Imagens mostram como ficou estamparia após deslizamento na Chácara Flora, em PetrópolisReprodução/Redes Sociais

Rio - A cidade de Petrópolis ultrapassou, nesta quarta-feira, a triste marca de 200 mortes após a tragédia que assolou o município serrano e destruiu centenas de famílias. Em nove dias de buscas, 204 corpos foram encontrados e 188 deles já foram identificados no Instituto Médico Legal (IML). São 124 mulheres, 80 homens, e entre eles, 39 menores de idade. Há ainda dez despojos, sendo que 7 já foram liberados e entregues à funerária. O número de desaparecidos diminuiu de 69 para 51. Desde o dia 15 de fevereiro, o Corpo de Bombeiros trabalha incansavelmente, dia e noite, para encontrar as dezenas de desaparecidos.
Ainda segundo a Polícia Civil, 180 corpos já foram liberados e entregues à funerária; 2 foram liberados e estão à disposição da funerária e 6 aguardam familiares para preenchimento de documento de óbito.
Um dos últimos corpos encontrados estava no Rio Quitandinha, onde dois ônibus com dezenas de passageiros foram carregados por uma enxurrada de água e lama. A vítima, um homem de 50 anos, ainda não identificado, pode ser uma dessas vítimas que estavam no ônibus, que afundou nas águas da enchente na altura da Rua Washington Luiz. 
Muitos animais também já foram resgatados dos escombros. Nesta quarta-feira, nove dias depois dos deslizamentos, um gato foi resgatado com vida pelos bombeiros. Bastante debilitado, mas se mexendo, o animal foi retirado da lama na Rua Sargento Boening, uma das áreas mais afetadas com as chuvas. O resgate do animal trouxe vida em meio a tantas outras vidas perdidas.
Desde o início das buscas, a Coordenadoria de Bem-Estar Animal (Cobea) de Petrópolis resgatou mais de 200 animais que estavam em áreas afetadas pelos deslizamentos. Os animais estão sendo levados para lares temporários cadastrados pela prefeitura. Os feridos foram levados para clinicas que estão trabalhando de forma voluntária e tratando esses animais.
Histórias que emocionaram o país
Entre as tristes histórias que impactaram o país está a história de Giselli Carvalho e Gizelia de Oliveira Carminante, que perderam a filha de 1 ano e mãe; e a filha adolescentes de 17 anos, respectivamente. As vítimas estavam em casa, no Morro da Oficina, quando morreram abraçadas e soterradas pela lama que desceu da encosta
Maria Eduarda Carminate Carvalho, de 17 anos - Reprodução/Redes Sociais
Maria Eduarda Carminate Carvalho, de 17 anosReprodução/Redes Sociais
Giselli, mãe da bebê Helena, contou que demorou nove anos para conseguir engravidar pois queria estar preparada para assumir a responsabilidade. A criança iria ganhar uma festa de aniversário esse ano e havia acabado de entrar na escolinha. Giselli estava no trabalho no momento da tragédia. Em casa, estava a sua mãe, Tânia Leite Carvalho, de 55 anos, responsável por cuidar da criança durante o dia, e a sobrinha Maria Eduarda Carminate Carvalho, de 17 anos.
A história da avó e neta, também localizadas no Morro da Oficina, repercutiu. Os corpos de Celi Miranda Maria, de 86 anos, e Maria Eduarda Miranda Sant’Anna Alves, de 17 anos, foram encontrados pelo Corpo de Bombeiros no fim da tarde desta terça-feira (22). Elas foram soterradas pelo grande volume de lama e entulho que desceu do alto do morro.
Corpo de Bombeiros encontra corpo de Maria Eduarda Miranda Sant’Anna Alves e da avó no Morro da Oficina, em Petrópolis - Reprodução/ Redes Sociais
Corpo de Bombeiros encontra corpo de Maria Eduarda Miranda Sant’Anna Alves e da avó no Morro da Oficina, em PetrópolisReprodução/ Redes Sociais
A madrasta de Maria Eduarda disse que a jovem sabia que precisava subir para o segundo andar para tentar se salvar, mas se recusou a sair do lado da idosa, que é acamada e não poderia subir as escadas da casa. O pai da menina passou a tarde desta terça-feira acompanhando as buscas. 
Reconstrução da cidade e suporte às vítimas da tragédia
O Ministério do Desenvolvimento Regional autorizou, na noite desta terça-feira, a liberação de até R$ 70 milhões para dar início à primeira fase do plano de reconstrução de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Em Brasília, o governador do Rio, Cláudio Castro, apresentou ao Rogério Marinho o andamento dos estudos e projetos básicos para intervenções estruturais e de construção de unidades habitacionais para as vítimas das fortes chuvas que atingiram a cidade.
Diante da necessidade de remoção de moradias em áreas de risco e do número de desabrigados, o Ministério do Desenvolvimento Regional definiu que não haverá limitação de recursos. Com base no número de pedidos de Aluguel Social, estima-se que serão necessárias mais de 1 mil unidades habitacionais.
"A prefeitura e o governo do estado vão buscar os terrenos, mas não há restrição de orçamento ou limite do número de unidades", garantiu o ministro.
Atualmente a cidade contabiliza 867 desabrigados. Eles foram acolhidos em 13 escolas públicas que se encontram sob a responsabilidade da secretaria municipal de assistência social. Na segunda-feira (21), o prefeito Rubens Bomtempo anunciou ter fechado um acordo com o governador fluminense Cláudio Castro para elevação do valor do aluguel social. Ficou decidido que o auxílio será de R$ 1 mil por família, sendo R$ 800 pagos pelo estado e R$ 200 pelo município. Pessoas que estão alojadas nas escolas serão automaticamente cadastradas como beneficiários do aluguel social.

O aluguel social é um benefício cujo objetivo é permitir que as famílias possam alugar quartos ou casas temporariamente. A prefeitura também cadastrará os desabrigados no programa do Cartão Imperial. "Esse benefício, no valor de R$ 70, é pago mensalmente a mais de quatro mil famílias e tem como objetivo o complemento de renda para a compra de alimentos", informa o município.
Maior tragédia da cidade de Petrópolis

O temporal que desabou em Petrópolis foi apontado pelo governo do Rio de Janeiro como a pior chuva na cidade desde 1932. Segundo o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, choveu 258,6 milímetros em apenas 3 horas.  Os números já fazem da tragédia a maior da história da cidade. Uma outra catástrofe ocorrida devido às chuvas deixou 171 mortos em 1988. Já em 2011, 73 moradores de Petrópolis perderam a vida em meio a temporais que caíram sobre a região serrana, atingindo mais fortemente as cidades de Teresópolis e Nova Friburgo.