Na megaoperação de terça-feira (24), os feridos foram levados ao Hospital Getúlio VargasMarcos Porto / Agência O Dia

Rio - Entidades de defesa dos direitos humanos criticaram a megaoperação policial na Vila Cruzeiro que terminou com 25 mortos, na última terça-feira (24). Em número de mortes, essa foi a segunda mais letal da cidade do Rio de Janeiro.
Para o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel, a ação que terminou com tantas mortes foi “mais uma dessas operações de caçada humana, que não resolvem nada do ponto de vista da segurança pública e que na verdade traz mais problemas, uma vez que as famílias das vítimas ficam nesse fogo cruzado e se sentindo inseguras dentro das suas próprias casas, sem poder trabalhar, sem poder estudar, sem acessar a saúde.” A Defensoria afirmou ainda que recebeu relatos de moradores pedindo socorro e que o clima na região era de desespero, angústia e muito medo.
Segundo ele, esse tipo de operação, que não seria naturalizada nos bairros nobres da cidades, jamais poderia ser naturalizado dentro das favelas. Pimentel explicou ainda que o foco da Defensoria, agora, é o acolhimento das famílias das vítimas e a garantia do acesso jurídico.
O procurador da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB-RJ, Rodrigo Mondego, disse a entidade vai oficiar o Instituto Médico Legal para que se possa ter uma noção exata do número de mortes: “Existem denúncias e algumas informações desencontradas que nos levam a crer que esse número de 24 mortes pode ser ainda maior. Mas independente disso, o que essa ação na Vila Cruzeiro mostra é que no Rio a política de segurança pública é sob a ótica da chacina. Mata e pronto.” Segundo ele, essa prática, em ano eleitoral, serve para beneficiar quem tem o discurso da bala e defende segurança pública da morte.
Em nota, a ONG Human Rights Watch disse que o Rio precisa de uma nova política de segurança pública. “Lamentamos que mais uma vez uma operação policial no Rio de Janeiro tenha resultado na morte de pelo menos 11 pessoas no Complexo da Penha. Os moradores passaram horas de terror. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e o Ministério Público Federal deveriam investigar imediata e exaustivamente as circunstâncias de cada morte e de cada ferido, além da motivação e plano da operação. O Rio precisa urgentemente de uma nova política de segurança pública que não seja à bala".
A ONG Rio de Paz questionou: “Como considerar exitosa uma operação policial que resultou na morte de um morador de favela? Você e eu celebraríamos essa operação policial se a pessoa morta fosse um parente nosso? Por que o pobre tem de tolerar o que a classe média jamais toleraria?”

Em entrevista ao Dia, a vereadora Tainá de Paula (PT-RJ) afirmou que esteve na Vila Cruzeiro, na hora do confronto, e que ouviu relato de familiares e moradores dizendo que entre os mortos havia gente querendo se entregar, mas que mesmo assim foi morta: “Ninguém me contou, não. Eu estive lá das 10h às 14h e ouvi muitos desses relatos. Familiares afirmando textualmente que havia homens querendo se render e que mesmo assim foram sumariamente executados pelas forças policiais. A pena de morte foi instituída nas favelas? Isso é muito grave e nós vamos cobrar a correta perícia e investigação dos fatos”, disse, por telefone.
Em nota, o deputado federal David Miranda (PDT-RJ) afirmou que desde o início da operação cobrou o governador Cláudio Castro por um cessar-fogo que não aconteceu. "Os relatos que recebemos são estarrecedores: jovem morto com oito tiros de fuzil, ouvimos relatos de mortes a facadas, outro que foi alvejado às 4 da madrugada, conseguiu pedir socorro, mas só foi socorrido às 11h e não resistiu. É terrorismo do Estado. Não podemos mais aceitar isso", criticou David Miranda.
O governador Cláudio Castro usou uma rede social para comentar sobre a operação na Vila Cruzeiro. Segundo ele, a ação seguiu todos os protocolos estabelecidos pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas, e o Ministério Público foi devidamente comunicado. Em seu post, Castro reforçou que a operação teve como objetivo prender integrantes da maior facção criminosa do Rio e bandidos que vieram de outros estados. "Fora do império da lei e da ordem estão a barbárie e o banditismo. Não vamos permitir a anarquia no nosso estado."
 Também por rede social, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou o Bope e a PMERJ pela ação. "Parabéns aos guerreiros do Bope e da PMERJ que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa."