O ex-PM Ronnie Lessa no dia em que foi preso, em março de 2019 Arquivo O Dia

Rio - O ex-PM Ronnie Lessa, acusado de executar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, é um dos alvos da operação 'Florida Heat', realizada nesta terça-feira pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF), contra o tráfico internacional de armas. O mandado contra ele foi cumprido na Penitenciária de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, onde ele está preso desde março de 2019. Até o momento, três pessoas foram presas no Brasil.
Além de Lessa, que já estava preso, os agentes prenderam Ilma Lustosa, 88 anos, e o filho dela, Victor Souza Oliveira, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. Na casa de Ilma, a quadrilha usava uma impressora 3D para terminar de montar o armamento, que posteriormente eram distribuídos para traficantes, milicianos e assassinos de aluguel, segundo a PF.
Nos Estados Unidos, três pessoas foram avisadas dos mandados judiciais expedidos pelas autoridades brasileiras e aguardarão processo de extradição ou transferência de processo para os EUA a fim de que lá respondam por seus atos.
A entrada do armamento no Brasil se dava através de rotas marítimas (contêineres) e aéreas (encomenda postal) pelos estados do Amazonas, São Paulo e Santa Catarina e tinham como destino final a residência de Ilma. De acordo com a PF, o material era guardado dentro de equipamentos como máquinas de soldas e impressoras, despachados juntamente a outros itens como telefones, equipamentos eletrônicos, suplementos alimentares, roupas e calçados.
Durante a ação, os policiais apreenderam uma espingarda, duas pistolas, munições, celulares, mídias, documentos, relógios e joias.
Agentes saíram para cumprir sete mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão na capital fluminense; em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e em Miami, nos EUA. A 1ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro também determinou o sequestro de bens, avaliados em cerca de R$ 10 milhões.
Durante a ação, os policiais prenderam um homem, ainda não identificado, e apreenderam relógios, jóias, armas, celulares e um colete a prova de balas da Polícia Federal.

As investigações, que já duram cerca de dois anos, descobriram a existência de um grupo responsável pela compra de armas de fogo, peças, acessórios e munições nos EUA e, posterior, envio ao Brasil.
O dinheiro para a compra do armamento era enviado do Brasil para os EUA através de doleiros. Foi identificado um brasileiro, dono de churrascarias em Boston, que recebia parte desse dinheiro e repassava para os alvos residentes nos EUA.

O grupo investia o dinheiro adquirido com o tráfico de armas em imóveis residenciais, criptomoedas, ações, veículos e embarcações de luxo. Ao longo da investigação, foram apreendidos milhares de armas, peças, acessórios e munições de diversos calibres, tanto no Brasil, quanto nos EUA.
Os acusados vão responder pelos crimes de tráfico internacional de armas, organização criminosa e lavagem de capitais.
A ação teve o apoio da Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI) da Embaixada dos Estados Unidos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ) e da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro dos Macacos.
STJ nega pedido da defesa de Lessa
Nesta segunda-feira, o ministro Rogério Schietti Cruz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou o pedido de absolvição da defesa de Lessa. A vereadora e o motorista foram mortos na noite do dia 14 de março de 2018, em uma emboscada quando passavam de carro pelo Centro da cidade.
A defesa de Lessa entrou com recurso pedindo a absolvição sumária do ex-policial, alegando não haver provas do envolvimento dele. Para o ministro, existem razões concretas o suficiente tanto para negar a absolvição sumária solicitada quanto para submeter Lessa ao tribunal de júri.
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz já haviam sido denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como os assassinos de Marielle e de Anderson. Lessa e Queiroz, que se encontram presos em penitenciárias federais fora do estado do Rio, ainda não têm data marcada para irem a júri popular.