranja por 1 semana, o colégio volta ao modelo semipresencial.
Em nota, o Colégio Pedro II ressaltou que da 52ª semana epidemiológica para a 53ª, houve um aumento de 1.193 casos para 133.263 no estado do Rio de Janeiro. Além disso, lembra que ocorreu um surto de gripe na cidade. Segundo a instituição, o surto da Ômicron se estenderá até o final de fevereiro. Em relação à vacinação, também será cobrado o comprovante dos alunos, a menos que um indivíduo apresente restrições à vacina. 
"Desde o início da pandemia, a gestão do Colégio Pedro II, em todos os níveis, tem acompanhado e pautado suas decisões por informações e evidências científicas. Logo, o aumento exponencial de casos e as consequências sociais já observadas não poderiam ser ignoradas nesse momento e ensejam novas reflexões sobre o retorno do ano letivo de 2021", diz o Colégio Pedro II em um trecho da nota.
* Estagiário sob supervisão de Tamyres Matos