O carnê era divulgado nas redes sociais para atrair clientesRede Social

Rio- O cirurgião plástico Bolivar Guerrero, preso na última segunda-feira (18) sob acusação de manter uma paciente em cárcere privado, atraía clientes nas redes sociais com promoções e facilidade na forma de pagamento. O médico possuía uma rede de divulgação que oferecia carnê para parcelamento dos valores para realização dos procedimentos.
A divulgação era realizada através de uma página do Facebook com o nome de 'Cirurgia plástica com o poderoso Bolivar'. Eles também disponibilizavam números para Whatsapp. De acordo com a propaganda, para o pagamento em carnê era necessário uma entrada no valor de R$ 1 mil, que já incluía a consulta. As parcelas poderiam ser pagas em até 12 vezes sem juros, e a operação só era realizada mediante ao pagamento total das parcelas. Além disso, as clientes também podiam optar por utilizar o cartão de crédito, podendo parcelar em até 10 vezes sem juros.


Na propaganda, ainda era garantido a devolução de parte do dinheiro em caso de desistência. “Se por acaso a paciente não conseguir pagar em um ano é só ir na clínica atualizar o carnê. E se por acaso você desistir será descontado apenas o valor da consulta e o dr. devolve seu dinheiro. Temos mais de 10 mil mulheres operadas pelo carnê”, dizia.
Cirurgião 'x-tudão'

No mês de maio, os divulgadores anunciaram uma promoção em homenagem às mulheres denominada "X-tudão", que incluía três procedimentos cirúrgicos, sendo abdominoplastia, mastopexia com ou sem prótese, mais lipo com enxertia.
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O carnê era divulgado nas redes sociais para atrair clientesRede Social


Vítimas

Após a prisão do médico, nove mulheres o denunciaram na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), em Caxias, por lesão grave. Algumas delas contaram que conheceram Bolivar através da internet.

Uma das vítimas, a autônoma Gedália Rocha, 57 anos, relatou que realizou duas cirurgias com o médico, uma abdominoplastia e uma mastopexia com prótese, mas que não teve resultado positivo em nenhuma.

“Eu encontrei ele através da internet, ele fazia uma propaganda danada, a primeira coisa que fiz foi uma abdominoplastia, que nao ficou boa, ficou torta, mas ele falou que isso acontece, e que era pra eu voltar 30 dias depois pra consertar e fazer o seio, operei no sábado, ele me deu alta domingo, quando foi na terça liguei e falei que meu seio tava ficando escuro, mas aí ele não respondia mais, e o meu seio foi dando pus, dando necrose, afundou uma parte do peito”, contou.

Uma outra paciente, que não quis se identificar, relatou que também conheceu o médico e a clínica através das redes sociais e que possui diversas sequelas das cirurgias.

“Eu fiz uma cirurgia em outubro de 2020, eu vim aqui porque vi na televisão e eu fui mais uma vítima dele, eu fiquei com várias sequelas da cirurgia, eu quero justiça! Eu conheci a clínica pela internet, no primeiro atendimento foi bom, mas quando eu terminei, ele e a secretária dele não tratava a gente como antes, até porque já tinha recebido o dinheiro, eu falei com ele que não tinha gostado da cirurgia e que não tava me sentindo bem, ele fez outra cirurgia, que ficou pior ainda, eu entrei em depressão, e depois disso falei para o meu marido que não ia fazer mais nada”, disse.

Prisão

O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso na última segunda-feira (18), acusado de manter a paciente Daiana Chaves, 36, em cárcere privado no Hospital Santa Branca por cerca de dois meses após um procedimento estético na barriga dela ter dado errado. 

Daiana foi transferida nesta quinta-feira (21) para o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio.
Na última terça-feira (19), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) manteve a prisão temporária do cirurgião durante a audiência de custódia. O médico nega todas as acusações.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Mas todos os procedimentos correm em sigilo.