Fachada do Presídio de Benfica, onde estão os presos na Operação Sol PoenteVanessa Ataliba/Agência O Dia/ Arquivo

Rio - A mulher que deu um golpe milionário na mãe e outras três pessoas, entre elas duas falsas videntes, serão transferidas, nesta quinta-feira (11), para o presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio. Antes de ingressarem no sistema penitenciário, os presos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio. A filha da idosa, Rosa Stanesco Nicolau, Jacqueline Stanescos e Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger foram presos na quarta-feira (10), durante a Operação Sol Poente, da Polícia Civil, e passaram a noite na Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade, em Copacabana, na Zona Sul.
A audiência de custódia dos envolvidos ainda não tem data marcada. A Polícia estima que o golpe na vítima, de 82 anos, tenha sido de mais de R$ 700 milhões.
Na saída da especializada, nesta manhã, dois advogados que se apresentaram como defesa dos presos falaram sobre seus clientes. O advogado Sérgio Guimarães Vieira, que defende a filha da vítima, Rosa, a namorada da suspeita e Gabriel, filho de Rosa, disse que o caso pode sofrer uma reviravolta. Afirmou ainda que os bens não são somente da idosa.
"A história não é bem aquela, os bens não são somente daquela senhora. Tem um inventário e uma discussão judicial em andamento. Nesse inventário há diversos outros quadros que foram omitidos pela idosa", diz Sérgio.
Já Horácio Cariello, que defende a segunda falsa vidente, Jacqueline Stanescos, negou que ela tenha tido ligação com o golpe. Também na entrada da especializada, ele disse que sua cliente não atendeu a idosa. Alegou ainda que Jacqueline foi vítima de uma armação, ao ter seu nome citado pelas outras presas. "Ela não fala com a prima há 15 ou 20 anos. Elas brigam ferrenhamente e a prima deu o nome dela para prejudicá-la", disse.
Procurados
A Polícia Civil ainda faz buscas para prender outras duas pessoas envolvidas no golpe. Diana Rosa Aparecida Stanesco Vulet, uma das falsas videntes, foi a primeira pessoa a abordar a viúva no golpe. Ela se apresentou como vidente e disse que a filha da vítima teria um "mal incurável". Foi ela quem iniciou o golpe orquestrado para extorquir a idosa.
O segundo procurado é Slavko Vuletic, identificado como pai de Diana e padrasto da Rosa. Ele teria recebido em sua conta a quantia de R$ 5 milhões da vítima. O pagamento foi feito em uma dessas chantagens psicológicas praticadas contra a viúva.
Relembre o caso
Na manhã de quarta-feira (10), a Polícia Civil realizou a operação Sol Poente para prender integrantes de uma quadrilha que se apresentaram como videntes e roubaram de uma idosa cerca de R$ 725 milhões entre obras de artes, joias e dinheiro.
A operação ocorreu após a idosa, de 82 anos, viúva de um marchant (negociador de obras de arte), ter sido ludibriada pelo grupo que ofereceu tratamento espiritual para uma de suas filhas em troca de vultuosos pagamentos. Ao desconfiar que a ação fosse um golpe, a idosa não quis mais realizar as remessas de dinheiro, ocasião em que passou a ser mantida em cárcere privado, em seu apartamento na Zona Sul, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, pela própria filha. A idosa descobriu, então, que todo o golpe havia sido articulado pela filha, que também passou a vender obras de arte para uma galeria em São Paulo.
Durante o cárcere, a idosa era agredida pela filha, privada de comida e até chegou a ter uma faca colocada em seu pescoço para realizar a transferência de dinheiro.
Entre as obras levadas pela filha para a venda na galeria estavam 'O Sono', de Tarsila do Amaral; 'O menino', de Alberto Guignard; 'Mascaradas', de Di Cavalcanti; 'Maquete para o meu espelho'; de Antônio Dias; e 'Elevador Social'; de Rubens Gerchman. Duas obras foram vendidas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina, e ainda não foram recuperadas.
A investigação, realizada pela Deapti (Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade), intimou o responsável pela galeria em São Paulo que devolveu os quadros que não haviam sido vendidos, o que fez a idosa reaver cerca de 40% do valor desviado.