Família acusa PM por disparo que matou o aposentadoMarcos Porto/Agência O Dia
"Meu pai gostava de curtir a vida. Ele gostava de acampar, ele gostava de pescar, ele gostava de beber a cervejinha dele, ele gostava de fazer um bom churrasco, churrasqueiro de primeira. Ele gostava de sair com a família, praia, cachoeira, todo tipo lazer que você imaginar, ele gostava. O importante para ele era estar perto das filhas dele, dos netos, da mulher", contou a filha de Valteles, Tatiana Oliveira. Emocionada, ela lamentou a maneira como o pai foi morto.
"Eu fiquei sem chão, eu perdi meu alicerce. Ele era meu tudo. Meu pai, meu herói, minha vida. Se eu pudesse eu trocava de lugar com ele. Eu preferia, do que estar passando por isso. Eu sei que um dia ele ia falecer, mas por idade, por doença, não dessa forma cruel que tiraram a vida do meu pai. Meu pai não merecia isso, ele não fazia mal para ninguém. Ele era uma pessoa honesta, trabalhadora. Tudo o que eu sou hoje na vida, eu agradeço a ele, pela educação que ele me deu."
Os disparos também atingiram a esposa do aposentado e uma sobrinha de 17 anos. As duas foram encaminhadas para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo. Rosane Rosa Maia Oliveira, de 54 anos, foi baleada no braço e no tórax. Apesar do estado de saúde estável, ela corre o risco de perder o movimento dos braços e da mão, de acordo com a filha. Já a jovem foi ferida na perna e recebeu alta.
De acordo com a Polícia Militar, uma equipe do 7º BPM (São Gonçalo) foi atacada a tiros por criminosos, durante um patrulhamento nas proximidades da BR-101, na altura do bairro Recanto das Acácias, provocando um confronto. Após os disparos, três suspeitos foram socorridos para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat). O trio não resistiu. Na mesma noite, os PMs foram informados que dois baleados deram entrada no Pronto Socorro de São Gonçalo, sendo elas Rosane e a adolescente.
Os militares ainda foram acionados para verificar uma pessoa ferida na região onde o tiroteio aconteceu e no local, encontraram o aposentado sem vida. Entretanto, a versão foi contestada pelos familiares, que acusam os militares pelo disparo que matou Valteles e alegam que não havia confronto no momento, mas que os policiais entraram atirando na comunidade. A sobrinha relatou que a vítima foi atingida por três tiros, um deles acabou atravessando o peito do aposentado e atingindo sua perna.
"Eu estava em frente de casa com meu tio e minha tia e do nado começou os tiros. Eu vi ele tomando um tiro e não consegui correr, fiquei paralisada. Ele tomou outro tiro, que pegou em mim, e a minha tia tomou dois tiros, também. Foi muito chocante ver meu tio morrer na minha frente e os policiais nem para ajudar. Ele poderia ter se salvado e eles nem aí. Eu só queria justiça", disse a adolescente, abalada.
Em nota, a Polícia Militar informou que as investigações estão sendo conduzidas pelas delegacias da região e colabora com todos os trâmites. "As armas dos policiais envolvidos na ocorrência já foram disponibilizadas à perícia. Em paralelo, como de praxe em todas as ações que ocasionam óbitos, o comando da corporação instaurou um procedimento apuratório interno para apurar as circunstâncias dos fatos", completou a nota.
Valteles deixa esposa, quatro filhas e seis netos. "Ele sempre brincava assim: "vou na sua casa, vai fazer o que para a gente almoçar?". Agora, quem vai brincar, me diz? Quem vai brincar com os meus filhos? Quem vai puxar a minha orelha? Ele sempre fez questão de estar ali presente. Se a gente errasse alguma coisa: "não, vamos corrigir", se eu precisasse de alguma ajuda: "vamos te ajudar". Estou angustiada", lamentou Tatiana.
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