Jairinho acompanhou a sessão por videoconferênciaMarcos Porto

Rio - A audiência de instrução e julgamento do Caso Henry Borel desta quarta-feira (1) durou 12 horas no Tribunal de Justiça do Rio. Na sessão dois peritos médicos foram interrogados: o perito do Instituto Médico-Legal que fez a necropsia do menino, Leonardo Tauil, e o perito assistente contratado pela defesa de Dr. Jairinho, Sami El Jundi. A sessão extensa foi marcada por enfrentamentos entre o advogado Cláudio Dalledone e outras partes, inclusive com a juíza Elizabeth Machado Louro.
Jairinho e Monique Medeiros são acusados pela morte de Henry, filho de Monique, de quatro anos, em março de 2021. O processo corre no II Tribunal do Júri da Capital.
Na sessão de quarta-feira (1), a defesa de Jairinho tentou sustentar que Henry chegou vivo ao hospital. O interrogatório foi um pedido dos advogados do ex-vereador, que assistiu a sessão por meio de videoconferência de uma sala no Complexo de Gericinó, em Bangu, onde está preso. Uma audiência está prevista para o dia 13 de junho para que Jairinho seja interrogado, já que no dia 9 de fevereiro ele não respondeu às perguntas da audiência alegando fragilidades na perícia do caso e solicitando acesso a documentos para embasar sua defesa.
Segundo a depor, o perito Sami El Jundi afirmou que Henry morreu no hospital Barra D'or durante manobras de ressuscitação. Este entendimento é contrário ao do perito do IML Leonardo Tauil e de médicas da unidade que disseram que o menino já chegou morto à unidade.
Durante o interrogatório, Jundi argumentou que se as lesões fossem provocadas por agressões, deixariam grandes marcas de equimoses (hematomas), o que não aconteceu. A única lesão que ficou sem explicação para Sami foi uma na cabeça, que ele sugeriu que pudesse ter sido provocada por um eventual acidente, como uma queda de cama.
Já o perito do IML Leonardo Tauil reforçou que a causa da morte de Henry foi laceração hepática por ação contundente com hemorragia interna. Segundo o perito, entre 20% e 40% do volume sanguíneo do menino estavam acumulados em sua cavidade abdominal. O perito do IML que examinou o corpo de Henry descarta que a morte tenha sido causada por acidente doméstico.
"Baseado na literatura e no exame da perícia no local (no apartamento de Jairinho), não haveria possibilidade da lesão hepática por ação contundente ter sido provocada por acidente doméstico", afirmou Leonardo Tauil. O depoimento do perito começou às 11h e foi encerrado às 15h08.
O médico legista ressaltou ser muito difícil que quedas abaixo de 3,5 metros provoquem o tipo de laceração que causou a morte de Henry. "Eu afirmo que o trauma abdominal é de alta energia. É incompatível com uma queda da cama ou de um móvel do apartamento".

O perito também esclareceu que neste tipo de lesão, é possível que o paciente demore até desfalecer. "É possível que a criança tenha andando após o trauma. Não é uma dor lancinante. É possível que tenha sofrido a lesão e tenha caminhado, antes do falecimento", disse. Leonardo acrescentou que uma cirurgia poderia tratar esse tipo de lesão, a depender do tempo de socorro.

Ao ser interrogado, Tauil avaliou que o trismo (rigidez na mandíbula) de Henry identificada no hospital Barra D'Or, muito provavelmente tenha sido causada pela morte do menino. A defesa de Jairinho tenta sustentar que a criança ainda estava viva quando chegou ao hospital.

O perito afirmou ainda que as lesões da face no menino, registradas em uma fotografia, foram causadas por procedimentos médicos durante tentativa de salvamento.
O perito contratado pela defesa de Jairinho, Sami El Jundi analisou a necropsia e o prontuário médico de Henry e afirmou que o pulmão do menino estava colapsado e que as causas não constam na necropsia oficial do Instituto Médico-Legal. O assistente técnico apontou, em vários momentos de seu depoimento, incoerências no documento. Uma das críticas é de que a necropsia fala em abdômen plano, quando no prontuário médico diz que o abdômen da criança estava distendido.
Jundi também citou "pobreza de elementos descritivos do laudo" e que não encontrou o procedimento realizado por Leonardo Tauil, primeiro a depor nesta quarta-feira. O médico do IML reconheceu em seu depoimento que poderia ter sido mais detalhista no laudo, mas afirmou que priorizou os registros da causa da morte. Ele disse que pela quantidade de corpos que precisa examinar, seria impossível se deter aos detalhes de todas as lesões dos corpos.
Ânimos exaltados
Além de cansativa pelos interrogatórios extensos e técnicos, a audiência foi marcada por enfrentamentos. Pouco antes do intervalo de almoço, por volta das 15h, o advogado de Jairinho Cláudio Dalledone e a juíza Elizabeth Machado Louro protagonizaram um bate-boca. Na ocasião, a magistrada fazia perguntas ao perito do IML Leonardo Tauil e foi questionada sobre a legitimidade de sua conduta, o que a irritou.
Louro perguntou a Tauil se as três lesões na cabeça de Henry poderiam ter sido provocadas por uma queda. O perito respondeu que isso seria extremamente improvável, só se houvesse queda por três vezes em diferentes angulações. A juíza então comentou que "só se a cabeça da criança fosse uma bola de vôlei e ficasse quicando", o que foi criticado por Dalledone.
"Excelência, pela ordem. A senhora não pode tecer esse tipo de comentário", afirmou. A magistrada interveio e disse que não seria controlada pelo advogado em suas perguntas.
A juíza ameaçou retirá-lo da sala caso fosse interrompida mais uma vez. Dalledone rebateu que moveu uma ação de suspeição contra Elizabeth. Ao deixar a sessão, Cláudio afirmou que acionaria o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pela forma como a magistrada conduz o caso, questionando sua imparcialidade.
O interrogatório realizado por Dalledone também provocou protesto do advogado do pai de Henry Leniel Borel, que interveio pedindo mais objetividade da defesa. Cláudio Dalledone e Cristiano Medina da Rocha, assistente de acusação, chegaram a se aproximar em tom provocativo e policiais precisaram intervir.
O advogado também trocou farpas com promotores do Ministério Público após criticar que a promotora Bianca Chagas tenha feito um comentário com a juíza Elizabeth Machado Louro.
Ao chegar para a audiência, a defesa de Jairinho afirmou que aquele seria um dia de virada. A avó paterna do menino Henry, Noeme Carvalho, diz que a família não tem dúvidas de que o neto foi vítima de agressão. Ela pediu uma corrente de oração para que a Justiça seja feita. O pai do menino, Leniel Borel, foi ao Tribunal de Justiça acompanhar a audiência e reforçou que o filho foi vítima de agressão e chegou morto ao Barra D'or. Leniel acrescentou que se Monique e Jairinho tivessem informado o tipo de lesão sofrida por Henry, haveria mais chance de ele ter sido salvo no hospital.